Depois que chegamos em casa, Eva e eu fizemos juntos uma receita italiana antiga que minha mãe costumava preparar nos raros domingos nos quais as coisas pareciam normais. Gnocchi al ragù — macios, feitos com batatas cozidas e farinha, enrolados com cuidado por nossas mãos desajeitadas e mergulhados num molho de tomate bem temperado, com vinho tinto e carne desfiada. A cozinha, como sempre, ficou uma bagunça — o resultado de quando decido cozinhar. Molhos respingados no mármore, utensílios sujos espalhados pela bancada e farinha cobrindo a madeira como uma leve camada de neve.

Tentei trazer algum conforto a Eva. E, talvez, a mim mesmo. Não consigo manter a turbulência dentro de mim em silêncio, mas posso ao menos me esforçar para tornar as coisas entre nós menos tensas.

Essa sensação estranha sobre Eva, eu sei… se diz muito mais sobre mim. Não fazem nem duas semanas desde que fui liberado. Recebi minha sentença de inocente e, logo depois, tudo começou a desmoronar novamente. Eva está s