O céu de Londres amanhecia cinzento, e as nuvens cobriam os prédios como um lençol pesado. Isabela acordou sentindo algo estranho no estômago. Não era fome, nem enjoo comum. Era como se o corpo dela estivesse tentando dizer algo.
Levantou-se com cuidado, caminhando até o banheiro. Lavou o rosto, prendeu o cabelo num coque rápido, e assim que o cheiro do sabonete alcançou suas narinas, ela se dobrou sobre a pia, tentando conter o vômito.
Era a terceira vez naquela semana.
No início, pensou que estivesse com alguma virose ou que fosse apenas resultado das noites mal dormidas por conta da rotina puxada da padaria. Mas agora… algo parecia diferente. Algo mais profundo. Mais instintivo.
Saiu do banheiro, encontrou Lorenzo ainda deitado, de costas, respirando fundo. Hesitou em acordá-lo, mas a ansiedade era maior.
— Enzo… — chamou baixinho, tocando o ombro dele.
— Hum? Que foi, amor?
— Acho que tem algo errado comigo.
Ele se virou rapidamente, já despertando.
— O quê? Tá sentindo o quê?
Ela mordeu o lábio, insegura.
— Tô enjoando muito. Atrasada. Cansada o tempo todo. E…
Ela não completou a frase. Mas não precisou.
Os olhos de Lorenzo se arregalaram. Ele se sentou devagar, absorvendo a ideia.
— Você acha que…?
— Não sei. Mas é possível.
Ficaram alguns segundos em silêncio, olhando um para o outro. Era como se o tempo tivesse parado, como se os dois estivessem flutuando sobre uma linha invisível entre o medo e a alegria.
— A gente vai ter um bebê? — ele perguntou, quase sem acreditar.
— Ainda não sei, Lorenzo. Mas tem chance.
— A gente precisa confirmar. Agora.
---
O caminho até a farmácia foi feito em silêncio, mãos dadas, passos apressados. Era estranho. Era assustador. Era intenso.
Compraram dois testes e voltaram para casa. Isabela foi direto para o banheiro enquanto Lorenzo esperava do lado de fora, andando de um lado para o outro como um leão em jaula.
— E então? — ele perguntou, assim que ela saiu.
Ela não disse nada. Apenas estendeu os testes para ele. Dois tracinhos cor-de-rosa. Claros, mas nítidos.
— Positivos.
Lorenzo passou a mão no cabelo, deu um passo para trás. Sentou-se no sofá, os olhos vidrados nos testes.
— A gente vai ser pai e mãe… — murmurou.
Ela assentiu, engolindo em seco.
— Eu tô com medo, Enzo. A gente nem se preparou. Não temos casa própria. Mal aprendemos a conviver ainda…
— Ei — ele se aproximou, segurando seu rosto entre as mãos. — Eu também tô assustado. Mas tô com você. Até o fim.
Ela sorriu, mas seus olhos estavam cheios de dúvidas.
— Como a gente vai dar conta?
— A gente vai errar. Vai aprender. Vai crescer. Juntos. E vamos amar esse bebê mais do que qualquer coisa.
— E se não der certo?
— Vai dar. Porque você é a mulher mais forte que eu conheço. E porque eu te amo. Isso é o bastante pra começar.
Ela riu entre lágrimas.
— Eu nunca imaginei ser mãe tão cedo.
— E eu nunca imaginei ser pai. Mas… olha só. — Ele colocou a mão sobre o ventre dela. — Nosso bebê já está aqui.
— Um grãozinho de gente.
— Um pedacinho nosso.
Eles se abraçaram longamente, como se o mundo lá fora deixasse de existir. Era só os dois — e agora, mais um.
---
Nas semanas seguintes, a rotina mudou. Isabela passou a sentir mais sono, mais enjoo, mais emoções confusas. Lorenzo, por sua vez, se tornara hiperprotetor. Não deixava que ela carregasse nada pesado, vigiava cada refeição, e a acompanhava em todas as consultas.
Na primeira ultrassonografia, o coração do bebê pulsava rápido na tela. Isabela chorou. Lorenzo segurou sua mão com força, emocionado.
— Parece um tambor — ele sussurrou.
— É nosso filho. Ou filha.
— E é lindo. Mesmo parecendo um feijãozinho.
Eles riram. Pela primeira vez em semanas, riram de verdade.
Ali, naquela sala gelada, com o som do coraçãozinho preenchendo o ambiente, Lorenzo percebeu algo: a vida dele havia mudado. Definitivamente. Ele não era mais o mesmo homem da máfia, das noites em claro, dos riscos impensados.
Agora ele era pai.
E estava prestes a aprender que o amor verdadeiro não nasce apenas da paixão... mas também do medo e da coragem de enfrentar o desconhecido.