Numa tentativa de fugir da fome e da miséria, Maria aceita o convite de uma vizinha para ir para o Rio de Janeiro, depois que de saber que sua filha havia conseguido um emprego e se dado bem. Ao chegar na cidade, onde não conhecia ninguém, além da filha da vizinha, é informada que um destino completamente diferente esperava por ela e agora dependia apenas dela mudar seu destino.
Ler maisMeses antes
Apesar de entender os riscos da vida que levo, nunca me imaginei indo em um presídio.
Poderia ser eu presa? Não. Não sou burra o bastante para deixarem me pegar. Já fui um dia, hoje não sou mais.
Era humilhante ficar em uma fila por mais de uma hora, em baixo do sol ou da chuva, para ter alguns minutos na visita.
É domingo, dia de visita no Presídio Federal do Rio de Janeiro.
Mães, esposas, filhas...esperam para entrar aos poucos na construção gélida.
Até aquele dia, nunca tinha ido antes em um presídio, sabia o que já tinha ouvido por aí.
Quem tivesse a mente fraca, sucumbiria logo.
A cadeia mexia com o psicológico.
Me levam para uma sala, quando chega minha vez, onde preciso me despir completamente e inclusive ficar agachada sobre um espelho, para terem certeza de que não estava levando nada no meu útero.
Depois da revista, assino um papel com diversos outros nomes e sou guiada até um pátio com diversas cadeiras e mesas de plásticos.
Alguns presos choravam baixo ao ver suas mães. Outros escondiam bem a emoção, ao ver os filhos.
A maioria ali estava por tráfico, roubo e delitos mais graves.
Sento em uma mesa vazia num canto, olhando com atenção o movimento, até que nossos olhos se cruzam e vejo a surpresa e incredulidade se misturarem em seu rosto.
– O que tu tá fazendo aqui, Antônia? – pergunta com o maxilar tenso ao se aproximar.
– Não vai sentar?
– Tenho nada pra falar contigo não – diz com os punhos cerrados – Não era nem pra tá aqui.
Inspiro profundamente, mantendo meus olhos fixos nele.
O conhecia bem o suficiente, para saber que nunca conseguiria dar as costas para mim.
– Vai me deixar falar ou não?
– Manda o papo reto.
– Preciso da tua ajuda.
Ele ri sarcástico.
– Tu já viu onde estou? Tô engaiolado. Não tô podendo ajudar ninguém não – vocifera irritado – Tô dependendo da Doutora Gabriela para me tirar daqui.
Pressiono os lábios, meus olhos vagando pela mesa com alguns riscos.
– Se tu não me ajudar, ele vai me matar.
Ele nega com a cabeça incrédulo.
– O que tu fez dessa vez?
Ergo os olhos, o encarando novamente sem demonstrar qualquer emoção.
– Tô grávida – Ele ergue as sobrancelhas, fingindo que não ligava. Apesar de ter certeza, que sentia o contrário – E tirei o morro dele – Ele franze o cenho, puxando a cadeira para se sentar.
