A luz fria dos estúdios refletia nas mesas envernizadas. O cenário era clean, moderno, com painéis de LED por trás dos apresentadores, exibindo discretamente o nome do programa: "Empresas e Gigantes", um dos mais respeitados na área de negócios. Eu estava ao lado de Thomas e Harry, sentada em um daqueles bancos altos que forçam você a manter uma postura quase militar. Atrás das câmeras, nossa assessoria de imprensa, jornalistas e membros da diretoria da Montserrat observavam atentos, como se cada palavra pudesse selar o destino da empresa.O apresentador, um homem simpático de meia-idade, sorriu como quem já sabia que aquela entrevista entraria para os arquivos da emissora como uma das mais assistidas do ano.— Estamos aqui com os principais nomes da Montserrat Enterprises. Harry Montserrat, fundador e presidente do conselho, Thomas Montserrat, atual CEO, e Savannah Harper, Consultora e estrategista de crises e, sem dúvida, a mente por trás da recente reviravolta que devolveu à Montse
Depois da entrevista, dezenas de outras surgiram. Algumas, comigo, sem Savannah ou meu pai. Outras com Savannah, sem mim. Com o mesmo foco, a Monteserrat Enterprises, e a crise foi amenizada lentamente. Enquanto isso, Damon foi preso, por faude financeira e outros crimes do colarinho branco. Para tentar se salvar e usar meu pai como bote de salva-vidas, ele aceitou fazer o teste de DNA, que depois de alguns dias, recebemos o resultado. Ele não era um Montserrat legítimo. Meu pai não ficou feliz, se sentiu enganado, mas resolveu assumir Damon mesmo assim. Acho que por culpa. Talvez de alguma maneira, ele se sinta culpado por Damon ter se tornado o que se tornou, sem a figura paterna, mas acreditando ser filho dele. Depois de uma conversa com Savannah, aceitei o fato de que meu pai carregava muitos fardos, e um deles era Damon, e aceitei também ter um irmão que não tinha meu sangue, mas que havia conquistado algum lugar no coração de Harry Montserrat. Tudo o que eu desejava era que Da
A Toscana parecia mais bonita naquele dia. Talvez fosse o céu limpo, salpicado de nuvens brancas como se algum artista entediado tivesse pintado à mão. Talvez fosse o campo ondulado com seus vinhedos eternos. Mas quem conhecia Savannah e Thomas sabia: não era o cenário. Eram eles.O casamento não era apenas uma celebração. Era a mais inesperada das vitórias.A cerimônia foi marcada para o fim da tarde, quando o sol começava a se inclinar atrás das colinas e o dourado se derramava sobre tudo como mel espesso. Uma capela centenária, silenciosa e imponente, decorada com galhos de oliveiras, lavandas e pequenas flores brancas — nada grandioso, mas absolutamente deslumbrante. Foi a escolha de Savannah se casar ali, era um sonho antigo dela, que Thomas fez questão de realizar. Thomas, de terno cinza grafite e gravata preta, estava parado diante do altar, as mãos cruzadas atrás do corpo, parecendo calmo. Mas só quem o conhecia de verdade veria o maxilar travado, os dedos impacientes. Ele nã
A Montserrat Enterprises estava no topo.As ações batiam recordes históricos, os relatórios da Bloomberg a listavam entre as empresas mais sólidas da Europa, e Savannah Montserrat, mesmo em licença-maternidade forçada (obrigada por um certo CEO com mania de controlar o mundo), ainda era citada como uma das mentes mais brilhantes do mercado internacional.Mas, naquele momento, ela estava mais interessada em tentar colocar meias de compressão. Sozinha.— Eu só queria um minuto de dignidade, Thomas! Um!— Mas você sabe que não pode ficar abaixando desse jeito, Savvy! Vai ficar tonta! — Thomas apareceu com a testa franzida, os cabelos um pouco bagunçados, usando um moletom cinza com a estampa "Dad Mode: Loading". — Deixa eu te ajudar.Ela bufou, mas ergueu o pé com dificuldade.— Sabe o que eu odeio mais do que a sua insistência com essas meias ridículas? — perguntou, enquanto ele calçava com cuidado.— Você me chamar de “Monts” em reuniões públicas?— Isso também. Mas o que eu odeio de v
