Acordei com um vazio latejando em meu peito.O lençol ainda guardava o calor do corpo de Damon, o cheiro dele impregnado em cada fibra, misturado ao suor e ao desejo da noite passada. Meus dedos deslizaram pela cama desfeita, buscando por ele no escuro — mas só encontrei o frio.Levantei devagar, a pele nua arrepiada não apenas pela corrente de ar que entrava pela janela aberta, mas pela estranha sensação de estar sendo observada.Chamei por ele em um sussurro.Nada.Vestindo apenas a camisa negra dele, que me chegava até a metade das coxas, abri a porta do quarto e me aventurei pelo corredor silencioso. O castelo parecia respirar, vivo nas sombras, cada pedra vibrando com ecos de antigos segredos.O cheiro de Damon parecia guiá-la, fraco, como um vestígio deixado para trás às pressas.Desci degraus de pedra, as tábuas rangendo sob meus pés descalços, até que um corredor estreito e mergulhado na penumbra se abriu à minha frente. Um corredor onde a luz era engolida por sombras densas.
O quarto parecia ainda mais frio quando voltei para ele, após o encontro com Ravik.O silêncio era sufocante, como se o próprio castelo retivesse a respiração, esperando pela minha reação.Sobre a poltrona, repousava um vestido novo. De um Azul escuro, quase da cor do oceano. A seda parecia reluzir à pouca luz que atravessava a varanda aberta, mas pela primeira vez desde que cheguei aqui, eu não senti vontade alguma de tocá-lo. Não depois daquelas palavras venenosas sussurradas por Ravik, deixando cicatrizes invisíveis sob minha pele.Eu virei o rosto, ignorando o tecido como se ele fosse uma afronta.Meu peito subia e descia com força. Eu havia me entregado a Damon — corpo, alma, tudo. E agora, pairava sobre mim a dúvida cruel: eu havia feito a coisa certa?O Damon que segurava meu rosto com tanta ternura, que beijava cada parte minha como se eu fosse feita de luz... era o mesmo que escondia segredos que poderiam me destruir?Minha garganta apertou. Meus olhos ardiam.E se eu tivesse
O vento carregava a chuva em lufadas geladas, chicoteando nossos rostos, mas Damon não parecia se importar. Seus olhos, daquele vermelho profundo e cortante, fixaram-se em mim como lâminas.— Por que você fugiu? — ele perguntou, a voz baixa, carregada de raiva contida.As presas dele, levemente expostas, brilharam sob o lampejo de um trovão distante. Cada parte de mim gritava para recuar... mas eu não dei um único passo para trás.Em vez disso, ignorei a pergunta.— O que você quis dizer... — minha voz saiu tremida, mas me forcei a continuar —, quando disse que precisava me proteger de você?Damon fechou os olhos por um instante, como se a pergunta pesasse toneladas sobre seus ombros.— Elara, não é tão simples.— Então me explique! — exigi, o peito doendo de tanta ansiedade. — Não fuja de mim, Damon. Não me esconda mais nada!O silêncio se estendeu por um momento eterno entre nós, até que suspirei e disparei:— Ravik me encontrou no castelo — revelei, cruzando os braços, desafiando-o
A chuva caía torrencialmente ao nosso redor, suas gotas geladas misturando-se à quentura do meu corpo. Eu poderia sentir a tensão vibrando entre nós, as palavras que trocamos antes se tornando distante em minha mente. Não importava o que Ravik me dissera ou o que eu temia. Eu já não conseguia mais negar a conexão que queimava entre mim e Damon.Ele, com as mãos geladas, tocou meu rosto. A pele dele parecia de outra dimensão, fria, mas ao mesmo tempo, a proximidade era o que me fazia sentir o calor que incendiava meu peito. Fechei os olhos, permitindo que a chuva molhasse meu cabelo, a sensação de estar ali, com ele, na tempestade, intensificando cada batida do meu coração.— Elara... — Damon murmurou, sua voz rouca carregando um peso que eu não conseguia ignorar. — Confie em mim. Não importa o que ele tenha dito, nunca faria mal a você.Era difícil resistir ao tom dele, à intensidade daquele momento. Ele estava ali, diante de mim, e eu sabia que não havia mais volta. A tempestade em n