Reprimo um grito quando uma contração me atinge em cheio.Puta que pariu! Não sabia que doía tanto. Não tinha ideia.Com certeza era pior do que levar um tiro. Havia visto em algum lugar, que a dor de parir era a segunda pior for do mundo, perdendo apenas em ser queimado vivo.Segundo pesquisas, o corpo humano consegue aguentar aproximadamente 47 dels. Partindo disso, para se ter um meio de comparação, estabeleceu-se que o parto causa 57 dels de dor, o equivalente a sentir 20 ossos sendo quebrados de uma só vez.Estava sendo quebrada de dentro para fora, tudo isso por quê um bebê queria nascer.Continuo andando ignorando a dor, sentindo passar, deixando para trás vestígios pelo meu corpo.Tiro as correntes de um barracão sem me importar de olhar para os do
Permaneço dentro do carro sem conseguir girar a chave na ignição. Lembrando detalhadamente de Marco e a ameaça de Gael.Tentando lembrar quando minha vida se tornou tão confusa.O nome de Lidiane aparece, quando meu celular toca.Soltando o ar dos pulmões, pego o aparelho sem muita vontade de falar com ela.- Aonde você tá? – pergunta irritada do outro lado da linha – Saiu daqui de manhã, até agora!- Gael vai me matar – digo sem rodeios e sem alarde.Ela bufa, sem dar muita importância, voltando para sua irritação costumeira.- Sei disso desde do momento que pegou a favela pra você. Não, pera aí... – Ela solta o ar dos pulmões – Para ser sincera, seu disso desde que começou a se envolv
Marco estava sentado do meu lado, tentando assimilar ambas as informações.Os pulsos algemados estavam sobre a mesa. A expressão perdida.- Como você tirou o morro dele? – As palavras saem de sua boca finalmente, quebrando o silêncio.- Tirando – Dou de ombros. Não havia sido uma tarefa fácil e ainda não estava sendo.- Como assim, tirando? – Ele me olha indignado. Não acreditando no que estava ouvindo – Não tinha como você ser a próxima da sucessão. Tinha o...- Está morto – digo suspirando, apoiando a cabeça em minha mão – Era a pessoa mais do que certa de ocupar a função. Conheço o jeito que Gael trabalhava e sabia o que se via ser feito.Ele passa as mãos pelo rosto, so
Duas semanas depois Fazia duas semanas que os policias não entravam na favela.Isto por causa da propina de 20 mil oferecida. Havia mandado deixar bem claro, que era para ser avisada de qualquer operação que tivesse prevista para a favela.A venda de droga continuava constante e os números só cresciam. Não havia muito para eu fazer. Além de tomar decisões e receber os lucros.Depois de balear Rubinho, foi “fácil" aplicar algumas punições, mostrando que não estava ali para brincadeira.Aos poucos meu nome se espalhava, ganhando força.Mesmo sendo a dona do Morro do Alemão, precisei me aliar a uma das mais fortes quadrilhas que dominava o Rio de Janeiro e para entrar, precisei matar.Aos poucos, me acostu
- Aonde a gente tá indo? – Lidiane tenta me acompanhar, enquanto subíamos a rua.- Pra casa do Gael.Ela para de andar.- Perdeu o juízo? Deve ter polícia lá – Me viro para ela, andando de costa.- Acha mesmo que vão armar uma campana lá?- Gael assim como o Marco, é considerado perigoso e procurado pela polícia.Dou de ombros.- Vou do mesmo jeito – Giro meu corpo voltando a andar. Lidiane continua a me seguir, atenta a qualquer movimento estranho ao nosso redor.Paro na esquina da casa de Gael, olhando com atenção a rua quase deserta. Noto pingos de sangue na rua de paralelepípedo. Ando em passos largos até o portão aberto da casa de Gael, percebendo que o sangue vinha da calçada e não de dentro da c
Antes mesmo de abrir os olhos, já estava me sentindo enjoada.Saio da cama rapidamente, notando com uma rápida olhada na cama que, Gael não estava mais nela.Entro no banheiro não me importando em fechar a porta do banheiro, vomito a água que havia em meu estômago e inclusive a bile. Que era horrível.Apoiada no azulejo respiro fundo, me recompondo. O enjoo continuava em meu estômago, liberando um desconforto em todo meu corpo.Olho na direção da porta aberta, ao escutar a voz de Rubinho. Havia passado com tanta pressa para o banheiro, que não havia percebido ele na sala.Escovando os dentes e lavando meu rosto, deixo o banheiro em “busca” da minha calça jeans. Gael estava inclinado para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos de cabeça baixa, apenas vestido em uma bermuda. Enquanto em sua frente, estava Rubinho em pé, igual um urubu.<
Último capítulo