O dia clareava lentamente, mas a tensão dentro do asilo parecia se acumular com a mesma intensidade de uma tempestade prestes a estourar. Eu estava no quarto dos medicamentos, sozinha, tentando organizar caixas e frascos com uma concentração que não existia. Minhas mãos tremiam, não por nervosismo, mas por tudo que acontecia por dentro — aquela mistura incerta de raiva, desejo e confusão que não me deixava em paz.
Foi quando ele entrou.
Otávio apareceu sem aviso, fechando a porta atrás de si com um leve estalo. Seu olhar frio e controlado se fixou em mim, como se eu fosse um desafio — uma ameaça, ou talvez uma tentação que ele não conseguia recusar.
Eu respirei fundo, deixando sair tudo de uma vez, porque não aguentava mais o jogo dele.
— Você me usa e depois finge que não existo — minha voz saiu firme, cortante, quebrando o silêncio pesado.
Ele deu um passo lento, se aproximando até que o espaço entre nós parecia carregado de eletricidade.
— Não quero te machucar — disse, baixo, mas