O dia amanheceu com o cheiro da chuva pairando no ar, as nuvens ainda carregadas no horizonte. Serena despertou com a mente embaralhada, a lembrança dos olhos prateados ainda vívida em sua memória. Tinha sido real? Ou apenas um devaneio causado pelo cansaço?
Tentando afastar a sensação estranha, levantou-se e seguiu sua rotina matinal. O aroma forte de café preencheu sua pequena casa enquanto ela se sentava à mesa, distraída, rolando o feed do celular sem realmente absorver o conteúdo. Mas sua mente insistia em voltar à noite anterior.
Quando chegou ao escritório, ainda se sentia inquieta. O prédio era moderno e minimalista, com paredes de vidro que permitiam a entrada de luz natural. Seus colegas já estavam em suas mesas, imersos em projetos e conversas. Laura, sua colega mais próxima, percebeu seu olhar distante.
— Você está bem? — perguntou, franzindo o cenho. — Parece que viu um fantasma.
Serena hesitou antes de responder:
— Não é nada. Só não dormi muito bem.
Laura estreitou os olhos, mas não insistiu. Sabia que Serena não era do tipo que compartilhava suas preocupações com facilidade.
A manhã transcorreu sem grandes incidentes, até que, por volta do meio-dia, o cheiro voltou.
Aquele mesmo aroma amadeirado, agora mais intenso, invadiu seu espaço como uma tempestade. Serena congelou, sua respiração presa na garganta. E então, como se atraída por um ímã, seus olhos foram até a entrada do escritório.
Lá estava ele.
O homem da noite anterior.
Vestia uma camisa escura, dobrada nos antebraços, e calças jeans escuras que realçavam sua presença dominante. Seus cabelos eram negros como a noite, ligeiramente desgrenhados, e seus olhos prateados a prenderam no lugar.
Ele não desviou o olhar, atravessando a recepção sem hesitar, como se soubesse exatamente onde encontrá-la.
Serena engoliu em seco quando ele parou diante de sua mesa.
— Precisamos conversar — sua voz era baixa, firme, carregada de algo que a fez estremecer.
O coração de Serena disparou.
Ela não sabia quem ele era, mas tinha certeza de que sua vida jamais seria a mesma depois desse encontro.
O silêncio entre eles era carregado de eletricidade. Serena sentia o olhar de Dominic cravado nela, como se pudesse ver além da sua fachada de calma aparente.
— Quem é você? — sua voz saiu mais firme do que esperava.
Os lábios dele se curvaram em um sorriso enigmático.
— Dominic. — Ele fez uma pausa, como se esperasse que o nome tivesse algum efeito sobre ela. — E você é Serena.
Ela se enrijeceu. Como ele sabia seu nome?
— Precisa que me escute — continuou ele, inclinando-se levemente. — Não é seguro para você continuar aqui sozinha.
Serena riu, cruzando os braços.
— Você está brincando? Me perseguindo pela noite e agora aparecendo no meu trabalho? Parece que sou mais segura sem você por perto.
Dominic suspirou, mas seus olhos prateados brilharam, intensos.
— Você não entende, Serena. Você está sendo caçada. E eu sou o único que pode impedir isso.
Serena sentiu um arrepio percorrer sua espinha. As palavras de Dominic ecoaram em sua mente: Você está sendo caçada.
Ela cruzou os braços, tentando manter uma expressão firme, mas seu coração martelava contra o peito.
— Isso é ridículo. Por que alguém estaria atrás de mim? Eu não sou ninguém importante.
Dominic observou-a em silêncio por um instante, como se ponderasse até onde poderia ir com aquela conversa. Então, deu um passo à frente, inclinando-se ligeiramente sobre sua mesa, e Serena sentiu novamente aquele aroma amadeirado e intenso invadindo seus sentidos.
— Você pode achar que sua vida tem sido discreta, Serena, mas seu sangue conta uma história diferente.
Ela piscou, confusa.
— Meu… sangue?
Dominic assentiu, a expressão sombria.
— Você não faz ideia de quem realmente é. Nem do que significa ser um ômega como você.
Serena riu, mas a insegurança em sua voz a traiu.
— Eu sei exatamente quem eu sou. Vivo minha vida tranquilamente, trabalho, pago minhas contas e não me envolvo com matilhas. E você, um estranho, aparece do nada e quer me dizer que minha vida inteira foi uma mentira?
Os olhos prateados de Dominic brilharam com algo que ela não conseguiu decifrar.
— Não é tão simples. Há aqueles que a querem… e não pelos motivos certos.
O estômago de Serena revirou. Ela queria acreditar que aquilo era um jogo, uma brincadeira estranha de um alfa controlador tentando intimidá-la. Mas algo na forma como ele falava, na tensão sutil em seu maxilar, dizia que ele não estava mentindo.
— Quem? — sua voz saiu mais baixa do que pretendia.
Dominic hesitou por um breve segundo. Então, finalmente respondeu:
— Os caçadores.
A palavra pairou no ar como uma maldição, carregada de algo ancestral e perigoso.
Serena sentiu seu corpo reagir antes mesmo que sua mente processasse. Seu peito subia e descia rapidamente, a respiração curta. Ela já tinha ouvido histórias sussurradas sobre caçadores – aqueles que perseguiam lobisomens como se fossem feras a serem exterminadas. Mas eram apenas mitos… não eram?
— Isso é loucura — murmurou, desviando o olhar. — Essas histórias não passam de lendas.
Dominic franziu a testa, e quando falou de novo, sua voz estava mais baixa, quase um sussurro.
— Você acha que estou mentindo? Então olhe ao seu redor, Serena. Veja se não percebe os sinais. O cheiro estranho no ar, a sensação de estar sendo observada, a inquietação que tem te acompanhado. Isso não é coincidência.
O coração de Serena apertou. Ele estava certo. Desde a noite anterior, ela sentia algo errado, como se algo a perseguisse nas sombras.
Ela passou a língua pelos lábios, a mente girando.
— E o que você quer de mim?
Dominic ergueu uma sobrancelha, como se a resposta fosse óbvia.
— Quero te manter viva.
O silêncio entre eles se alongou, carregado de algo desconhecido. Serena queria rejeitar tudo aquilo, ignorar e seguir com sua vida como sempre fez. Mas uma parte dela sabia que, a partir do momento em que viu aqueles olhos prateados na floresta, não havia mais volta.
Dominic lhe oferecia uma escolha e ela precisava decidir rápido.
Mas afinal de contas, deveria ela confiar em um completo estranho?