A reunião terminou com uma sensação no ar de que nada tinha sido resolvido, mas tudo tinha sido observado. Eu sentia os olhares dos diretores e acionistas fixados em mim enquanto saía da sala. Alguns pareciam satisfeitos com as explicações, outros, menos confiantes. A verdade é que todos estavam mais preocupados com o futuro da empresa do que com as minhas palavras, mas eu sabia que o único que realmente importava era Thomas Montserrat.
Ele estava ali, no centro de tudo, mas agora não era mais o centro da minha atenção. Eu estava conversando com Richard Sanders, um dos diretores mais experientes da empresa, que tinha sido um dos poucos dispostos a ouvir minhas ideias com mais atenção. Ele parecia genuinamente interessado nas soluções que eu estava propondo.
— Não é fácil, Savannah. Eu sei que ele tem um jeito... peculiar de lidar com as coisas, mas você parece ter a abordagem certa para salvar isso tudo. — Richard falou, com a voz baixa, como se temesse ser ouvido.
Eu sorri levemente, sentindo a pressão da conversa diminuir um pouco.
— Eu não estou aqui para agradar o ego de ninguém, sr. Sanders. Estou aqui para salvar a Montserrat Enterprises, e isso significa cortar o excesso, enfrentar os problemas de frente e ser implacável. Ninguém gosta do que é necessário, mas se não fizermos isso, não haverá empresa para salvar.
Richard assentiu, olhando para o fundo da sala, onde Thomas estava de braços cruzados, observando-nos de longe.
— Bem, você tem minha confiança. Mas o Thomas... ele pode ser um obstáculo. Ele não gosta de mudanças e aceitou trazê-la bastante relutante.
Eu olhei para ele rapidamente, e então segui o olhar de Richard até Thomas, que ainda permanecia em pé, isolado do resto da sala. Ele estava observando-nos, com a mesma expressão impassível, mas havia algo nos seus olhos. Algo que parecia ficar mais sombrio.
— Thomas gosta de manter tudo do jeito dele, mas eu tenho minhas próprias armas, Richard. — Eu disse, com um sorriso leve, tentando esconder o desconforto que a presença de Thomas ainda causava.
Richard não respondeu, apenas balançou.
— Vou aguardar ansiosamente para ver o que você faz. Fique atenta. Ele vai testar você.
Eu acenei para ele em sinal de despedida e segui em direção ao elevador, as palavras de Richard Sanders ecoando em minha mente. Thomas seria um desafio. Ele estava me testando de todos os modos possíveis, mas o que ele não sabia era que eu gostava de desafios. De ser testada.
Quando as portas do elevador se abriram, eu entrei e pressionei o botão do andar onde meu escritório reservado ficaria. Mas, antes que as portas se fechassem, uma mão apareceu de repente, interrompendo o movimento das portas. Eu olhei para cima, e lá estava ele — Thomas Montserrat, novamente.
Ele entrou no elevador sem dizer uma palavra, e o ar entre nós parecia denso, quase tangível. Eu não queria falar com ele. A última coisa que eu queria era ficar a sós com aquele homem, mas, ao mesmo tempo, sabia que ele não estava ali por acaso.
As portas se fecharam, e a cabine deslizou silenciosamente para baixo. O silêncio foi quebrado por sua voz, que cortou o ar com uma clareza que fez o ambiente ficar ainda mais tenso.
— Você me odeia? — A pergunta parecia sair sem esforço, como se ele já soubesse a resposta.
Eu olhei para ele, sem desviar o olhar, a expressão no rosto congelada. O que ele estava tentando fazer? Provocar-me novamente? Eu poderia sentir o poder da sua presença, a maneira como ele sempre fazia questão de estar no controle.
— Odeio? — A palavra saiu de meus lábios com um tom sarcástico, quase zombando da seriedade de sua pergunta. — Não, Sr. Montserrat, eu não odeio. E odiar é uma palavras muito forte. Eu apenas... não tenho paciência para algumas coisas, e pessoas.
— Pessoas como eu? — perguntou, sem hesitar, e sem fazer contato visual.
— Sim, pessoas como você.
Ele não sorriu, mas também não parecia ofendido. Na verdade, ele parecia mais curioso. Seus olhos escuros fixaram em mim, e eu podia ver que ele estava estudando cada palavra, cada movimento meu.
Ele deu um pequeno sorriso de canto, o tipo de sorriso que só ele sabia fazer — misterioso, quase enigmático.
— Então, você não me odeia. Mas você definitivamente não gosta de mim.
Eu mantive meu olhar firme, sem ceder.
— Como eu disse, não estou aqui para agradá-lo, Sr. Montserrat. Fui contratada para salvar sua empresa, não para salvar você. Não sou a mulher que vai passar a mão na sua cabeça e dizer que está tudo bem quando está claro que não está. Eu posso salvar a empresa. Você é um homem complexo demais para mim.
