Damon
A madrugada tinha cheiro de ferro gasto e de mistério que preciso desvendar. Do alto da muralha, o mundo parecia uma pele marcada, cortes de lama no vale, manchas escuras onde o fogo apagou, pontos de luz tardios nas tendas de cura.
O vento trazia o som das coisas que sobrevivem, passos contidos, um cavalo impaciente, um balde batendo na borda do poço. Nada de gritos. Só cansaço.
Apoiei os cotovelos na pedra fria e respirei fundo até a dor no peito virar só lembrança. Lá embaixo, os arqueiros de guarda trocavam o turno. Mais ao norte, a neve branca não chegava a tocar o chão, mas deixava o ar áspero.
Shadow estava quieto dentro de mim, como lobo que fica atento depois da corrida. Eu sabia que ele escutava o mesmo que eu, o dia se arrastando para nascer, o reino tentando se recompor.
— Você veio cedo. — disse uma voz atrás de mim.
Não precisei olhar para saber quem era. Damian pisa como quem mede o chão antes de confiar. Ele parou ao meu lado, com o manto escuro aberto no peito