A lua cheia já minguava no horizonte quando o primeiro dos quarenta e quatro mil lobisomens espirituais atravessou novamente os portões do inferno.
Não veio correndo.
Não veio triunfante.
Veio mastigando.
Um pedaço de alma humana ainda escorria de suas presas — um fiapo de luz manchada.
O diabo, agora descansado e bem-humorado depois de suas vinte horas infernais de folga, observava tudo sentado em seu trono de escórias estelares.
— Vamos lá, meus campeões da noite — disse ele, batendo palmas. — Quero ouvir o que trouxeram para o papai.
E então começou o desfile.
Um por um, milhares de lobisomens retornaram.
Alguns riam.
Alguns ainda lamuriavam o sabor das vítimas.
Outros vinham com olhos arregalados, como crianças impressionadas com um parque de diversões macabro.
— Próximo! — berrou o diabo, animado.
AS CONFISSÕES
O primeiro relato foi simples:
— Peguei uma mulher perto do rio. Ela corria. Eu também corri. Ela gritou. Eu mordi.
— Sabor? — perguntou o diabo.
— Amargo, chefe.