Mundo ficciónIniciar sesiónO quarto designado para Luna era grande demais, silencioso demais, confortável demais para alguém que tinha vindo de um apartamento de 30 metros quadrados. Ela deixou a bolsa sobre a cama, alisando o tecido macio do cobertor, sentindo o peso da nova realidade se instalar.
Helena, sempre impecável, abriu a porta do banheiro para mostrar-lhe o espaço.
— Toalhas limpas estão no armário. O senhor Valmont mantém horários rígidos de descanso para Elias. Hoje, você apenas o conhecerá. Sem exigir nada dele.
Luna assentiu.
— Alguma recomendação especial? — perguntou.
Helena pensou por um momento.
— Ele entende tudo — respondeu. — Mas fala nada. Não reage a nada. Não se aproxima de ninguém… desde o acidente.
O termo pairou no ar.
Acidente.
— Quando estiver pronta, vá até o corredor. O quarto dele é aquele com a estrela na porta.
Helena saiu, deixando Luna sozinha.
Por alguns instantes, ela ficou parada no meio do quarto, sentindo o coração bater forte. Não era medo. Era… antecipação. Algo desconhecido. Algo que mexia com partes dela que ainda estavam feridas.
Respirou fundo.
Saiu.
O corredor era longo e silencioso. As paredes eram de um branco impecável, iluminadas por luzes embutidas que tornavam a mansão ainda mais fria. A porta com a estrela azul estava entreaberta.
Luna bateu duas vezes, suave.
Nenhuma resposta.
Abriu devagar.
O quarto era aconchegante — ao contrário do resto da casa. Um tapete azul no centro, brinquedos organizados, uma estante cheia de livros infantis. Havia uma barraca de brincar no canto, e a cama tinha lençóis com estampa de planetas.
E, sentado no chão, com as pernas cruzadas, estava Elias.
Ele não levantou o rosto quando ela entrou.
Luna se aproximou devagar, mantendo distância. Ajoelhou-se ao lado da cama, para ficar na altura dele, sem pressionar.
— Oi, Elias — disse, com voz baixa. — Eu sou a Luna.
Silêncio.
— Seu pai me pediu para ficar aqui com você. Mas só se você quiser. Eu posso ficar quieta. Ou posso falar. Ou posso só… existir aqui perto.
O menino ergueu os olhos — lentos, grandes, sombrios. Um mar silencioso.
Luna sentiu o ar sumir por um segundo.
Ela sorriu, pequeno, sincero.
— Fiquei sabendo que você gosta de livros — murmurou. — Eu também gostava quando era pequena. Lia escondida até tarde. Às vezes com lanterna.
Nada.
Mas ele também não desviou o olhar.
Ela sentou-se no tapete, cruzou as pernas, mantendo uma distância respeitosa. Pegou um livro da estante — um infantil simples, com ilustrações grandes — e começou a folheá-lo, sem ler em voz alta.
— Só vou olhar — explicou. — Se você quiser vir ver também, tudo bem. Se não quiser… tudo bem também.
Um minuto passou.
Elias não se moveu. Mas ela percebeu algo pequeno: seu pé se inclinou na direção dela.
Um gesto mínimo. Mas significativo.
No hospital, pequenos gestos significavam tudo.
Luna deixou o livro no tapete entre eles.
— Eu realmente gosto daqui — disse, sinceramente. — Do seu quarto. Parece… seguro. Você construiu isso, né? Seu espaço.
O menino piscou, devagar.
Luna sentiu que aquilo era quase uma resposta.
Ela então se levantou, com cuidado.
— Vou estar no meu quarto — falou. — Se precisar de mim, é só bater na parede. Três vezes. Eu vou ouvir.
Virou-se para sair — e parou no instante em que sentiu um peso invisível no ar.
Alguém estava olhando.
Devagar, ela virou a cabeça.
No fim do corredor, meio oculto pela sombra da parede, estava Adrian Valmont.
Braços cruzados.
Observando tudo.
Observando ela.
Elias.
O momento.
O vínculo.
Luna engoliu em seco.
O homem não disse nada.
Mas havia uma pergunta escrita nos olhos dele.
E uma ameaça silenciosa também.







