Mundo ficciónIniciar sesiónO escritório de Adrian Valmont cheirava a madeira cara, couro e poder. Tudo ali era organizado demais, alinhado demais — como se o ambiente fosse uma extensão da alma dele: controlada, rígida, impecável.
Luna permaneceu de pé, as mãos entrelaçadas à frente do corpo, enquanto ele folheava um arquivo como se estivesse analisando um inimigo.
— Eu pesquisei seu nome — disse ele, sem levantar os olhos. — Naturalmente.
Luna sentiu o rosto esquentar.
— Imagino que tenha encontrado… tudo — respondeu, mantendo a voz baixa.
Ele ergueu o olhar, finalmente encarando-a.
— “Enfermeira acusada de negligência na morte de um bebê.” — Ele recitou exatamente como estava no título da matéria. — Forte. Impactante. Conveniente.
Ela fechou os olhos por um instante.
— Eu não fiz nada errado — disse.
— Isso é irrelevante — Adrian rebateu. — O que importa é o que o mundo acha que você fez.
As palavras dele a atingiram como verdade cruel.
— Mas eu preciso saber — continuou Adrian — se você pretende trazer… problemas para dentro da minha casa.
Luna inspirou fundo.
— Eu só quero trabalhar — disse.
Ele a observou por longos segundos. Era impossível decifrá-lo. O rosto dele mal se movia. Era composto de sombras e contenção.
— Sente-se — ordenou.
Ela hesitou, depois obedeceu.
Adrian abriu a pasta sobre a mesa e deslizou um documento para ela.
— Antes que leia, quero que entenda uma coisa — disse. — Não estou procurando alguém para substituir minha esposa. Nem alguém para se aproximar do meu filho emocionalmente.
Luna ergueu o olhar.
— Mas quer alguém para cuidar dele.
— Quero alguém que ele não rejeite imediatamente — corrigiu. — E ele não rejeitou você.
Ele destravou o tablet e virou a tela para ela.
Luna viu sua própria foto.
E, no canto da foto… uma pequena mão tocando o vidro.
— Isso… — ela murmurou, sem acreditar. — Ele…?
— Elias — Adrian confirmou. — Essa foi a única reação significativa que ele teve em semanas.
Luna ficou em silêncio. A imagem parecia um soco no peito.
— Por quê? — ela perguntou, baixinho. — Ele nem me conhece.
— Crianças reconhecem coisas que adultos ignoram — Adrian respondeu, fechando o tablet.
Ele voltou ao contrato.
— Você ficará aqui em tempo integral. Moradia incluída. Regras rígidas. Nada de álcool. Nada de visitantes. Nada de explorar a casa. Nada de mencionar minha esposa. Nada de se aproximar de mim além do necessário.
Luna ergueu uma sobrancelha.
— Aproximar… do senhor?
Ele ignorou o comentário.
— Se quebrar qualquer regra, não apenas será demitida. Eu garantirei que ninguém a contrate novamente. Nunca.
A ameaça veio limpa, fria, objetiva.
Luna sentiu um arrepio percorrer suas costas.
Ela olhou para o contrato. Era extenso, mas justo. O salário era alto — absurdamente alto, considerando sua situação atual. O tipo de valor que poderia salvar sua vida.
E então pensou em Elias.
Pensou no bebê que não conseguiu salvar.
Respirou fundo.
— Eu aceito — disse. — Onde assino?
Adrian empurrou uma caneta.
Em silêncio, ele recolheu a pasta.
— Helena mostrará seu quarto — declarou. — E depois quero que conheça meu filho.
Ela se levantou, mas antes de alcançar a porta, ouviu:
— Senhorita Santiago.
Ela se virou.
Os olhos dele estavam fixos nela, escuros como tempestade.
— Não confunda minha necessidade com confiança — disse Adrian. — Aqui, quem define os limites sou eu.
Luna assentiu, sem recuar.
— E quem cuida do seu filho… serei eu.
O músculo do maxilar dele tensionou, como se não estivesse acostumado a ser respondido.
— Veremos — murmurou.
E ela saiu do escritório sentindo que, ao assinar aquele contrato, não tinha apenas aceitado um emprego — mas um duelo.
Entre ela e um homem que faria de tudo para manter o controle.
E entre ela e uma criança que talvez fosse a única capaz de desarmá-la completamente.







