Minha avó se aproxima devagar, pegando o manto pendurado no encosto da cadeira. Com um gesto afetuoso, inclina-se e deposita um beijo suave no topo da minha cabeça.
— Te vejo amanhã, minha querida — diz ela com um sorriso tranquilo.
Franzo a testa, surpresa.
— Onde a senhora vai?
Ela ajeita o manto velho nos ombros.
— Vou passar a noite na casa da Ana. Lúcia não parece muito bem — responde, com a voz mansa demais para o que está dizendo.
A encaro em silêncio, desconfiada. Ela odeia dormir fora de casa. Sempre odiou. Para minha avó, passar a noite em outra casa só acontece em casos de vida ou morte
E, julgando pelo seu semblante tranquilo — quase divertido —, esse claramente não é o caso.
— Bom jantar, pombinhos… ou melhor, lobinhos — brinca, piscando para mim antes de sair.
Reviro os olhos com o trocadilho forçado, mas não consigo conter um pequeno sorriso.
A porta range suavemente quando se fecha atrás dela.
Só então percebo que Kain está parado à soleira, imóvel, me encarando em s