O ar dentro da sala de reuniões era pesado, como se até as paredes estivessem cientes da tensão. Meus passos soavam altos sobre o chão de mármore enquanto eu caminhava, mantendo a postura impecável, como uma mulher que não se intimida facilmente.Savannah Harper, consultora de grandes empresas. Uma mulher que sabia exatamente como fazer negócios e, mais importante, como lidar com homens como ele. Homens que acreditavam que o mundo se curvava diante do seu poder.Thomas Montserrat, CEO da Montserrat Enterprises, herdeiro de um império bilionário. Ele não era apenas um homem de negócios. Ele era um ícone. E por mais que eu tivesse ouvido falar dele, nada me preparou para encontrá-lo frente a frente.Ele estava parado ao lado da janela panorâmica, observando a cidade com a frieza de alguém que a possui.Quando ele se virou e nossos olhares se encontraram, o impacto foi imediato. Aquele olhar penetrante, desnudava tudo sem dizer uma palavra. Ele me analisava como se fosse uma equação que
A porta do escritório se fechou com um leve estalo, mas a sensação de estar presa naquele lugar, sob a mesma cobertura que Thomas Montserrat, me seguiu até o corredor. Eu poderia sentir o peso do seu olhar, mesmo quando ele não estava mais tão perto. Naquele momento, ele já era uma presença que eu não conseguiria ignorar.Respirei fundo, tentando afastar a sensação de estar completamente absorvida pela sua aura, pela maneira como ele me desafiava a cada vez que fala, com cada gesto. Não era apenas o poder dele que me afetava. Era algo mais profundo. Quando passei pela porta do prédio e saí para a rua, as ruas movimentadas da cidade pareciam mais tranquilas, como se o mundo tivesse recuado por um momento, me dando espaço para respirar. Mas minha mente estava longe da calma da cidade. Eu nunca tinha odiado alguém da maneira como odiava Thomas. Não era um ódio visceral, mas algo mais sutil, uma amargura que crescia a cada momento que ele estava ao meu redor. Algo que eu cultivava há te
A reunião terminou com uma sensação no ar de que nada tinha sido resolvido, mas tudo tinha sido observado. Eu sentia os olhares dos diretores e acionistas fixados em mim enquanto saía da sala. Alguns pareciam satisfeitos com as explicações, outros, menos confiantes. A verdade é que todos estavam mais preocupados com o futuro da empresa do que com as minhas palavras, mas eu sabia que o único que realmente importava era Thomas Montserrat.Ele estava ali, no centro de tudo, mas agora não era mais o centro da minha atenção. Eu estava conversando com Richard Sanders, um dos diretores mais experientes da empresa, que tinha sido um dos poucos dispostos a ouvir minhas ideias com mais atenção. Ele parecia genuinamente interessado nas soluções que eu estava propondo.— Não é fácil, Savannah. Eu sei que ele tem um jeito... peculiar de lidar com as coisas, mas você parece ter a abordagem certa para salvar isso tudo. — Richard falou, com a voz baixa, como se temesse ser ouvido.Eu sorri levemente,
O dia tinha sido longo. Exaustivo. Estressante. E, ao mesmo tempo, estranhamente satisfatório. Enquanto dirigia de volta para casa, as palavras de Thomas ainda ecoavam na minha mente. Você me odeia? Ele não fazia ideia do que realmente se passava, do peso daquela pergunta.Ódio? Talvez fosse exagero. Mas desprezo? Isso, sim, eu sentia.Estacionei na garagem e soltei um suspiro pesado antes de sair do carro. Minha cabeça ainda fervilhava, tanto pelas estratégias que eu precisaria traçar para salvar a Montserrat Enterprises quanto pela promessa silenciosa que eu havia feito a mim mesma.Mas, assim que abri a porta de casa, meu foco desviou completamente ao ver uma mala largada na sala e uma silhueta familiar parada na cozinha, segurando uma taça de vinho.— Você voltou! — Falei surpresa, fechando a porta atrás de mim.Isabelle virou-se para mim com um sorriso cansado.— Voltei. — Ela ergueu a taça como se brindasse. — Surpresa?— Claro que sim! Você disse que ficaria fora mais tempo!—