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1 - Primeiro dia mas já arrumei treta com o chefe!

STELLA HARPER

TRÊS MESES ANTES

O som dos meus saltos ecoava pelo corredor do RH da Winter Enterprises, como um lembrete insistente: eu não pertencia àquele lugar. Era tudo muito limpo, muito organizado, muito caro, e eu era apenas uma fraude vestida de brechó.

Segurei a pasta contra o peito como se ela pudesse proteger meu coração da verdade impressa ali dentro: um currículo que era, basicamente, uma história de ficção.

A luz que entrava pelas janelas gigantescas do edifício não conseguia esquentar o frio que morava dentro de mim. Talvez fosse a temperatura gelada do ar-condicionado. Ou talvez fosse o nome “Winter” gravado em letras metálicas no saguão que me dava calafrios.

Eu estava prestes a ser entrevistada para ser secretária pessoal do CEO, Damian Winter.

E tudo o que tinha era um diploma falsificado, um histórico inventado, e uma dívida impagável herdada do meu falecido pai falido e viciado em jogos.

Entrei na sala e encontrei o entrevistador.

— Senhorita Harper? Sente-se, por favor.

— Obrigada. — respondi com um sorriso treinado, o mesmo que praticara por horas diante do espelho.

Me acomodei, tentando manter a coluna reta e as mãos firmes sobre o colo. Ele começou a folhear minha pasta.

— Formada pela NYU, administração com foco em logística… — murmurou, os olhos deslizando sobre o papel. — Trabalhou na Elridge Group?

— Sim, senhor. Dois anos como assistente executiva.

— Direta ao vice-presidente?

— Exato. Eu lidava com relatórios financeiros, contratos e a agenda internacional. Uma experiência desafiadora, mas enriquecedora.

— Interessante. E… por gentileza, senhorita Harper. — ele se recostou na cadeira — olhe diretamente para essa câmera, atrás de mim.

Eu pisquei.

— A câmera?

— Sim. — disse ele, apontando com a cabeça para uma pequena lente, quase invisível, acima da estante. — Estamos testando um novo protocolo de análise comportamental em entrevistas de alto nível. Pode continuar olhando enquanto responde.

Meu corpo congelou. Meu coração disparou.

Algo naquela lente escura me dava a estranha sensação de estar... sendo julgada. Não pelo entrevistador. Por outra pessoa.

Respirei fundo, com os olhos fixos na câmera.

— A metodologia que usei foi… — comecei, mas as palavras tropeçaram. — Foi… uma análise comparativa entre… — Merda. A boca ficou seca. Eu não sabia o que dizer. Tentei continuar. — Entre… empresas de grande porte e... e seus métodos logísticos.

O silêncio do entrevistador era ensurdecedor. Ele me observava com atenção. Não com reprovação, mas com um ar analítico.

Me senti nua.

Droga, Stella! Você treinou isso.

— Senhor… — engoli em seco — eu… eu menti. Não terminei a faculdade. Eu parei no terceiro semestre. Eu precisava de um emprego. Um que pagasse bem. Eu fiz o que pude. Eu sei que isso deve custar a vaga, mas… não consegui seguir com a mentira.

Uma pausa longa.

Ele apenas me observou. Depois, discretamente, levou a mão ao ouvido, ajustando o pequeno ponto eletrônico em sua orelha. Quem está do outro lado?

— Sim, mas... sim, senhor Winter. — disse ele, voltando o olhar para mim. — Senhorita Harper. Obrigado pela sinceridade.

Fechei os olhos, sentindo a derrota me envolver.

Era isso. Fim da linha.

Eu me preparei para ir embora.

— O cargo é seu.

Meu queixo caiu um pouco.

— O quê?

— Comece na próxima segunda-feira. Você será apresentada diretamente ao senhor Winter.

Não consegui responder. Apenas assenti.

Saí daquela sala atordoada. Algo estava errado. A mentira foi descoberta. E ainda assim… ele me contratou?

Por quê?

[...]

Parece que só o senhor Winter pode me dar a resposta para essa pergunta.

Na manhã do meu primeiro dia de trabalho, fiquei plantada no corredor por um bom tempo, esperando a antiga secretária vir me passar as tarefas.

Esperei, esperei… ninguém.

Resolvi perguntar para alguns funcionários (agora meus colegas) que pareciam mais simpáticos. Mas eles só trocaram olhares divertidos, como se estivessem assistindo a um desastre anunciado. Foi então que me disseram, quase rindo, que a antiga secretária tinha saído correndo, chorando.

Acho que ela não tinha dívidas como eu… só assim para poder ter esse luxo de “explodir” emocionalmente.

Eu custei tanto para entrar nesta empresa. Não importa o quão difícil seja lidar com esse CEO, eu vou aguentar. Certo, secretária Harper?

Respirei fundo, bati três vezes na porta do escritório do CEO, com ritmo calculado.

— Senhor Winter?

— Entre. — A voz grave atravessou a madeira e fez meus dedos e meu coração tremerem levemente.

Abri a porta e levantei os olhos.

Um homem alto estava parado junto à janela panorâmica, virando levemente a cabeça para me olhar.

Me senti presa naqueles olhos castanhos profundos, que ganhavam um brilho dourado quando a luz da janela os atingia no ângulo certo. Cabelos castanhos-claros com mechas que, sob a iluminação, lembravam o mel. Alto, ombros largos, músculos aparentes mesmo debaixo do terno impecável. Bonito de um jeito injusto. E aquela expressão séria, quase fria… ele parecia uma escultura feita para intimidar, não para admirar.

Um CEO tão lindo assim… quão insuportável ele poderia ser?

Tenho certeza de que posso lidar com isso.

[...]

Naquela mesma tarde, já me arrependi amargamente de ter pensado assim.

Se eu não tivesse dívidas para pagar, talvez já tivesse saído correndo, chorando.

— Claro, senhor Winter. O senhor manda, senhor Winter… — murmurei para mim mesma, empilhando as pastas na mesa do meu novo chefe.

A sala dele parecia um mausoléu de vidro e concreto. Fria. Perfeita. Sem uma única folha fora do lugar. Como se qualquer traço de humanidade tivesse sido propositalmente apagado.

— Deve dormir em uma cápsula criogênica e se recarregar via USB. — resmunguei, bufando.

“Revise a planilha, senhorita Harper”

"Traga minha agenda, senhorita Harper"

Nem um “boa tarde”?

Me virei para guardar uma pasta no armário, ainda falando sozinha.

— Aposto que se eu disser “Hey, Siri”, ele responde. “Robô Winter, modelo 001 se apresentando para…”

— Robô?

O sangue desapareceu do meu rosto.

Virei lentamente.

Damian Winter estava parado na porta.

Os braços cruzados, o olhar fixo em mim com uma sobrancelha arqueada. Nenhuma emoção visível e com certeza, nenhuma sombra de humor.

Meu coração batia tão forte que quase cobria o silêncio constrangedor entre nós.

— Você… me chamou de robô?

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