SAVANNAHAssim que a porta do apartamento se fecha atrás de Ryder, sinto o vazio a invadir-me de uma maneira quase física. Fico ali, parada no centro da sala, a olhar para o nada, como se esperasse que ele voltasse a entrar, que dissesse que tudo não passou de um mal-entendido. Mas a única coisa que ouço é o som abafado do trânsito lá fora e o eco da minha própria respiração. O apartamento de Harper parece encolher à minha volta, as paredes a apertarem-se, e eu, perdida neste silêncio, deixo-me cair no pequeno sofá da sala.Abraço as pernas ao peito, tentando encontrar consolo em mim mesma. O tecido áspero do sofá roça-me a pele, mas não me aquece. Sinto uma tristeza funda, como se tivesse perdido algo que nunca foi realmente meu. Não sei quanto tempo fico ali, imóvel, a olhar para o vazio. Só quando sinto o rosto húmido percebo que estou a chorar. As lágrimas escorrem devagar, tímidas, quase envergonhadas, como se não quisessem dar parte de fracas.Ouço a porta do apartamento a abrir
RYDERGuio o jipe pela estrada deserta, o céu já a ganhar tons dourados do fim do dia. São quase duas horas de viagem desde Creekville até à localização que a Andie me mandou. O silêncio dentro do carro só é interrompido pela rádio, que toca baixinho. De repente, começa a soar “What Am I Gonna Do” do Chris Stapleton. A voz rouca dele enche o habitáculo, e não consigo evitar sentir um nó no estômago.O refrão ecoa, batendo fundo:What am I gonna doWhen I get over you?What am I gonna beWhen you’re just a memory?What am I gonna drinkWhen I don’t have to thinkAbout what I’m gonna doWithout you?É irónico. Sinto-me exatamente assim. Não sei o que sou sem a Savannah. Não sei o que fazer com este vazio, com esta saudade que me consome. A música parece ter sido escrita para mim, para nós. Penso em tudo o que deixei por dizer, nas discussões, nos ciúmes, nas palavras que ficaram presas na garganta. E, apesar de tudo, só queria voltar atrás, só queria que ela estivesse aqui ao meu lado.
SAVANNAHOs meus dias a viver com a Harper são um verdadeiro misto de emoções. Quando ela está por perto, a casa enche-se de risos, conversas e distrações. Arranjamos sempre algo para fazer: desde maratonas de séries, a experiências culinárias falhadas, a passeios espontâneos pelo bairro. Mas, quando ela sai para o consultório, para cuidar dos animais, ou quando a noite cai e me deito na cama, o silêncio pesa. É nesses momentos que o coração aperta, que a saudade do rancho me assalta sem piedade.Sinto falta de tudo: do resmungo da Beth logo pela manhã, do carinho e cuidado da Rose, do Bear sempre atrás de mim a pedir carinhos, das discussões e tontices dos irmãos Sawyer… especialmente de um deles. Mas quem mais pesa agora no meu coração, quem me faz sentir aquela culpa miudinha, é a Rose. Agora que a distância e o ciúme já não me toldam a cabeça, percebo o quanto fui injusta com ela. Sempre me tratou como uma filha, sempre me acolheu com um abraço e um sorriso, e eu… eu só consegui f
SAVANNAHO Ryder está sentado à minha frente, mas parece distante, com um receio que raramente lhe vejo. O meu coração bate tão forte que quase o sinto na garganta. Tento preparar-me para o pior — será que ele decidiu que já não quer estar comigo? Não o culparia, tenho agido como uma criança ultimamente, deixei o orgulho e o ciúme tomarem conta de mim.Ele inspira fundo, olha-me nos olhos.— Savannah, se é para sermos sinceros, eu vou fazer de tudo para que confies em mim.Assinto, tentando mostrar-lhe que estou pronta para ouvir, mesmo que não esteja.Ele começa devagar, como se pesasse cada palavra.— Ontem, depois de sair daqui, a Andie ligou-me. O carro dela avariou no meio da estrada e pediu-me ajuda. Fui buscá-la. Depois ela convidou-me para jantar em casa dela, como forma de agradecimento, e eu aceitei.Fico imóvel, a tentar controlar a expressão. Ele continua, sem me dar tempo para reagir.— Entretanto, a mãe dela ligou. Disse que o pai da Andie tinha tido um enfarte. — Sinto