A chuva continuava forte, mas não era mais um obstáculo. Era quase como se o peso da tempestade tivesse se dissolvido no ar enquanto entrávamos no castelo. O som das gotas batendo contra a janela era uma música constante, mas agora, naquele momento, eu não queria mais ouvir nada além do som do meu próprio coração batendo rápido.Damon me conduziu sem pressa, seus passos firmes e confiantes ecoando pelo corredor. Ele ainda estava molhado, com os cabelos caindo sobre os olhos, mas sua presença me dava uma sensação de segurança que, por mais que fosse estranha, me acalmava. A porta do quarto se fechou atrás de nós com um suave clique, e ele, de imediato, caminhou até a lareira, onde uma pequena chama ainda vacilava.— Fique aqui — ele ordenou suavemente, sua voz carregada de uma autoridade calma, mas protetora.Sentei-me na beirada da cama, ainda sentindo a umidade da chuva em minha pele, como se a tempestade não tivesse realmente terminado. Damon se aproximou e, ao se agachar ao meu lad
A água quente ainda acariciava minha pele quando o silêncio do quarto se tornou quase palpável. Eu afundei mais na banheira, deixando que a água suja escondesse meu corpo submerso, enquanto minha mente girava em círculos, presa às palavras que Damon havia sussurrado horas antes.A mordida. Um laço íntimo. Algo que, segundo ele, ultrapassava qualquer ligação humana comum.Uma parte de mim se sentia nervosa com a revelação, mas outra — mais forte e difícil de ignorar — se sentia empolgada. Havia uma beleza estranha na ideia de pertencer a alguém daquela maneira. De ser marcada, de ser... desejada daquele jeito tão primal.Quando ergui os olhos, encontrei Damon. Ele estava encostado na parede, braços cruzados sobre o peito, como uma sombra viva me observando. Não com luxúria ou impaciência, mas com aquela calma perigosa que parecia ser parte dele. O olhar menos vermelho, quase... doirado, mesmo suavizado pela penumbra, jamais deixava de carregar um peso invisível que me puxava para ele.
Narrado por Elara Há mil anos, dizem que o sol deixou de nascer sobre os Montes de Eldraven. Mas eu nunca vi o sol, então pra mim… ele é só mais uma lenda. Como tantas outras que nos contam pra manter a gente obediente. Aqui em Caerlyn, vivemos sob o véu da escuridão eterna, cercados por muralhas altas e preces sussurradas. Prata nas portas, símbolos sagrados nas janelas, e medo... muito medo. As pessoas acham que isso nos protege. Eu sei que só nos isola. As Terras Escarlates se estendem logo além da floresta. Ninguém fala nelas em voz alta, mas todos já ouviram os nomes que o vento carrega: Vareth, o castelo negro, e Damon Valtor — o vampiro ancestral, o príncipe do sangue, o monstro escondido em silêncio há séculos. Mas eu não tenho medo de nomes. Meu nome é Elara, e desde pequena eu soube que não pertencia a esse lugar. Fui criada por uma curandeira velha que me ensinou mais com livros do que com bênçãos. Sempre achei que os muros não estavam ali pra manter os monstros for
Na manhã seguinte, fui até os arquivos da vila. Um casarão antigo, com cheiro de mofo, pergaminhos empilhados até o teto e janelas seladas com velhas orações. Loran estava como sempre — debruçado sobre um livro empoeirado, com o cenho franzido e os dedos manchados de tinta. — Preciso de ajuda — disse, sem rodeios. Ele levantou os olhos devagar. Sempre me olha como se estivesse lendo algo invisível em mim. — Você esteve fora da vila de novo, não é? — murmurou, voltando os olhos pro livro. — Você sabia? — perguntei. — Eu imaginei. Você carrega o cheiro da floresta quando entra. E... está tremendo. Me sentei ao lado dele, baixando o tom da voz. — Encontrei pegadas perto do lago. Grandes. Recentes. E... um símbolo desenhado na lama. Uma rosa negra. Loran parou. Fechou o livro com cuidado e olhou pra mim como se tivesse acabado de ouvir o fim de uma profecia. — Você viu mesmo isso? — Ele nunca fala com ênfase. Mas agora... havia urgência. Assenti. Ele puxou um pergami