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1.3 - Dez horas de viagem

Depois de mais de dez horas de viagem, o cansaço começou a pesar. A estrada estava vazia, cortando a escuridão da noite. O farol do carro iluminava as linhas intermináveis da pista, e o único som era o ronco do motor e o som monótono da borracha deslizando sobre o asfalto.

Meu corpo estava exausto, mas minha mente ainda estava acelerada. Eu tentava não pensar, não sentir, apenas seguir em frente. Mas não importava quanto tempo passasse, as imagens do que eu deixava para trás ainda estavam nítidas na minha cabeça. A voz de minha mãe, cheia de incredulidade. O olhar de meu pai, cheio de preocupação. E Gabi, com aquele abraço apertado, tentando me manter ali, mesmo sabendo que não podia.

Eu olhei para o relógio do carro. Já era tarde, bem tarde. Mais de dez horas de estrada, e ainda faltavam pelo menos sete para chegar ao meu destino final. Eu sabia que não ia conseguir continuar dirigindo por tanto tempo sem parar, sem cair de sono.

Foi quando vi um pequeno letreiro à beira da estrada, iluminado fraco por uma lâmpada amarelada. "Hotel de Estrada - Pernoite." Uma opção simples, mas necessária naquele momento. Eu precisava de uma pausa. Um lugar onde eu pudesse descansar, desligar um pouco e voltar a me concentrar.

A rua estava deserta, sem mais nada além de árvores e campos escuros ao redor, mas o hotel parecia acolhedor, mesmo sendo simples. O letreiro piscava sem parar, quase pedindo para eu parar.

Estacionei o carro com cuidado, apagando o motor e saindo para esticar as pernas. A brisa da noite estava fresca e silenciosa, e ao longe, eu podia ouvir o som de grilos e o farfalhar das folhas. O lugar tinha aquele charme rústico de um hotel de beira de estrada: uma entrada simples, portas de madeira e janelas com cortinas brancas que tremulavam com o vento.

Entrei na recepção, que tinha um cheiro misto de madeira e café. O recepcionista, um homem de meia-idade com um sorriso simpático, me olhou por cima dos óculos e pediu meu nome.

— Só uma noite — disse, tentando manter o tom o mais leve possível. A última coisa que eu queria era que alguém me perguntasse mais do que eu estava disposta a responder.

Ele fez o registro rapidamente e me entregou a chave de um dos quartos. Eu assenti com um agradecimento e segui até o meu quarto. Era simples, como eu esperava: uma cama de casal com um edredom grosso, uma mesa de cabeceira com uma lâmpada e um pequeno banheiro. O lugar tinha o cheiro de um velho hotel, mas algo nele parecia... confortável. Pelo menos aqui eu poderia descansar, até que a estrada me chamasse novamente.

Deitei na cama com os olhos fixos no teto. A sensação de estar sozinha, de estar tão distante de tudo e de todos, me invadiu de uma maneira que não esperava. Meus pensamentos começaram a girar, mas não consegui segui-los. O cansaço tomou conta de mim de uma forma pesada, e antes que eu percebesse, os olhos se fecharam.

O peso da viagem, o peso da decisão, e o peso de tudo o que estava deixando para trás. Mas, por um momento, parecia que tudo o que eu precisava era de um pouco de descanso.

Eu sabia que, quando acordasse, ainda teria mais sete horas de viagem pela frente. Mas, por agora, o que eu mais precisava era de um pouco de paz.

O banho quente foi exatamente o que eu precisava. A água que caía sobre minha pele parecia derreter o cansaço, afastando a tensão que se acumulava nos meus ombros. O cheiro de sabonete e o vapor que subia deixaram a sensação de estar, finalmente, um pouco mais perto de estar em paz. Fechei os olhos por um instante, permitindo que o calor me envolvesse, como se fosse um pequeno abrigo temporário contra tudo o que eu estava deixando para trás.

Saí do banheiro, enrolada na toalha macia, e vesti o pijama confortável que havia trazido — uma camisa de algodão grande e um short leve. Não queria nada que me apertasse, nada que me lembrasse das pressões lá fora. Coloquei meu cabelo em um coque bagunçado e me sentei na cama, com um suspiro profundo, sentindo o lençol gelado tocar minha pele.

Olhei pela janela do quarto, que estava escura, sem a menor luz visível por perto. Era tão tranquilo ali, tão distante da minha rotina frenética e das expectativas que eu carregava. Talvez fosse isso que eu realmente precisava: um intervalo para pensar, para não ser quem todos achavam que eu deveria ser. Mas eu sabia que, eventualmente, o mundo me chamaria de volta. A vida não esperaria.

Peguei o telefone, procurando por algo simples e reconfortante. Resolvi pedir algo para o serviço de quarto, um jantar simples para não precisar sair. Não estava com fome, mas sabia que precisaria de algo no estômago antes de cair no sono. Pedi uma sopa quente e uma porção de pão com manteiga, o tipo de refeição que me faria sentir que estava cuidando de mim mesma, mesmo que por um momento.

Antes de deitar, abri o W******p e mandei uma mensagem rápida para Sofia e Leandro, meus amigos de longa data. Apesar da distância, ainda os considerava uma das minhas maiores fontes de apoio. Eu precisava que soubessem onde eu estava, que tivesse algum tipo de conexão, mesmo que virtual, antes de me perder novamente na estrada.

Mensagem para Sofia: Oi, amiga. Já estou em viagem, ainda faltam umas sete horas, mas parei para descansar. Acabei de chegar a um hotel simples aqui na beira da estrada. Tá tudo bem, só um pouco cansada. Vou te mandando notícias. Beijo grande.

Mensagem para Leandro: Le, cheguei em um hotel, já passei 10 horas na estrada. Daqui a pouco volto a viajar, mas resolvi descansar um pouco. Vou atualizando vocês, mas por enquanto estou tranquila. Só exausta. Depois te conto mais. Abraço!

Deixei o celular de lado e me ajeitei na cama. As cobertas estavam aconchegantes, e a maciez do travesseiro foi um alívio para minha cabeça, que estava cheia de pensamentos. Fechei os olhos, e o som da estrada distante se tornou uma música suave que me embalou lentamente.

Tudo o que eu precisava era de uma noite de descanso. Só mais uma noite antes de retomar a jornada.

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