Selene
A noite estava viva, inquieta. O vento soprava forte pelas muralhas, trazendo o cheiro de metal e terra molhada. A fortaleza dormia em silêncio tenso, como se todos respirassem no mesmo compasso antes da guerra. Eu, porém, não conseguia esperar.
Damian tinha dito: “Esperamos o amanhecer.”
Mas o amanhecer parecia uma eternidade.
Parei diante do espelho. O reflexo mostrava mais do que a fêmea marcada de dois reis, mostrava a mulher cansada de obedecer. Passei a mão pelo capuz escuro que Iara costurou às pressas.
— Você vai mesmo fazer isso? — ela perguntou, parada na porta, o olhar preocupado.
— Já fiz coisas piores, Iara.
— Não sozinha.
— Nunca sozinha. — Toquei o ombro dela — A lua vem comigo.
Iara suspirou e me entregou uma pequena adaga.
— Então leve isso. É leve, mas corta até prata.
— E corta também o medo. — Sorri de lado.
Descemos pelas escadas internas, sem tochas. As sentinelas da noite faziam ronda do outro lado do pátio. Eu me movia rápido, com o capuz cobrindo o rost