— Foi um erro. — disse ele, em voz baixa. — Uma recaída sem importância. — Kate soltou um suspiro trêmulo, mas antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, ele acrescentou: — Ela precisava de mim. — Então, mais frio: — E talvez se você não fosse tão obcecada pelo seu trabalho, teria percebido que eu também precisava de algo.
Seu estômago embrulhou. A crueldade em suas palavras a atingiu profundamente, mais cortante que a própria traição. Como ele podia dizer uma coisa dessas? Ela havia trabalhado incansavelmente para construir um futuro para eles, sacrificando tudo, mas sempre reservara um tempo para ele. Sempre. Ela o amara com cada pedaço de si, mesmo nas noites em que chegava em casa exausta, mesmo quando o sentia distante, mesmo quando sentia que algo estava errado, mas se convencia de que era só coisa da sua cabeça. E essa era a desculpa dele? Adônis expirou bruscamente, passando a mão pelos cabelos. — Eu não quis dizer... Mas ele fez isso. Ela podia ver. A verdade estava escrita em sua postura, no jeito como ele nem sequer estendeu a mão para ela. A compreensão a atingiu de repente, como uma onda gigante se abatendo sobre ela, arrastando-a para baixo. Não se tratava apenas da traição. Tratava-se de tudo. A forma como ele havia desistido muito antes daquele momento, a forma como ele já havia decidido que ela não era o suficiente. E ela nunca tinha previsto isso. Sua visão ficou turva. Ela respirou fundo, mas parecia que estava respirando através de cacos de vidro. Adônis mudou o peso do corpo, como se estivesse esperando por algo, que ela gritasse, chorasse, implorasse para que ele voltasse atrás. Ela não fez nada disso. Em vez disso, forçou-se a olhar para ele — olhar de verdade — e a pessoa parada à sua frente não era o homem que ela pensava conhecer. Talvez nunca tivesse sido. Sua visão ficou turva de fúria e devastação. Ela arrancou o anel de noivado do dedo e o jogou nele. A pequena aliança de ouro e diamantes, antes um símbolo do amor deles, caiu ruidosamente no chão entre eles. — Você não pode me fazer de vilã aqui, Adônis! Você mentiu! Você me traiu! Você nos destruiu! Adônis engoliu em seco, algo cintilava em seu olhar, mas rapidamente o disfarçou. Seu maxilar se apertou enquanto ele se abaixava para pegar o anel. Seus dedos percorreram a aliança, como se testasse o peso do que acabara de perder. FLASHBACK – 5 MESES ATRÁS Adônis tinha acabado de sair de uma reunião noturna quando seu telefone vibrou. Ester... Ele hesitou antes de atender. — Adônis? — sua voz tremia. — Você pode vir aqui? Por favor, eu... eu preciso de você. Contra a sua vontade, ele disse que sim. Quando chegou ao apartamento dela, ela estava um desastre, olhos vermelhos, mãos trêmulas. — Estou grávida. — ela sussurrou, com a voz embargada. — Acabei de descobrir. O estômago de Adônis se contraiu. — Ok... e? — E ele é casado, Adônis! O homem com quem eu estava saindo... ele mentiu para mim. Eu não fazia ideia! E se isso vazar... não sei o que ele vai fazer. — Sua respiração estava curta, ofegante, em pânico. — Não consigo fazer isso sozinha. Preciso de alguém para me proteger. Por favor. — Ester... — Adônis suspirou, passando a mão pelo rosto. — Não vejo como... — Podemos fingir que estamos juntos. — ela desabafou, com desespero transbordando das palavras. — Se a imprensa achar que estou com você, não vai procurar mais ninguém. Ele não vai atrás de mim. Só preciso de tempo para resolver isso. Por favor, Adônis. Ele deu um passo para trás, balançando a cabeça. — Não. De jeito nenhum. Eu amo a Katherine. Quero me casar com ela. Os olhos de Ester ficaram vidrados, uma única lágrima escorrendo pela sua bochecha. — Eu sei, Adônis. E eu odeio te pedir isso. Mas se você realmente a ama, vai entender. Você sabe como é estar preso, não sabe? Não ter saída? Ele sabia. Ele sabia muito bem. — Se você não me ajudar, não sei o que vou fazer. Posso perder tudo. E o bebê... Eu simplesmente... não sei a quem mais recorrer. A culpa o atormentava por dentro. Para ele não se tratava de amor. Não se tratava de Katherine. Tratava-se de fazer a coisa certa. — Só por um tempinho? — ele murmurou, já arrependido. Ester assentiu, com alívio no rosto. — Só até ser seguro. E assim, ele cometeu o maior erro de sua vida. FLASHBACK OFF - PRESENTE Adônis voltou à realidade, com o rosto de Katherine coberto de lágrimas à sua frente, as mãos tremendo de raiva. Ele dissera a si mesmo que era temporário. Que não significava nada. Mas, no fim, custara-lhe tudo. O telefone tocou. Ele não precisou olhar para saber quem era. — É a Ester. — murmurou ele. — A imprensa está de volta, ela está tendo um ataque de pânico. Katherine soltou uma risada entrecortada. — Mentira. Você sabe que é mentira. Mas vá em frente, Adônis. Corra até ela. Banque o herói. É no que você é melhor, certo? — Sua voz falhou e, por um momento, algo dentro dele vacilou. Mas então, com o coração pesado, ele lhe deu as costas. Ele atendeu o chamado, com a voz firme. — Sim, Ester, estou indo. Eu sei, eu sei. Não vou deixar nada acontecer com você. E então, como se estivesse pregando o último prego no caixão, ele fez o impensável: chamou a imprensa. — Vocês entenderam errado. Minha ex e eu terminamos há um tempo. Ester e eu estamos juntos há meses. Sou o pai do bebê dela, ela me ama e eu a amo. O silêncio que se seguiu pareceu morte. Os olhos de Katherine se fixaram nos dele em meio aquela fileira de repórteres, sua expressão vazia, e naquele momento, Adônis percebeu algo que o abalou mais do que qualquer outra coisa. Ele tinha acabado de perdê-la. Para sempre. Os joelhos de Emília cederam. A terra se inclinou sob seus pés e, antes que ela pudesse processar a traição que a atravessava, tudo escureceu. A última coisa que ela viu foi um lampejo de arrependimento nos olhos de Adônis antes de cair no chão.