Ele arqueou uma sobrancelha, claramente intrigado. Eu sabia que a minha sinceridade, a minha postura diante dele, o incomodava de uma maneira que ele não conseguia controlar. Ele não estava acostumado com esse tipo de resistência. Com mulheres que o olhavam nos olhos sem medo, sem se curvarem diante da sua autoridade.
— Você sabe que, em toda a minha vida, nunca encontrei alguém que falasse comigo dessa forma. Isso, devo admitir, é... interessante. — A voz dele estava mais baixa, com uma curiosidade velada, quase como se estivesse provocando a si mesmo, querendo explorar os limites dessa dinâmica entre nós.
Eu respirei fundo e olhei para ele com a mesma intensidade.
— E você sabe, sr. Montserrat, que sou muito boa no que faço. Se você quiser continuar sendo o homem no controle, melhor se preparar. Este será o maior desafio que já enfrentei. E, talvez, o seu também.
A tensão entre nós estava mais palpável do que nunca. Algo mais estava acontecendo ali. Algo que, nem eu nem ele, queríamos admitir.
O elevador parou no meu andar, e a porta se abriu com um leve ding — o som mais bem-vindo que eu poderia ouvir naquele momento. O peso da tensão entre Thomas e eu ainda estava no ar, mas eu sabia que ele havia ficado sem palavras, e aquela sensação de vitória foi quase intoxicante. Eu não estava ali para ser amável, para ser "a mulher do lado de Thomas Montserrat". Eu estava ali para provar a ele que, mesmo que ele fosse poderoso, ele não tinha o controle sobre mim.
Sem dar uma segunda olhada para ele, eu sai do elevador com passos firmes, quase desafiadores. Eu podia sentir a presença dele ainda atrás de mim, mas não me virei. Eu já tinha jogado a carta que queria. E, honestamente, havia algo de profundamente satisfatório em deixá-lo ali, com a sensação de que ele estava fora de lugar, sem saber o que fazer com aquilo que eu acabara de dizer.
Cada palavra que eu havia proferido ecoava na minha mente. O pequeno sorriso que me escapou foi um reflexo da sensação de controle que eu finalmente tinha em minhas mãos. Eu havia feito o meu movimento, e agora Thomas estava no meu jogo.
Naquele instante, não era apenas a missão de salvar a empresa que estava em jogo. Era algo muito maior, muito mais pessoal. Isabelle era minha melhor amiga. Ela era a razão pela qual eu estava ali, fazendo o impossível para que Thomas Montserrat fosse derrotado pela própria arrogância. Ele achava que poderia tratar as pessoas como descartáveis, como se a dor delas fosse apenas um pequeno detalhe em seus joguinhos de poder. E eu estava determinada a mostrar-lhe que nem todos podiam ser manipulados.
Passei pelos corredores do prédio, meu corpo parecendo se mover quase no piloto automático enquanto minhas emoções ferviam por dentro. Eu sabia o que estava fazendo. Cada plano de ação que eu estava arquitetando envolvia muito mais do que apenas salvar uma empresa em risco. Eu queria ver Thomas perder, perder com a mesma intensidade que ele havia destruído o coração de Isabelly. E, com isso, sua arrogância — seu maior defeito — seria sua queda.
Eu finalmente parei diante da porta do meu escritório, meu novo refúgio, e coloquei a mão na maçaneta. Olhei para trás mais uma vez, sabendo que ele ainda estava lá, em algum lugar, sozinho, talvez se perguntando como diabos alguém como eu o havia desafiado dessa forma. Eu sabia que ele estava se remoendo por dentro. E isso, para mim, era o primeiro passo de uma vingança que ia além de simples negócios.
Entrei no escritório e fechei a porta atrás de mim, mas, ao invés de respirar aliviada, a adrenalina começou a circular mais rápido. O jogo estava apenas começando. Eu não sabia ao certo o que aconteceria nos próximos dias, mas sabia de uma coisa com certeza: Thomas Montserrat, o homem imbatível, estava prestes a descobrir que não era invencível.
Sentei-me na minha mesa, olhando para os papéis que estavam espalhados sobre a superfície, mas minha mente não estava mais focada no trabalho. Eu sabia que ele não entenderia minha motivação até o fim — e isso era o que tornava tudo mais doce. Ele jamais imaginaria que a vingança de uma mulher poderia ser mais forte do que qualquer estratégia de negócios que ele tivesse traçado para a empresa.
Na minha mente, os passos eram claros. Eu tinha que ser inteligente, estratégica. Não poderia ser apenas uma mulher com ressentimento e vingança — eu seria a mulher que ia revirar o jogo e deixar Thomas Montserrat de joelhos. Eu o faria pagar por cada coração partido, por cada mulher que ele usou e descartou. Não com vingança direta, mas com a destruição do seu próprio império, começando com a arrogância dele.
Eu respirei fundo, fechei os olhos por um momento e então me levantei. Fui até a parece de vidro com vista deslumbrante dos arranha-céus da cidade Seatle. Por ora, satisfeita como as coisas estavam se encaminhando para os meus objetivos. Tudo por Isabelle.