Selene
A chuva começou cedo, e parecia não querer terminar. Descia dos céus como se o próprio firmamento chorasse as mortes que eu não conseguia esquecer. Cada gota contra as janelas da fortaleza era um chamado, e eu estava pronta para atender.
O salão principal transbordava de risos. Kaleb deu uma festa para comemorar alguma vitória que não era dele sozinho, mas que ele se apropriava como tudo na vida.
Músicos enchiam os corredores com tambores e flautas, e o cheiro de vinho barato misturava-se ao de carne gordurosa. O som das canecas batendo me alcançava até a cela como um trovão de escárnio.
Mirela, a criada idosa, veio até mim horas antes, enquanto trazia a última tigela de caldo. Abaixou-se rápido, os olhos atentos para os guardas que bocejavam no corredor.
— Hoje é noite de brecha, menina. — Sussurrou, deslizando uma chave pequena, embrulhada em um pedaço de pão duro — Eles vão beber até cair. Se tiver coragem, a lua pode guiar seus pés.
Segurei o pão e a chave como quem segura