Cap.98
O carro preto parou em frente ao prédio de Selene com uma precisão silenciosa.
Dentro do carro, Selene abriu os olhos. O movimento foi lento, pesado, como se ela estivesse emergindo de águas profundas. Seu corpo doía, e sua mente estava envolta em um nevoeiro espesso. Ela se endireitou com esforço.
— Consegue andar sozinha? — a voz de Adon era calma, contida, sem a fúria ou a aspereza da noite anterior.
Ela confirmou com um leve aceno de cabeça, sem olhar para ele. Abriu a porta e desceu, as pernas trêmulas encontrando o asfalto firme.
— Não precisa me acompanhar — disse, a voz rouca e fraca.
Ele não insistiu. Selene caminhou até a porta de entrada; sua mão tremeu, mas ela conseguiu abrir.
A porta se fechou atrás dela com um clique final. Só então os carros partiram, desaparecendo na rua tranquila.
Na manhã seguinte, a dor havia se cristalizado em um inchaço violáceo e dolorido em sua bochecha direita. Katleia e Gildete, ao vê-la descer para a cozinha, ficaram paralisadas — a x