Cap.107
A consciência retornou como um afogamento ao contrário. Primeiro, o cheiro: linho limpo, o perfume amadeirado dele nas fronhas e, sob isso, um vestígio do próprio corpo, alterado, marcado.
Depois, a dor. Não era aguda, mas uma lembrança profunda e latejante em cada músculo — uma cartografia de posse mapeada em hematomas sutis e uma sensação de fenda e plenitude em seu centro mais íntimo.
Ela se moveu, e um pequeno gemido escapou-lhe.
— Droga… ele tava tentando me matar? — protestou, sentando-se e caindo novamente com a cabeça no travesseiro, sentindo cada músculo reagir.
A luz da manhã entrava suavemente pelas persianas fechadas, pintando listras douradas no quarto minimalista de Adon.
Ela estava sozinha na cama grande, envolta em lençóis de algodão egípcio que cheiravam a ele. O vazio ao lado ainda estava quente.
A memória inundou-a em ondas vívidas e desconexas: o carpete sob as costas, a luz azul, a dor transformando-se em algo mais, os movimentos dele, a água quente do chu