SAVANNAHO tempo passa depressa quando se está ocupada. Já faz uma semana desde que a Harper foi para Washington e, apesar de todas as tarefas no rancho, sinto a falta dela todos os dias. Agora, ao fim da tarde, o sol já se põe e eu termino as últimas tarefas junto ao curral, as mãos ainda cheias de pó e o cheiro a feno entranhado na roupa. O meu telemóvel vibra no bolso. Olho para o ecrã e o coração aquece ao ver o nome dela: Harper.Atendo de imediato, com um sorriso.– Harper! Que saudades tuas, mulher!– Savannah! – responde ela, com aquela voz animada que só ela tem. – Já estou em Creekville, acredita? Cheguei hoje mesmo. Queres vir jantar cá a casa? Tenho novidades para te contar.– Claro que sim! Já estava a morrer de saudades tuas e preciso mesmo de saber tudo. A que horas?– Vem às oito, pode ser? Vou fazer aquela pasta que tu adoras.– Perfeito! Até já, amiga.Desligo e sinto-me logo mais leve. Já estava preocupada com ela, depois de tudo o que aconteceu. Mal guardo o telemó
SAVANNAHEstamos à porta do The Country Bar, eu e a Harper, paradas por um instante antes de entrar. Ela olha para mim com os olhos arregalados, o nervosismo estampado no rosto. Sorrio, tentando transmitir-lhe calma.- Estás bem? - pergunto, pousando-lhe a mão no braço.- Estou um pouco nervosa - admite, mordendo o lábio. - Como é que estou? Não é demasiado?Olho para ela de cima a baixo, e não consigo evitar sorrir. Harper é uma das mulheres mais bonitas que conheço, com o cabelo loiro comprido, sempre brilhante, e aqueles olhos azuis de perder o fôlego.- Estás linda, Harper. Mesmo. Vais arrasar corações hoje.Ela inspira fundo, endireita as costas e, juntas, empurramos a porta do bar. O ambiente é quente, animado, o cheiro a cerveja e madeira misturado com o som da música country que vibra pelas colunas. O bar está cheio, como sempre, mas não é difícil encontrar os irmãos Sawyer - altos, bonitos, sempre a destacarem-se no meio da multidão.Landon e Isaiah estão de pé, cerveja na mã
SAVANNAHPassou-se uma semana desde aquela noite no The Country Bar e, apesar de tudo parecer calmo à superfície, sinto que há uma energia diferente no ar. Talvez seja a proximidade do outono, talvez seja só o conforto de finalmente me sentir parte desta família. Estou na cozinha com a Harper, a Beth e a Rose, a lanchar. O cheiro a pão fresco e bolo de maçã mistura-se com o aroma do chá acabado de fazer. Rimos, conversamos, partilhamos histórias do dia, enquanto o sol entra pelas janelas, aquecendo a madeira antiga da mesa.De repente, ouvimos o barulho dos irmãos Sawyer a entrar, as vozes altas e animadas a ecoar pelo corredor. Entram todos juntos, a fazer fila na pia da cozinha para lavar as mãos, todas sujas de terra, resultado do trabalho árduo no rancho. Antes de mais, cumprimentam-nos com sorrisos abertos e piadas rápidas.– Olá, meninas! – diz Landon, já a piscar o olho.– Cheira bem aqui – comenta Isaiah, a esfregar as mãos cheias de terra.Harper fica corada quando Hunter se
SAVANNAHEstou sentada na sala da casa principal com Beth e Rose. Beth tenta explicar-me, pela terceira vez, como se faz tricô, mas aquilo não me entra na cabeça. Ela tem uma paciência infinita, mas eu só consigo rir-me das minhas tentativas desastrosas.De repente, a porta abre-se e entra Suze, uma vizinha e amiga de infância do Ryder, com a pequena Willow pela mão. Suze parece envergonhada, mas há uma aflição no seu olhar que não me escapa. Rose levanta-se logo, com aquele instinto maternal que lhe é tão natural.– Suze, querida, está tudo bem? – pergunta Rose, aproximando-se.Suze pede desculpa, a voz trémula.– Desculpem aparecer assim, mas aconteceu um acidente no trabalho com o meu marido. Preciso de ir até ao hospital.Beth e eu trocamos um olhar preocupado.– Mas está tudo bem? – pergunto, já a imaginar o pior.– Ele cortou a mão com uma serra. Parece que atingiu um nervo e talvez precise de uma pequena cirurgia. Eu… não tenho com quem deixar a Willow esta noite, os meus pais
