CAPÍTULO 3 – O CONTRATO

O escritório de Adrian Valmont cheirava a madeira cara, couro e poder. Tudo ali era organizado demais, alinhado demais — como se o ambiente fosse uma extensão da alma dele: controlada, rígida, impecável.

Luna permaneceu de pé, as mãos entrelaçadas à frente do corpo, enquanto ele folheava um arquivo como se estivesse analisando um inimigo.

— Eu pesquisei seu nome — disse ele, sem levantar os olhos. — Naturalmente.

Luna sentiu o rosto esquentar.

Claro que ele pesquisou. Qualquer pessoa pesquisaria.

— Imagino que tenha encontrado… tudo — respondeu, mantendo a voz baixa.

Ele ergueu o olhar, finalmente encarando-a.

— “Enfermeira acusada de negligência na morte de um bebê.” — Ele recitou exatamente como estava no título da matéria. — Forte. Impactante. Conveniente.

Ela fechou os olhos por um instante.

— Eu não fiz nada errado — disse.

— Isso é irrelevante — Adrian rebateu. — O que importa é o que o mundo acha que você fez.

As palavras dele a atingiram como verdade cruel.

— Mas eu preciso saber — continuou Adrian — se você pretende trazer… problemas para dentro da minha casa.

Luna inspirou fundo.

Não choraria. Não diante dele.

— Eu só quero trabalhar — disse.

Ele a observou por longos segundos. Era impossível decifrá-lo. O rosto dele mal se movia. Era composto de sombras e contenção.

— Sente-se — ordenou.

Ela hesitou, depois obedeceu.

Adrian abriu a pasta sobre a mesa e deslizou um documento para ela.

— Antes que leia, quero que entenda uma coisa — disse. — Não estou procurando alguém para substituir minha esposa. Nem alguém para se aproximar do meu filho emocionalmente.

Luna ergueu o olhar.

— Mas quer alguém para cuidar dele.

— Quero alguém que ele não rejeite imediatamente — corrigiu. — E ele não rejeitou você.

Ele destravou o tablet e virou a tela para ela.

Luna viu sua própria foto.

Uma reportagem.

Flashes.

Pressão.

Rosto cansado.

E, no canto da foto… uma pequena mão tocando o vidro.

— Isso… — ela murmurou, sem acreditar. — Ele…?

— Elias — Adrian confirmou. — Essa foi a única reação significativa que ele teve em semanas.

Luna ficou em silêncio. A imagem parecia um soco no peito.

— Por quê? — ela perguntou, baixinho. — Ele nem me conhece.

— Crianças reconhecem coisas que adultos ignoram — Adrian respondeu, fechando o tablet.

Ele voltou ao contrato.

— Você ficará aqui em tempo integral. Moradia incluída. Regras rígidas. Nada de álcool. Nada de visitantes. Nada de explorar a casa. Nada de mencionar minha esposa. Nada de se aproximar de mim além do necessário.

Luna ergueu uma sobrancelha.

— Aproximar… do senhor?

Ele ignorou o comentário.

— Se quebrar qualquer regra, não apenas será demitida. Eu garantirei que ninguém a contrate novamente. Nunca.

A ameaça veio limpa, fria, objetiva.

Luna sentiu um arrepio percorrer suas costas.

Ela olhou para o contrato. Era extenso, mas justo. O salário era alto — absurdamente alto, considerando sua situação atual. O tipo de valor que poderia salvar sua vida.

E então pensou em Elias.

No menino silencioso.

Na mão pequena tocando a foto dela.

No gesto inexplicável.

Pensou no bebê que não conseguiu salvar.

E no vazio que isso tinha deixado dentro dela.

Respirou fundo.

— Eu aceito — disse. — Onde assino?

Adrian empurrou uma caneta.

Luna assinou.

Em silêncio, ele recolheu a pasta.

— Helena mostrará seu quarto — declarou. — E depois quero que conheça meu filho.

Ela se levantou, mas antes de alcançar a porta, ouviu:

— Senhorita Santiago.

Ela se virou.

Os olhos dele estavam fixos nela, escuros como tempestade.

— Não confunda minha necessidade com confiança — disse Adrian. — Aqui, quem define os limites sou eu.

Luna assentiu, sem recuar.

— E quem cuida do seu filho… serei eu.

O músculo do maxilar dele tensionou, como se não estivesse acostumado a ser respondido.

— Veremos — murmurou.

E ela saiu do escritório sentindo que, ao assinar aquele contrato, não tinha apenas aceitado um emprego — mas um duelo.

Entre ela e um homem que faria de tudo para manter o controle.

E entre ela e uma criança que talvez fosse a única capaz de desarmá-la completamente.

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