Gus chegou com um saco de papel pardo nas mãos e um lenço de seda no pescoço — o mesmo que usara na inauguração da galeria de Clara. A recepcionista não queria deixá-lo subir, mas Reggie apareceu a tempo.
— Ele é importante — disse, piscando para o senhor de andar teatral. — E ela vai gostar de ver um rosto... mesmo que não saiba por quê.
No quarto, Clara estava mais desperta. O quadro com a espiral continuava encostado na parede, e as flores deixadas por Noah começavam a se abrir de verdade. O quarto, antes frio, agora carregava vestígios dela.
Gus entrou como quem não queria atrapalhar.
— Com licença... ou, como diziam os pintores franceses, “je viens en paix”.
Clara o olhou com a testa franzida.
Reggie sorriu.
— Ele é assim mesmo.
Gus se aproximou com reverência, como quem visita uma deusa adormecida.
— Trouxe cookies com gosto de tarde nublada e um livro que você me emprestou e nunca devolvi. Então, tecnicamente, é seu.
Ela olhou o saco de papel, desconfiada, depois olhou pra ele.