Cap.97
A fumaça começava a subir das entranhas do prédio decadente, um fio cinzento e grotesco contra o céu noturno.
O cheiro de gasolina e destruição impregnava o ar, misturando-se ao metal do sangue que ainda parecia pairar sobre o local. A ordem de Adon tinha sido bem clara: tudo aquilo estava virando cinzas.
Dentro do carro, Selene era um pequeno embrulho de dor e choque.
Encostada na porta do passageiro, pernas dobradas contra o peito, braços envolvendo os joelhos.
Seus olhos estavam fechados, mas as pálpebras tremiam, presas em um limbo entre a exaustão total e um sono impossível, assombrado por luzes vermelhas e risadas cruéis.
Fora do carro, sob a luz fria de um poste quebrado, os três irmãos formavam um triângulo sombrio. Adon, de costas para o veículo, observava as primeiras chamas lamberem as janelas do segundo andar. Eles pareciam figuras sombrias, cobertas de terror — e de sangue.
Átila foi o primeiro a falar, sua voz um sussurro áspero que cortava o estalar das chamas:
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