CAPÍTULO 4 – O MENINO QUE NÃO FALA

O quarto designado para Luna era grande demais, silencioso demais, confortável demais para alguém que tinha vindo de um apartamento de 30 metros quadrados. Ela deixou a bolsa sobre a cama, alisando o tecido macio do cobertor, sentindo o peso da nova realidade se instalar.

Helena, sempre impecável, abriu a porta do banheiro para mostrar-lhe o espaço.

— Toalhas limpas estão no armário. O senhor Valmont mantém horários rígidos de descanso para Elias. Hoje, você apenas o conhecerá. Sem exigir nada dele.

Luna assentiu.

— Alguma recomendação especial? — perguntou.

Helena pensou por um momento.

— Ele entende tudo — respondeu. — Mas fala nada. Não reage a nada. Não se aproxima de ninguém… desde o acidente.

O termo pairou no ar.

Acidente.

Luna quase perguntou mais, mas lembrou-se das regras.

— Quando estiver pronta, vá até o corredor. O quarto dele é aquele com a estrela na porta.

Helena saiu, deixando Luna sozinha.

Por alguns instantes, ela ficou parada no meio do quarto, sentindo o coração bater forte. Não era medo. Era… antecipação. Algo desconhecido. Algo que mexia com partes dela que ainda estavam feridas.

Respirou fundo.

Saiu.

O corredor era longo e silencioso. As paredes eram de um branco impecável, iluminadas por luzes embutidas que tornavam a mansão ainda mais fria. A porta com a estrela azul estava entreaberta.

Luna bateu duas vezes, suave.

Nenhuma resposta.

Abriu devagar.

O quarto era aconchegante — ao contrário do resto da casa. Um tapete azul no centro, brinquedos organizados, uma estante cheia de livros infantis. Havia uma barraca de brincar no canto, e a cama tinha lençóis com estampa de planetas.

E, sentado no chão, com as pernas cruzadas, estava Elias.

Ele não levantou o rosto quando ela entrou.

Mas ela sentiu que ele sabia da presença dela.

Luna se aproximou devagar, mantendo distância. Ajoelhou-se ao lado da cama, para ficar na altura dele, sem pressionar.

— Oi, Elias — disse, com voz baixa. — Eu sou a Luna.

Silêncio.

— Seu pai me pediu para ficar aqui com você. Mas só se você quiser. Eu posso ficar quieta. Ou posso falar. Ou posso só… existir aqui perto.

O menino ergueu os olhos — lentos, grandes, sombrios. Um mar silencioso.

Luna sentiu o ar sumir por um segundo.

Ela sorriu, pequeno, sincero.

— Fiquei sabendo que você gosta de livros — murmurou. — Eu também gostava quando era pequena. Lia escondida até tarde. Às vezes com lanterna.

Nada.

Mas ele também não desviou o olhar.

Ela sentou-se no tapete, cruzou as pernas, mantendo uma distância respeitosa. Pegou um livro da estante — um infantil simples, com ilustrações grandes — e começou a folheá-lo, sem ler em voz alta.

— Só vou olhar — explicou. — Se você quiser vir ver também, tudo bem. Se não quiser… tudo bem também.

Um minuto passou.

Dois.

Cinco.

Elias não se moveu. Mas ela percebeu algo pequeno: seu pé se inclinou na direção dela.

Um gesto mínimo. Mas significativo.

No hospital, pequenos gestos significavam tudo.

Luna deixou o livro no tapete entre eles.

— Eu realmente gosto daqui — disse, sinceramente. — Do seu quarto. Parece… seguro. Você construiu isso, né? Seu espaço.

O menino piscou, devagar.

Luna sentiu que aquilo era quase uma resposta.

Ela então se levantou, com cuidado.

— Vou estar no meu quarto — falou. — Se precisar de mim, é só bater na parede. Três vezes. Eu vou ouvir.

Virou-se para sair — e parou no instante em que sentiu um peso invisível no ar.

Alguém estava olhando.

Devagar, ela virou a cabeça.

No fim do corredor, meio oculto pela sombra da parede, estava Adrian Valmont.

Braços cruzados.

O olhar escuro.

Imóvel.

Observando tudo.

Observando ela.

Elias.

O momento.

O vínculo.

Luna engoliu em seco.

O homem não disse nada.

Mas havia uma pergunta escrita nos olhos dele.

E uma ameaça silenciosa também.

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