RYDERAcordo antes do sol nascer, como sempre. Há muitos anos que não preciso de despertador – o meu cérebro já está programado para o ritmo do rancho. O silêncio da manhã é cortado apenas pela respiração tranquila de Willow, que dorme enroscada ao meu lado, com o rosto sereno de quem ainda sonha. Savannah está do outro lado, também adormecida, com o cabelo espalhado na almofada. Bear levanta a cabeça mal me mexo, os olhos atentos e fiéis.Fico ali uns segundos, a observar aquela cena. Não consigo evitar que a minha mente viaje para um lugar que há muito desejo: uma família. Quero casar, ser pai, ver os meus filhos crescerem, ensiná-los tudo sobre a vida e o rancho, tal como o meu pai fez comigo. Quero amar, respeitar e devorar a minha mulher, como via o meu pai fazer com a minha mãe. Com a Chloe, isso nunca foi possível. Depois de ela me ter abandonado, deixei de acreditar no amor, no casamento, numa família. Mas desde que Savannah entrou na minha vida, essa vontade voltou a crescer
RYDERHoje, o peso no peito é diferente. O sol mal nasceu e já sinto a tensão no ar. Suze está de volta ao rancho. Quando a vejo a subir a varanda da casa principal, as olheiras profundas e o olhar vazio partem-me o coração. Suze foi minha amiga de infância, crescemos juntos, e ver alguém tão forte assim, quebrada, é duro de suportar.Aproximo-me dela sem hesitar e abraço-a com força.– Podes contar comigo para tudo, Suze. Não estás sozinha.Toda a minha família faz o mesmo. Rose abraça-a, Beth segura-lhe a mão, os meus irmãos alinham-se à volta dela, cada um a tentar oferecer um pouco de conforto. Ficamos ali, na varanda, em silêncio, a rodeá-la com o nosso apoio.Dentro de casa, Savannah está com a Harper a tentar distrair a Willow. A pequena é inteligente, percebe que algo se passa, mas achamos que deve ser a mãe a dar-lhe a notícia. Savannah não dormiu nada desde que lhe contei a fatalidade. Sei que ficou profundamente abalada por Willow, talvez até se tenha revisto nela. Também n
SAVANNAHDói-me a alma e o coração de ver Willow assim, agarrada à mãe, e Suze tão perdida no seu próprio sofrimento. Sinto uma dor avassaladora, mas quero ser forte por elas as duas. Willow adormeceu no colo da mãe no sofá, as bochechas ainda húmidas das lágrimas. Estamos ali em silêncio há muito tempo, cada um perdido nos seus pensamentos e na sua tristeza.Rose é a primeira a quebrar o silêncio, falando baixinho para não acordar Willow.– Temos de comer qualquer coisa. Fiz chá e biscoitos para todos.Suze levanta-se com cuidado, tentando não acordar a filha. Ryder aproxima-se e cobre Willow com uma manta, com uma delicadeza que me emociona. Observo-o e penso para mim mesma como um dia, ele vai ser um pai maravilhoso.Quando me preparo para me levantar, sinto uma tontura. O mundo gira um pouco e, antes que possa cair, Ryder agarra-me pelo braço.– Estás bem, Savannah?– Só tive uma tontura – murmuro, tentando sorrir.– É normal. Estás fraca. Desde ontem que não comes nada. Agora vai
SAVANNAHChegou o dia do funeral de Raul, o pai de Willow. O ambiente é pesado, carregado de tristeza e silêncio. Familiares, amigos e vizinhos juntam-se no cemitério, todos de olhar baixo, cada um a tentar encontrar palavras para consolar Suze e a pequena Willow. O céu está nublado, como se até o tempo respeitasse o luto.Observo Willow, tão triste e cabisbaixa ao lado da mãe. De mão dada com Suze, caminha como se fosse uma adulta, o rosto sério, os olhos inchados de tanto chorar. O meu coração aperta-se ao ver aquela menina a enfrentar uma dor tão grande.No final da cerimónia, aproximo-me delas. Willow olha para mim, os olhos vermelhos, e sem dizer nada, atira-se para os meus braços. Abraço-a com força, tentando transmitir-lhe algum conforto. Suze agradece em voz baixa:– Obrigada por terem vindo. Por tudo.– Não há nada que agradecer, Suze. Estamos aqui para o que precisares.Não há muito a dizer nestes momentos. Então, tiro uma pequena caixa azul de veludo do bolso e estendo-a a