Ela…
“Coisas que a gente engole até sumir (ou quase)”
— Olha só quem voltou. Não achei que você fosse do tipo que cumpre promessas — A voz da terapeuta cortou o ar assim que entrei na sala.
Ela não sorriu.
Na verdade, a doutora Marina raramente sorria ao que parecia.
Mas seu humor mordaz era seu cartão de visitas.
E, de algum modo deturpado, aquilo me fazia voltar.
— Acho que sou masoquista — murmurei, me sentando no mesmo sofá da semana passada.
— Não. Você é só mais uma pessoa que vive negando a própria dor até ela te arrastar pelos cabelos. Mas bem-vinda. Pode começar onde parou: em lugar nenhum.
Ela cruzou as pernas, apoiou o cotovelo na poltrona e me lançou aquele olhar clínico que fuzila sem pressa.
Engoli em seco.
— Eu não sou boa com isso.
— Com o quê? Sentir? Ou admitir que sente?
A respiração me travou no peito.
Ela continuava com a mesma precisão de um cirurgião.
Cada frase era uma lâmina afiada.
—