Priscila
Entro na casa de Beatriz logo após Rafael sair com as crianças. O silêncio do lugar me atinge com força. É estranho ver o lar deles, normalmente cheio de risos e vida, tão vazio. Beatriz está sentada no sofá, com uma xícara de café na mão e os olhos fixos em um ponto qualquer. Quando ela me vê, força um sorriso, mas é fraco, sem vida.
— Oi, Pri. — A voz dela soa rouca, cansada.
— Oi, Bia. — Me aproximo devagar e me sento ao lado dela. Não quero que pareça uma invasão, mas vim com um propósito. Como amiga e, se necessário, como psicóloga. Ela precisa ouvir o que eu tenho a dizer.
— Veio para dar bronca? — Ela me pergunta, quase amarga.
— Não. Vim falar com você como sua amiga e bom, talvez um pouco como psicóloga também.
Ela suspira, olhando para o café, mas não diz nada. Vejo isso como um sinal para continuar.
— Olha, Bia, eu sei o que aconteceu naquela boate. Eu vi tudo. Todo mundo viu, pra falar a verdade. — Beatriz fecha os olhos e respira fundo, como se a lembrança fosse