Capítulo 4
Louise Brown O domingo amanheceu denso, arrastado, como se o tempo tivesse desacelerado apenas para me torturar com cada minuto que passava. Desde que aceitei a proposta de James, minha cabeça não teve um segundo de paz. Eu mal conseguia pensar em outra coisa. E então, perto das dez da manhã, o celular vibrou com uma notificação, ao ver que era mensagem dele, meu corpo todo estremeceu. James Bellerose — Estarei na sua porta às oito. Esteja pronta. Simples. Objetivo. Irrefutável. Meu estômago se contraiu. Cada palavra que ele escrevia parecia uma ordem. E, estranhamente, meu corpo obedecia antes mesmo que eu pensasse sobre. A tarde passou como um borrão. Preparei o almoço para minha tia, ajudei com os remédios, limpei a cozinha. Tudo no automático. Por volta das sete da noite, me tranquei no quarto. Abri o guarda-roupa e encarei minhas roupas, como se esperasse que alguma peça saltasse dali e dissesse: “Escolhe a mim, sou perfeita pra conhecer a mãe do seu chefe!” Depois de muitos suspiros e indecisões, optei por um vestido preto, de tecido leve, que marcava a cintura de forma sutil. Discreto, mas elegante. Prendi o cabelo em um coque baixo e caprichei um pouco mais na maquiagem. Ainda assim, me senti estranha. Como se estivesse vestindo um personagem. Às oito em ponto, a campainha tocou. Meu coração deu um salto triplo no peito. Corri até a porta, respirei fundo antes de girar a maçaneta e lá estava ele. James Bellerose, impecável como sempre, em um terno escuro, relógio de pulso sofisticado, e aquele olhar firme, que parecia me ler por dentro, mesmo com o termo podia ver seu corpo marcado por baixo da camisa e do terno, fazendo minha cabeça imaginar mais do que deveria. — Boa noite — ele disse com um leve sorriso. — Está linda Louise. — Boa noite... obrigada — murmurei, sentindo minhas bochechas esquentarem. Ele olhou para dentro do apartamento. — Posso entrar por um minuto? Assenti, surpresa. — Claro... James entrou, observando o lugar com discrição. Minha tia, mesmo sentada no sofá, virou-se para nós ao ouvir o som da porta. — Boa noite — ele disse, aproximando-se com gentileza. — A senhora deve ser a tia da Louise. Sou James Bellerose. — Oh, boa noite, querido! — ela respondeu, sorrindo calorosamente. — Que surpresa boa! Eu achava que vocês chefes só mandavam e-mail. Ele riu, e eu fiquei ali, entre o nervosismo e o embaraço. — Louise é uma funcionária incrível. E principalmente... uma mulher admirável. — Ele disse, olhando para mim de forma que me fez desviar os olhos. — É mesmo? Que orgulho... ela é tudo que eu tenho senhor Bellerose. Aquela frase atravessou meu peito como uma flecha. James olhou para mim com seriedade, como se confirmasse algo que buscava quando pediu para entrar. — E é por isso que quero cuidar bem dela — disse, pausadamente. — Hoje à noite, ela será minha acompanhante em um jantar com minha mãe. Gostaria que soubesse que ela estará em boas mãos. Minha tia assentiu, curiosa. E eu? Eu só queria desaparecer. Poucos minutos depois, nos despedimos. James abriu a porta do carro para mim e seguimos para o restaurante. O trajeto foi silencioso, mas diferente dos outros silêncios entre nós. Tinha uma tensão no ar, algo que vibrava dentro do carro. Eu sentia o olhar dele deslizar por mim de tempos em tempos, e isso me deixava ainda mais inquieta. Quando chegamos, fui surpreendida pela magnitude do restaurante. Era mais elegante do que qualquer lugar que eu já tinha visto, até mesmo nas revistas de celebridade que leio. Na entrada, uma senhora nos aguardava sentada. Vestia um conjunto claro, cabelo perfeitamente preso, postura firme, mas com um sorriso doce. — Mamãe — James disse, inclinando-se para beijar o rosto dela. — Essa é Louise. Ela se levantou com entusiasmo, estendendo a mão para mim. — Louise! Finalmente! Estava ansiosa para te conhecer, minha querida. — O prazer é meu, senhora Bellerose — respondi, sentindo meu rosto queimar. — Por favor, me chame de Anne. Nos sentamos. O garçom trouxe vinho, e James tratou de pedir o prato preferido da mãe, o que a fez sorrir satisfeita. Durante o jantar, eles conversaram sobre assuntos familiares, e eu tentei participar, quando a conversa se dirigia a mim, sem parecer deslocada. Mas o que me desconcertava de verdade era a forma como James me olhava. Em certos momentos, ele não dizia nada apenas me observava. O olhar firme, intenso, percorrendo cada detalhe do meu rosto, do meu pescoço, dos meus gestos tímidos. Era como se ele estivesse decorando cada parte de mim. E quanto mais ele me olhava, mais eu me perdia. Minha voz tremia levemente ao responder alguma pergunta de Anne. Minhas mãos suavam discretamente sob a mesa. Meu coração parecia confuso: batia rápido demais, mas com a estranha sensação de que estava... onde deveria estar. Quando o jantar terminou, Anne me abraçou com carinho. — Você me parece uma garota forte e doce. Fico feliz que esteja ao lado do meu filho. Assenti, era estranho mentir para alguém que parece ser tão gentil. E nem poderia, afinal é um contrato e ela nunca poderá saber a verdade... Afinal, ali, naquele momento... estávamos mesmo lado a lado, e será assim por seis meses... O carro seguiu em silêncio na volta. Mas não era desconfortável. Era carregado. Pesado de tudo o que não foi dito. Ao parar em frente ao meu prédio, James desceu primeiro, deu a volta e abriu a porta para mim. Me senti tão pequena ali, diante da gentileza dele. Caminhamos até a entrada, e eu parei antes de abrir a porta. — Obrigada por hoje — murmurei. — Sua mãe é adorável. — E você foi perfeita, eu quem agradeço — respondeu, com a voz baixa. — Não esperava menos, você é sempre tão eficaz. Fiquei em silêncio. Sentia que ele ainda tinha algo a dizer. Mas ele apenas se aproximou mais. Perto demais... Seu rosto ficou a poucos centímetros do meu. O cheiro do seu perfume, o calor que emanava de seu corpo... tudo me atingiu de uma vez. — Boa noite, Louise — ele sussurrou. E então, inclinou-se ligeiramente. Sua boca roçou de leve a minha, mas sem tocar de fato. O gesto foi tão sutil quanto explosivo. Senti um arrepio descer pela espinha. Minhas pernas enfraqueceram. Quando recuou, seus olhos ainda estavam sobre mim, famintos, contidos. — Durma bem, amanhã acertaremos os detalhes. — ele disse, e virou-se. Fiquei ali, parada, encostada na porta, tentando recuperar o fôlego. Meu corpo inteiro pulsava. Minha mente gritava. Meu coração estava totalmente fora de controle. Entrei no apartamento cambaleando, como se tivesse bebido demais, mesmo tendo tomado apenas uma taça. E naquela noite, deitada na minha cama, o sono não veio. O que veio foi o gosto do quase, do quase beijo. E a certeza de que eu já não era mais a mesma. O rosto dele já não saia mais da minha mente... James Bellerose o que está fazendo comigo?