A madeira range sob meus pés enquanto subo as escadas estreitas que levam ao sótão. A porta está fechada. Tranco-me por dentro.
Ali, o ar é denso. Tem cheiro de poeira, papel velho e silêncio. A luz entra por uma pequena claraboia embaçada, espalhando um brilho opaco pelas caixas empilhadas, pelos móveis cobertos por lençóis, pelos cantos escuros onde minha infância talvez ainda more.
Meus dedos tremem quando puxo a primeira caixa.
Dentro, fotos soltas. Algumas antigas, da escola, do Natal, da minha formatura. Meu rosto sorrindo para câmeras que não lembro de ter visto. E então, mais fundo — um envelope pardo com meu nome escrito à mão: Marina L. Ramires