SAVANNAH O caminho até ao rancho faz-se mais rápido do que esperava. No carro, o ambiente é surpreendentemente leve. A música animada do rádio serve de pano de fundo para as histórias que Ryder me conta sobre os dias em que estive ausente. Rio-me das peripécias dos irmãos Sawyer, das tentativas falhadas de Hunter de cozinhar, das discussões entre Landon e Isaiah sobre quem trabalha mais. Sinto o peito a aliviar-se, como se cada gargalhada me devolvesse um bocadinho daquilo que deixei para trás.Quando dou por mim, já estamos a entrar na estrada de terra batida que leva à casa principal. O tempo passou a voar aqui dentro do carro, mas agora que vejo o rancho à minha frente, um nervoso miudinho instala-se na minha barriga. Aperto a caixa da torta de cereja com mais força do que devia. Sei que tenho de falar com Rose e, apesar de saber que é o certo, o medo de não ser perdoada pesa-me.Ryder estaciona o carro mesmo em frente à varanda. Fico sentada, a olhar para a casa, a tentar ganhar
RYDERO sábado amanhece cheio de energia no rancho. Hoje é o aniversário da minha mãe e, desde cedo, a casa pulsa com um entusiasmo diferente. Mãe, vovó Beth, Harper e Savannah estão fechadas na cozinha desde o nascer do sol, entre tachos, risos e discussões sobre receitas. O cheiro doce e quente que sai dali denuncia que hoje ninguém vai passar fome. As vozes delas misturam-se com o som das colheres de pau e das panelas, e só de imaginar o que estão a preparar, já me cresce água na boca.Eu, o Hunter, o Landon e o Isaiah tratámos dos animais logo de manhã. Mas hoje não há pressas nem reclamações. Antes do almoço, largamos o trabalho e dedicamo-nos a preparar tudo para a festa: mesas e cadeiras cá fora, a churrasqueira já a deitar fumo, luzes penduradas nas árvores, e a fogueira pronta para ser acesa ao final do dia, quando o céu se pintar de laranja e as estrelas começarem a aparecer.Os convidados começam a chegar, um atrás do outro, com abraços, gargalhadas e mais comida. Amigos de
SAVANNAHA festa de aniversário da Rose está a ser das mais divertidas de que tenho memória. Adoro crianças, e fazer pinturas faciais nelas foi um dos pontos altos do meu dia. Entre pincéis, tintas e gargalhadas, deixei-me levar pela leveza do momento. Hoje sinto o Ryder ainda mais próximo de mim. Ele não para de ficar colado a mim, atento a cada gesto, cada sorriso. Acho que quer provar-me, sem palavras, que eu importo para ele. E esse gesto faz-me sorrir sem conseguir evitar.A noite já caiu, a luz dourada do pôr do sol deu lugar ao brilho laranja da fogueira que crepita no centro do jardim. As pessoas começam a despedir-se, os convidados vão partindo aos poucos, mas um pequeno grupo ficou para contemplar a fogueira e aproveitar a música suave que toca ao fundo. Sento-me num tronco, distraída nos meus pensamentos, sentindo o calor das chamas e o cheiro a madeira queimada.De repente, ouço Hunter a resmungar com Harper enquanto se aproximam da fogueira. Pelo tom, percebo que ele não
RYDERSeguimos para o The Country Bar em Creekville, de mãos dadas, eu e a Savannah. Só largo a mão dela quando preciso de mudar de velocidade, e mesmo assim, só por segundos. Há algo de certo, de completo, quando estou com ela assim, como se tudo o resto do mundo pudesse esperar. Sinto-me feliz, inteiro, e sei que ela sente o mesmo. O silêncio entre nós é confortável, só interrompido pela música country que toca na rádio e pelas luzes da estrada a passarem devagar.Quando chegamos ao bar, o ambiente já está animado. Uma banda toca clássicos country no palco, e vejo os meus irmãos numa mesa no canto, rodeados de copos, risos e aquela energia que só uma noite destas traz. Para minha pouca sorte, Paul e Andie também estão sentados com eles. Noto logo o desconforto de Savannah ao ver Andie, e isso incomoda-me. Gostava de lhe poupar a esse tipo de situações, mas não posso controlar quem aparece.Paul é um amigo de família de longa data. Os pais dele eram grandes amigos dos meus, mesmo dep