Selene
Iara me encontrou no corredor lateral, aquele mais estreito, com as pedras lisas de tanto serem tocadas. Trazia um pano no braço, cheirando a erva e sabão. Ela me olhou do jeito que olha quem viu a gente crescer sem estar perto.
— Está inteira? — perguntou.
— Inteira. — respondi — Só cansada de ter que explicar o óbvio.
Ela deu um risinho.
— “Óbvio” demora a entrar na cabeça de quem teve medo a vida inteira.
— E o que os corredores estão dizendo hoje? — perguntei, sem ironia.
Iara suspirou e encostou as costas na parede, como quem carrega muita história.
— Estão dizendo que você não é só companheira. Que é rainha destinada. — Fez uma pausa — E que, se os reis não admitirem isso logo, o povo vai admitir por eles.
Eu fiquei quieta. Não queria sorrir. Não queria me exaltar. Só queria entender o peso daquilo.
— Eu não pedi coroa, Iara. — falei, de verdade — Pedi caminho. E não sei mais o que eles querem de mim e dos Alfas, eles já reconheceram o que somos, estou marcada.
— Às vezes