O sol atravessava a vidraça do quarto, espalhando desenhos dourados no chão de pedra polida. Clarice observava o brilho da luz com uma estranha sensação de calma — e inquietação. Algo dentro dela parecia desejar o mundo lá fora, como se os muros do quarto, por mais gentis que fossem, já estivessem se tornando um limite.
— Está pronta? — perguntou Dariane, médica da matilha, com um sorriso discreto e olhos observadores.Clarice hesitou.— Para sair andando?— Para viver, Clarice.Ela engoliu seco. Depois de três meses em coma, mais semanas de recuperação, e dezenas de olhares preocupados sobre ela, a ideia de andar livremente pelos corredores parecia grandiosa demais. Mas ela assentiu.Dariane entregou-lhe uma bengala leve, esculpida em madeira escura com runas delicadas entalhadas.— É só apoio. Sua força está voltando rápido. Seus músculos apenas precisam lembrar que têm propósito.Clarice se levantou devagar.