Vanessa observou Bruna entrar no jardim de infância e, em seguida, dirigiu-se ao escritório de advocacia.
Ela tirou do bolso o acordo de divórcio redigido por Helder e perguntou ao advogado se era válido.
Helder, ao casar-se com ela, impôs condições: poderia pedir o divórcio a qualquer momento, e ela não teria o direito de recusar.
Esse acordo fora preparado antes do casamento, sem data assinalada, apenas com a assinatura de Helder.
Após confirmar que o acordo era válido, ela assinou seu nome e pediu ao advogado que cuidasse do processo de divórcio.
— Por gentileza, envie o certificado de divórcio diretamente para este endereço quando estiver pronto.
Vanessa deixou o endereço da mansão e se levantou para sair.
Sentiu o nariz arder e ergueu a cabeça para conter as lágrimas.
Ela amava Helder, após o casamento, também se esforçara e nutrira expectativas.
Mas após tantos momentos de frieza e indiferença, seu coração apaixonado foi, aos poucos, se tornando gélido.
Lurdes estava de volta, era seu momento de partir.
Por infeliz coincidência, ao terminar seus compromissos, Vanessa avistou novamente Helder e Lurdes no saguão do primeiro andar do shopping.
Lurdes era muito bonita, exalava uma beleza ousada e selvagem, estava de braços dados com Helder, sorrindo radiante como uma flor.
Helder segurava o filho dela com um braço, o olhar repleto de carinho.
Vanessa prendeu a respiração. Quantas vezes sonhara que Helder a levaria, junto com Bruna, para passear?
As lágrimas, teimosas, deslizaram por seu rosto enquanto ela os encarava, o coração dilacerado.
Com dificuldade, afastou-se.
Ao chegar em casa, preparou um currículo, anexou alguns de seus trabalhos e enviou para diversas empresas de País A nas quais tinha interesse.
Depois, imprimiu sua carta de demissão e levou-a diretamente à empresa.
Após se casar com Helder, este a transferira para longe dele.
Agora, era apenas uma funcionária comum do setor de secretariado.
O processo de desligamento era simples.
Após entregar suas tarefas, poderia sair a qualquer momento.
Voltando do departamento de RH para sua sala, começou a organizar seus pertences.
Logo, ouviu passos e palavras de bajulação vindo da porta.
Vanessa levantou os olhos e viu alguns diretores cercando Helder e Lurdes ao entrarem.
Lurdes havia trocado de roupa, diferente do visual ousado de antes, agora vestia-se de maneira profissional e elegante, imediatamente atraindo todos os olhares.
O braço de Helder estava levemente erguido, protegendo a cintura dela, o olhar fixo em Lurdes, sem desviar por um segundo sequer.
O coração de Vanessa foi atingido, ela olhou para Helder, mas ele permaneceu indiferente, obrigando-a a baixar os olhos.
No instante seguinte, já estavam diante dela.
— Vanessa, esta é a Srta. Lurdes, namorada do Sr. Helder. Ela irá assumir seu cargo. Você será transferida para o departamento de vendas. Faça a transição o mais rápido possível.
Namorada do Sr. Lopes?
Helder não negou.
Os olhos de Vanessa arderam, ela apertou o punho com força.
Helder parecia ansioso para devolver o cargo a Lurdes, sem se importar com os sentimentos dela ou de Bruna.
Vanessa olhou novamente para Helder.
— Helder...
Não terminou a frase, pois ele a interrompeu com um olhar gélido de advertência.
— Srta. Vanessa, qualquer insatisfação com a mudança de setor deve ser tratada com seu superior imediato. — Ele franziu o cenho, não querendo que ela mencionasse a relação entre eles. — Ela é mais adequada para essa posição do que você.
Vanessa entendeu que não se referia apenas ao trabalho.
Uma dor aguda tomou conta de seu peito, mas ela manteve a compostura. Ele realmente não se importava com ela.
— Está bem.
Vanessa assentiu e apertou a mão de Lurdes.
Helder, satisfeito, voltou a olhar para Lurdes, trocando a frieza do olhar por uma ternura evidente.
Aquele tipo de olhar, nem ela nem Bruna jamais haviam recebido.
A diferença entre amar e não amar era, afinal, tão clara.
Felizmente, ela já não esperava mais nada.
Naquela noite, a empresa organizou um evento de integração de última hora para comemorar a entrada de Lurdes. Vanessa já havia pedido demissão e não pretendia comparecer, mas Lurdes insistiu.
— Srta. Vanessa, você está chateada porque tomei seu lugar? Por isso não quer ir à minha festa de boas-vindas? Não quis tirar nada de ninguém, foi tudo decisão do Helder. É meu primeiro dia, gostaria muito de conversar mais com você. Não conheço quase ninguém aqui. Pode me acompanhar?
Vanessa percebeu o duplo sentido no olhar dela, sorriu levemente e negou com a cabeça.
— Você está enganada. Preciso buscar minha filha, desculpe.
— E seu marido? Ele pode buscá-la para você!
Marido?
— Não tenho marido.
Vanessa respondeu com indiferença, mas por dentro, sentia-se profundamente amargurada.
Helder jamais admitira ser seu marido, entre eles, sempre existira uma barreira.
Ter ou não ter dava na mesma.
— Desculpe, eu não sabia. — Lurdes se desculpou, mas não desistiu de convencê-la. — Que tal trazer sua filha também? Meu filho estará lá, eles podem brincar juntos.
— Melhor não, minha filha não gosta desse tipo de evento.
Enquanto falava, uma pequena figura correu em direção a Vanessa.
— Mamãe, hoje foi o tio quem me buscou na escola! — Bruna correu para os braços de Vanessa, a voz cheia de alegria. — Ele até me trouxe para te encontrar!
Vanessa ficou surpresa. Helder nem sabia em qual jardim de infância Bruna estudava, por que foi buscá-la de repente?
Ela levantou o olhar e viu Helder caminhando de longe, com um sorriso nos lábios, atento apenas a Lurdes, nem sequer lhe dirigindo um olhar de relance.
Lurdes estava visivelmente confusa.
— Helder, você conhece a filha da Srta. Vanessa?
— Quando fui buscar o Mário, a encontrei e a trouxe junto. Ela é filha de Vanessa, já veio algumas vezes à empresa. — Helder explicou, preocupado que Lurdes interpretasse mal a situação.
Ao mencionar Bruna e Vanessa, seu tom era frio e distante.
Como se fossem completos estranhos, temendo qualquer associação.
Bruna se preparava para chamá-lo.
Vanessa olhou para a filha e balançou discretamente a cabeça. Bruna baixou os olhos, entristecida.
— Entendi... Você ainda não sabe, mas essa menina não tem pai. Melhor não transferir a Srta. Mendes para o departamento de vendas, criar uma filha sozinha não é fácil.
Helder franziu levemente a testa, lançou um olhar para Vanessa e, em seguida, respondeu:
— Está bem, você decide.
Lurdes sorriu satisfeita e assentiu com doçura.
Os dois trocaram olhares, alheios a todos ao redor.
Bruna agarrou a roupa de Vanessa, escondendo o rosto em suas pernas.
— Mamãe, papai.
A voz de Mário interrompeu o momento.
Ele correu até Helder e o abraçou pela perna.
— Papai, me pega!