A grande sala do Inferno nunca estava verdadeiramente iluminada.
As chamas que preenchiam o salão eram mais escuras que fogo, mais pesadas que fumaça, e menos luz do que memória de luz. Erguiam-se do chão como serpentes adormecidas, enrolando-se nos pilares de ossos, projetando sombras que tremiam como se fossem vivas — e eram.
Era ali que a família-lobisomem voltava depois de cada travessia lunar.
A cada retorno, traziam consigo algo novo:
um cheiro de terra estrangeira, uma lasca de fúria ancestral, a essência amarga do medo humano… e o gosto da carne dos condenados.
Naquela noite, porém, o salão estava vibrando.
Até os demônios mais antigos sentiam a mudança de temperatura, como se um novo tipo de escuridão tivesse sido inventado.
O diabo estava à espera no trono feito de vértebras — sorrindo.
A família, ainda envolta na forma única do lobisomem — um corpo de muitos corpos, uma alma de muitas bocas, uma fome de muitas vidas — dissolveu-se aos poucos. O lobo se abriu como um eclip