Capítulo 3
Riley Collins De volta a realidade, vi Luca me olhando. Parecia surpreso, mas logo endureceu o olhar. — Não vi sangramento nenhum. E pra uma mulher que diz nunca ter estado com outro homem, você interpreta bem o papel de prostituta. — Seus olhos desceram lentamente até meus lábios, depois para meu colo e os seios cobertos pelo tecido do vestido. — Cuidado, docinho. Esse mundo destrói as mentirosas com mais prazer do que as culpadas. Eu mesmo, adoro fazer isso. Luca abriu a porta sem me deixar explicar melhor, então saiu, batendo com força. Ouvi quando alguém se aproximou: — Acomode a senhora Black no meu quarto. — ele disse a um dos capangas. — Oh! O senhor casou, chefe? Mas… — Sim, fiz essa merda. — ele murmurou. — Aquele filho da puta do Jackson me enganou. Me mostrou a cópia falsa do testamento do nosso pai. O verdadeiro será aberto amanhã. Eu precisava estar casado pra assumir a Amercana. Coloquei escuta nele ontem. Era isso ou entregar tudo nas mãos de um traidor. Ele falava apertando a arma nas mãos. A raiva era visível nos olhos. Fiquei no carro por mais alguns segundos, tentando recuperar o fôlego. Sabia que nenhum dos dois Black prestava. Mas minha irmã… ela ainda estava viva. E isso dependia de mim. Desci. Engoli o choro, a raiva, e fiz o que pediram. Encarei empregados que me olhavam com curiosidade. Tentei me manter firme. Mais tarde, Luca apareceu na porta do quarto. — Eu preciso resolver umas coisas. Você vai ficar aqui. — O que eu preciso fazer? — perguntei, surpresa até por mim mesma. Ele me olhou diferente. Como se perguntasse: Ela quer jogar? — Bom, vai ter que se comportar como casada. Nada de programas. Eu pago quando quiser o serviço. — Engoli seco. Meus olhos voaram para um jarro sobre a cômoda. Por um segundo, imaginei quebrando aquilo na cabeça dele. Mas me contive. — Quero que cuide dessa casa, me acompanhe em reuniões da empresa e da máfia. E, principalmente: fique longe do Jackson. Estamos entendidos? Respirei fundo. Ele só entendia autoridade e estratégia. Soltei o ar devagar e dei dois passos em sua direção. — Posso ser o que o senhor quiser. Só peço uma coisa… que me deixe visitar minha irmã. E que a mantenha viva. Por favor, senhor Black. — Senhor? — ele segurou meu queixo. — Pareço um velho pra você? Aposto que não chamava Jackson assim… Virei o rosto, me soltando da mão dele. Queria gritar. Queria quebrar a cara dele. Mas apenas perguntei, engolindo a raiva: — Como deseja ser chamado? Ele deu uma volta atrás de mim, devagar. Senti seus olhos queimarem meu corpo. — Depende... — murmurou. De repente, deu um tapa na minha bunda que me fez dar um pequeno salto e perder o ar. — Em público, me chamo Luca. Não sou o senhor de ninguém. Mas aqui dentro… vai me chamar de "chefe". — Ok, "chefe". Assim que Luca saiu e a porta fechou, explodi por dentro. — Arrogante… nojento… — murmurei entre os dentes, andando de um lado pro outro naquele quarto enorme, gelado, com cheiro de homem rico e amargo. Era tudo dele. Cada detalhe gritava Luca Black. — “Vai me chamar de chefe”… — repeti, debochando, com o maxilar travado. — Quem ele pensa que é? A raiva queimava no meu peito. Que tipo de monstro eu fui encontrar? Jackson era um canalha, mas pelo menos não fingia ser civilizado. Luca… Luca era pior. Disfarçava a crueldade com elegância, sorria com os olhos e cuspia veneno com a boca. Pelo menos o outro não fingia ser racional. Respirei fundo, passando as mãos pelo rosto com força, tentando não gritar. Eu não podia perder o controle. Não agora. Emma ainda precisava de mim. Foi quando ouvi três batidas secas na porta. — Senhora? — a voz masculina, grave, me fez dar um passo pra trás — O chefe deixou uma lista com suas obrigações. Revirei os olhos antes mesmo de abrir a porta. O homem de terno preto me estendeu um maço de folhas e um pequeno frasco de comprimidos preso por um clipe. — Pode deixar aí — respondi, tentando manter o tom firme, apesar do nojo preso na garganta. — Boa sorte… — ele murmurou, e saiu. Fechei a porta devagar. Caminhei até a poltrona de couro escuro e me sentei com cuidado, como se o chão fosse ceder a qualquer momento. Abri o maço de folhas e comecei a ler. Meus olhos foram se arregalando a cada linha. REGRAS E DEVERES PARA A SENHORA BLACK: 1. Acordar às 6h. A cama deve estar feita até as 6h15. Odeio passar pelo quarto desalinhado. 