Mundo de ficçãoIniciar sessãoBeatriz
— Me desculpe… eu não queria te acordar. Só fui tomar uma ducha e pegar alguma roupa. A porta estava destrancada, então eu entrei... Marcelo sai do banheiro secando o cabelo com a toalha, e o cheiro dele invade o quarto como uma chama ardente, me deixando arrepiada. É uma fragrância suave, quente, um toque de sândalo que envolve tudo ao redor. Ele usa apenas uma bermuda cinza de cadarço preto; o peito nu, definido, ainda úmido. Perfeitamente belo. Sempre tão charmoso. E aquele olhar… aquele olhar que me despedaça e me consome ao mesmo tempo. Sinto meu rosto esquentar quando percebo o desejo nos olhos dele — e o pior é que eu correspondo. Tento disfarçar, mas algumas gotas deslizam do cabelo molhado dele e percorrem seu corpo, e minha respiração falha. Meu corpo implora para correr até ele, me jogar em seus braços e me perder no toque que conheço tão bem. Mas eu seguro meu impulso e volto para a realidade. — Não… não tem problema. Está tudo bem. Eu que esqueci de deixar roupas na sala pra você — respondo, tentando soar firme. Me levanto indo em direção ao banheiro. — Morena… vamos conversar… Ele diz quase num sussurro enquanto segura firme meu braço. O som da voz rouca dele percorre meu corpo inteiro. Fico trêmula, como sempre fico quando ele me chama assim. Seus olhos presos nos meus, a boca entreaberta… Ele se aproxima e solta meu braço apenas para pegar minha mão. Com delicadeza, guia minha palma até o peito dele, ainda quente e úmido, fazendo-me sentir seu coração acelerado. Fico paralisada. Sem reação. Como uma adolescente no primeiro encontro. Ele me encara profundamente... — Eu sei que errei, meu amor… Eu sei. Mas me perdoa, vai. Fui um idiota, um babaca por não valorizar a mulher e a família que eu tenho. Eu coloco vocês sempre em segundo plano e sei disso… Me perdoa. Eu não queria pedir o divórcio, não era minha intenção. Falei sem pensar… saiu no calor da raiva. Um turbilhão me invade... emoções, lembranças, mágoas, saudade. Tudo misturado. Ele se aproxima ainda mais, seus olhos castanho-mel cravados nos meus. Segura minha mão sobre seu peito o tempo todo. Com a outra, afasta meu cabelo que caiu sobre o rosto. Nossos olhares se encontram e o silêncio é tão intenso que consigo ouvir nossos corações. Então ele me puxa, cola seu corpo no meu e me beija... Um beijo suave, mas carregado de desespero. Eu correspondo. Cada movimento, cada toque. Ele solta minha mão apenas para me prender pela cintura, me envolvendo inteiro em si. — Minha morena pimenta… Eu não quero te perder. Eu não posso viver sem você — murmura entre nossos lábios, antes de se afastar lentamente e me abraçar forte. Fico sem palavras. Nunca o vi assim, tão vulnerável. Ele me segura com tanta força que quase tira meu fôlego. Sua mão desliza pela minha pele, e cada toque faz meu corpo se arrepiar. Uma indecisão cruel toma conta de mim. Eu não sei se paro… ou se me deixo ir. … — Pare, Marcelo. Por favor… eu não quero — digo ofegante. — Eu ainda estou magoada. Me solta, por favor. Estou muito confusa. Tudo que aconteceu não se resolve assim. — Poxa, Beatriz… eu me humilhei aqui pra você. Estou deixando meu orgulho de lado, voltei atrás, tô te implorando. Quer que eu me ajoelhe? ... —Bia, eu estou suplicando, meu amor. Não faz isso com a gente. Não desiste de nós. Não desiste de mim. Eu preciso de você. Eu te amo, Beatriz… Engulo seco. Sinto uma lágrima quente escorrer e limpo rapidamente. — Eu estou confusa… acho que não vai mais dar certo. Me dê um tempo. Às vezes, o que falamos na raiva é exatamente aquilo que guardamos há muito tempo. Eu sei que também te machuquei… estamos os dois feridos. Me dê um tempo, nos dê um tempo. Talvez… talvez isso nos una de novo — digo enquanto ele se aproxima mais, segurando meu rosto com as duas mãos. — Amor, me escuta… minha vida, por favor. Eu errei, falei besteira, mas não foi por mal. Eu não quero me separar de você. Você é o amor da minha vida. Vamos tentar de novo. Vamos viajar, sei lá… pro Sul, pra fora do Brasil, pra onde você quiser. Vamos tirar férias só nós dois. Não desiste de mim assim… por favor, Beatriz… — diz, com os olhos marejados. — Por favor, Marcelo… vai. Me deixa sozinha. Ele me solta devagar, respirando fundo. Vejo seus punhos se fecharem, a veia do pescoço pulsar forte... Então ele sai como um furacão, batendo a porta com força. … Já são quase três da manhã de sábado e eu não preguei os olhos. O amor da minha vida está na sala… E eu, presa ao meu orgulho, aqui no quarto. Levanto da cama, vou até o banheiro e encaro meu reflexo no espelho. Me assusto. — Nossa, Beatriz… você está um trapo — sussurro. Vou até a cômoda, pego um remédio para dormir, tomo e me deito.






