Capítulo 8

No intervalo, as coisas ficaram ainda mais estranhas. Estranhas ao ponto de me deixar constrangido e sem saber o que fazer, pois eu não tinha a mínima ideia do que estava acontecendo. De longe, vi que Estevan estava sentado ao lado dos seus colegas habituais, e se alguém sabia de alguma coisa, essa pessoa era ele.

— Estevan. — interrompi a conversa frenética que havia entre eles. — podemos conversar?

— Podemos — respondeu ele sem jeito e com jeito que estava me escondendo algo.

Estevan era o tipo de cara que não era popular, mas fazia bastante sucesso entre as estrelas daquele sanatório. Se alguém precisasse de alguma coisa, era com ele que se podia conseguir. Acho que até coisas ilícitas, entretanto, ela era um bom primo, e tinha uma coisa que ele não conseguia esconder de mim: era quando ele estava escondendo algo. E isso era evidente.

Estevan se levantou e me puxou para o canto do refeitório, com urgência.

— Desculpa — começou ele —, me desculpe mesmo... — implorou.

— O que foi que houve? — perguntei sem entender.

— Lembra a garota do cinema, a Jess? — perguntou passando a mão nos cabelos.

— Sim, lembro. — franzi o cenho — O que foi que houve, Estevan? — já estava preocupado.

— Ela vazou que você é apaixonado pela Elle... — meu coração foi parar no meio da garganta com aquela informação.

Definitivamente o chão se abriu nos meus pés.

— Como assim...? — perguntei aumentando a voz — Droga! — esbravejei com ódio — Culpa sua, que não consegue ficar de boca fechada. Porra, Estavam!

— Desculpa, hermano. — implorou.

— Não. — falei irritado — Não desculpo. Agora a Elle já deve estar sabendo disso, e é bem provável que ela não queira nem olhar mais na minha cara...

— Daniel... Cara, desculpa... — pediu com a voz baixa. Estevan estava claramente se sentindo culpado, mas aquele momento eu não estava propício para perdoar qualquer coisa que saísse da boca dele.

— Elle é tudo que tenho. E a amizade que eu tinha com ela vai de ralo a baixo, por sua culpa.

— Eu falei para Jess não comentar...

— Pelo jeito não deu muito certo você pedir a ela para ficar calada. — rebati com o tom ríspido, olhando para ele — Agora sei por que todos estão me olhando estranho. — disse olhando ele. Se Estevan pudesse morrer apenas com um olhar, esse olhar seria o meu. Ele estaria morto, ou melhor, morte e tostado.

Novamente os alto-falantes da sala zumbiram alto, e a voz do diretor mais uma vez ecoou por toda a escola.

— Senhoras e senhores... — temperou a garganta como sempre fazia o diretor Ahern, quando ia fazer algum anúncio — Os candidatos para rei e rainha do baile já foram escolhidos. — fez uma pausa e começou — Para rainha serão: Catherine Way... Jess Scorsese e Elle Austin, o que não é nenhuma surpresa. — brincou ao falar o nome de Elle no final. — e para rei serão: Josh Wheaton... Edward Morrow... E... — fez uma pausa — Isso é sério? — cochichou baixo para alguém, mesmo tendo ciência que todos estavam ouvindo. — Temos uma surpresa este ano, e até eu que já vi de todo, estou sem acreditar que uma coisa dessas pudesse acontecer. — fez outra pausa e respirou tão alto, que mais parecia um tornado nos alto-falantes — Daniel Valdez.

Meu mundo definitivamente tinha parado de vez. E tudo que eu não queria que acontecesse na minha vida, estava acontecendo de forma catastrófica.

Eu estava fodido.

Não sei como me concentrei na prova de química daquele dia, mas com certeza usei todo o cérebro para fazer ela. Roberto Boyler estaria orgulhoso da minha proeza. A ideia de ter todos me olhando por saber meu segredo, me deixava cada vez mais perturbado e desconfortável. E a minha maior preocupação era com o que Elle poderia estar pensando sobre mim.

Já havia se passado duas semanas desde o ocorrido, e tudo permanecia na mesma. A única diferença era que Elle não apareceu no colégio nesse período. Era óbvio que ela não tinha ido à escola. Com certeza fugindo da vergonha de ter um amigo feio, malvestido e cheio de acnes gostando dela. Por falta de algo melhor para fazer, quem iria comigo para o baile seria a Catherine Way, mas tecnicamente não foi opção dela, e sim do diretor, que teve um pingo de dó do monstro que eu era. Ela tinha aceitado tão facilmente, que nem me importei, já que as coisas estavam estranhas mesmo. Podia sentir o nojo disfarçado de Catherine quando soube, e isso ainda custaria a metade da nota dela, já que ela não era tão boa aluna assim em algumas matérias, e eu era o que eles chamavam de gênio da química e física.

No caminho para casa, quando o carteiro passou por mim, um frio na espinha tomou conta da minha barriga. Estava nas mãos dele, a resposta de admissão em uma das mais conceituadas universidades dos Estados Unidos, e isso seria uma vitória: uma resposta positiva. Na minha família, eu seria o primeiro a ingressar em uma universidade. Tudo que eu queria, era ser o melhor químico.

Estevan, ao contrário de mim, queria ser mecânico, mas eu nunca pensei diferente. Desde que conheci os cálculos, nunca mais quis outra coisa, e além deles, Elle era uma coisa diferente na minha vida. Era ela que eu queria para ser a mulher da minha vida, mas estava bastante difícil.

— Onde está? — perguntei entrando em casa, quase caindo e sem ar nos pulmões.

— Em cima da bancada. — falou minha mãe apreensiva.

— Quero abrir, mas tenho medo do que possa estar escrito... — falei segurando a carta que poderia conter meu futuro.

— Mi hijo... — começou me acalmando, entretanto, eu sabia que ela estava tão nervosa quanto eu — Deus vai guiar você...

— Vou abrir. — falei olhando para ela, e bem devagar e tremendo, fui rasgando o envelope. E aos poucos, as letras formaram as palavras.

Palavras que me fizeram ainda mais felizes.

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