2. Usar somente as roupas indicadas no closet lateral direito. Vou enviar em breve. 3. Tomar o comprimido preso a esta folha. “Não quero filhos de jeito nenhum.” 4. Animais são proibidos. 5. Não toque nas armas, nem pergunte sobre elas. 6. Esteja pronta para acompanhar reuniões às segundas, quartas e sextas. 7. Sem perguntas sobre negócios — ou muito menos, sobre Jackson. 8. Obedeça à minha mãe. Sempre. Sem questionar. 9. Nunca entre no quarto principal do chefe sem ser chamada. 10. Não sorrir. “Eu odeio sorrisos, então você está proibida de sorrir pra mim e principalmente pra algum homem da casa.” Travei. O papel tremia na minha mão. Joguei tudo no chão com força. As folhas voaram e o frasco girou até parar perto do tapete. — “Proibida de sorrir”? Isso aqui é um casamento ou um hospício?! Peguei o frasco devagar. Fiquei olhando pra ele. Aquilo dizia tudo sobre o controle que ele queria ter sobre mim. Ele queria me controlar completamente. Impedir que eu engravidasse, me vestisse como ele queria, sorrisse como quisesse. Mas eu não era um enfeite. Não era uma boneca. Fui até o espelho. Encostei os dedos no vidro frio e encarei o reflexo. Ainda estava com o vestido branco. Tão irônico. Como se houvesse alguma pureza em tudo aquilo. — Tudo bem, Luca Black… — sussurrei, firme. — Vai ter sua esposa. Vai ter sua atriz perfeita. Mas para os de fora. Porque você ainda vai me pagar por tudo isso. Me estiquei. Enchi os pulmões. Engoli o choro. E, sem hesitar, abri o frasco e tomei o comprimido. Não porque ele mandou, mas porque eu não queria ter um filho dele. Não agora. Emma era a prioridade. Saí do quarto decidida. Os corredores pareciam maiores agora, mais gelados. Cada detalhe daquela mansão gritava riqueza, poder... Eu estava presa novamente. Mas eu precisava de um telefone. Saber o que aconteceu com Emma. Como ela está. Virei a primeira esquina e esbarrei de frente com uma senhora de cabelos grisalhos, muito elegante. — Oh, me desculpe! — soltei na hora, ofegante — Eu… eu te machuquei? Ela franziu a testa, mas sorriu com doçura. — Está tudo bem, querida. Mas você parece assustada. Está tudo certo? Respirei fundo. Será que podia confiar? — Eu… estou procurando um telefone. Preciso ligar pro hospital. Minha irmã… é urgente. Ela me observou com atenção. Silêncio. Depois assentiu. — Há um no final do corredor, perto da escada. Mas… há uma linha particular no seu quarto também. Pode usar. Tenho certeza que o senhor Black não se importaria. Meu corpo travou ao ouvir o nome: Black. — Olha… não sei se falamos do mesmo homem, mas… o que não gosta de sorrisos… ficaria furioso. Ela deu um sorrisinho de canto, como se soubesse muito bem do que eu estava falando. — Muito obrigada — falei rápido. — Eu prometo que vai ser rápido. Ela me conduziu de volta e apontou para um telefone antigo, sobre um móvel escuro. Meus dedos tremiam enquanto discava o número. A cada tecla pressionada, sentia o coração apertar mais. Chamando. — Hospital St. James, boa tarde. Engoli seco. — Oi. Eu… eu queria saber da paciente Emma Collins. Sou a irmã dela, a Riley. Houve um clique. Depois silêncio. — Um momento, por favor. Aqueles segundos pareciam eternos. Eu senti a garganta fechar, a palma da mão suar. — A senhorita Emma teve uma piora esta manhã. O quadro se agravou… A cirurgia precisa acontecer o quanto antes, ou… Meus joelhos quase cederam. Me apoiei no aparador com a mão livre. — Ou… o quê? — perguntei, num fio de voz. — Ou ela pode não resistir. A ligação ainda estava aberta, mas eu não ouvia mais nada. Meus olhos arderam. As pernas tremiam. Senti o estômago revirar. Eu estava presa. Cercada por monstros, e minha irmã… podia morrer. Fechei os olhos com força. O que eu faço agora? Imploro a Luca? Ou… arrisco tudo e volto pra Jackson?