O sol filtrava-se por entre as árvores altas da floresta, lançando sombras dançantes sobre o chão coberto de folhas secas. O ar estava fresco, com aquele cheiro de madeira úmida e terra viva. Helena caminhava ao lado de Tristan, o arco pendurado nas costas, os olhos curiosos atentos a tudo ao redor.
— Você está certa de que quer fazer isso? — ele perguntou, com aquele meio sorriso provocador. — Não é como preparar unguento, minha bruxinha.
Ela lançou um olhar de canto, desafiadora.
— E você acha que eu sou frágil demais pra puxar uma cordinha?
— Eu só não queria ferir o orgulho de alguém que mal consegue matar uma aranha sem fazer um esc&ac
O sol já começava a se deitar atrás das colinas quando Tristan apareceu no alto da trilha, com um sorriso de menino e um buquê de flores silvestres nas mãos. Os cabelos desgrenhados pela brisa, a camisa aberta no peito e as botas sujas de barro denunciavam a trilha que havia cruzado, só para agradar Helena.Ela o viu pela janela da cozinha e apoiou o queixo nas mãos, sorrindo como quem assiste ao retorno de um sonho bom.— Trouxe um pedaço do campo pra você — ele disse ao entrar, erguendo as flores como um troféu.Helena enxugou as mãos no avental e foi até ele.— Achou que eu ia desmaiar com um buquê de ervas e margaridas? — provocou, pegando as flores com car
Tristan a empurrou devagar até o quarto, os corpos colados, os beijos cada vez mais famintos. As mãos dele agarravam sua cintura como se o mundo estivesse desmoronando ao redor e ela fosse a única âncora.— Eu tô morrendo de desejo por você — ele murmurou contra seus lábios, a voz rouca, carregada de fome e sentimento. — Você não faz ideia do que me causa, bruxa…Helena riu contra a boca dele, o som abafado e cúmplice. O riso logo virou suspiro quando ele a ergueu nos braços e a jogou sobre a cama com um cuidado bruto, como quem segura algo precioso demais pra deixar cair, mas urgente demais para esperar.Ela o puxou pela camisa, rasgando o tecido com uma pressa que ele adorou. Ele retribuiu, livrando-a das roupas em se
A manhã começou estranhamente silenciosa, como se o próprio ar hesitasse em se mover. A névoa ainda pairava sobre o campo quando o som de cascos se aproximando rompeu a paz que havia envolvido a cabana por tantos dias. Helena estava no jardim, colhendo algumas ervas para os unguentos, quando ouviu o trotar apressado e ergueu os olhos. Tristan, que cortava lenha mais adiante, imediatamente largou o machado ao ver o cavaleiro surgindo pela trilha.O homem desmontou rapidamente, a armadura marcada pelo tempo e pela urgência. Não era um mensageiro qualquer — trazia nas mãos um pergaminho com o selo vermelho da coroa. Tristan o reconheceu de imediato.— Sir Tristan? — o homem perguntou, ofegante.— Sou eu. A solidão naquela manhã parecia mais cortante do que nunca. O silêncio da cabana, antes acolhedor, agora soava estranho — como se a ausência de Tristan tivesse deixado um vazio impossível de preencher.Helena varria o chão com movimentos automáticos, os olhos perdidos, o pensamento longe. Tentava se distrair, se ocupar, mas tudo parecia mais demorado, mais silencioso... mais errado. O vento balançava as folhas lá fora, e cada estalo entre os galhos fazia seu corpo enrijecer.Ao longo da tarde, ela tentou preparar um novo unguento, mexendo com raízes secas e flores secadas ao sol, mas suas mãos tremiam demais para manter a concentração. Derrubou um frasco, depois outro. Xingou baixo, irritada consigo mesma, e respirou fundo, apoiando-se na mesa. Estava nervosa sem moti 14.2
O estalar de galhos, o tropel de botas pesadas na lama. Várias. Rápidas. O grito de uma de suas galinhas, seco, cortado no meio. Ela se ergueu num pulo, os olhos arregalados. Correu até a janela e espiou por entre as frestas da madeira.Homens. Armaduras simples, escudos com o brasão do vilarejo. Três... quatro... cinco...Seus pulmões pareciam esquecer como respirar.Ela recuou, trêmula, tropeçando no tapete. Antes que pudesse se mover novamente, a porta foi arrombada com um estrondo que fez a cabana inteira estremecer. A madeira se estilhaçou, batendo contra a parede. Helena gritou, os braços instintivamente cobrindo o rosto.— Helena da Colina Branca — anunciou uma voz autoritária,
As rodas da carroça continuaram a ranger, avançando pelas ruas de terra da vila. O som dos cascos batendo no chão parecia ecoar dentro da cabeça de Helena, como marteladas secas e implacáveis. Rowan já não estava mais em seu campo de visão — só restava o vazio no peito, o eco de sua voz sendo calada à força.Ela se encolheu mais uma vez, agarrada às barras da pequena jaula de madeira. O frio não vinha do clima, mas do olhar das pessoas que surgiam nas janelas, nas portas, nos becos. Como sombras silenciosas, eles a seguiam com os olhos, alguns murmurando orações, outros cuspindo ao chão ao vê-la passar.— Feiticeira… — sussurrou uma mulher, agarrando uma criança pelo braço. Duas semanas se passaramO sino da capela tocou alto naquela manhã cinzenta, cortando o ar como uma lâmina. As badaladas ressoavam por toda a vila, chamando o povo para o que já sabiam ser um espetáculo de condenação. As portas da igreja foram abertas com força e, sob o altar erguido no centro da praça, Padre Mathias surgiu envolto em sua batina escura como breu.A multidão se reunia em ondas, sussurrando entre si. Velhos, mulheres com crianças no colo, jovens ansiosos por ver algo que pudessem contar depois. O ar carregava um cheiro de fumaça e ansiedade.No alto do estrado, Mathias ergueu os braços, as mangas longas pendendo como asas de um corvo.— Irmãos e irmãs! &m16.1
O céu estava coberto por nuvens espessas quando os sinos começaram a soar. Um som lento, arrastado, fúnebre.Na cela, Helena já estava de pé. A noite fora longa, e o sono, inexistente. Seus olhos estavam fundos, mas havia neles uma luz difícil de explicar — algo entre resistência e fé. Fé em uma única coisa: Tristan.Ela ouviu passos pesados, então vozes se aproximando. A tranca rangeu, e dois soldados entraram. Um segurava correntes, o outro, um olhar vazio.— Está na hora, bruxa — disse um deles, sem emoção.Helena não respondeu. Esticou os pulsos com firmeza, encarando os homens. O clique das algemas ressoou como o som final de uma sentença.