"Amiga, durma com meu marido" narra a história de Ana Clara, uma jovem impulsiva e sonhadora, que decide tomar as rédeas de sua vida amorosa ao recrutar o desconhecido Pedro para um namoro falso. Seu objetivo: despertar ciúmes em seu ex-namorado, um rapaz que a traiu de forma sórdida. Ana Clara, cheia de planos e vivacidade, contrasta drasticamente com Pedro, um homem reservado e pragmático. Entre situações constrangedoras e cômicas, eles mergulham em um relacionamento de fachada, onde a única coisa real é a diferença gritante entre suas personalidades. No entanto, à medida que encenam seu romance para o mundo, algo surpreendente acontece: uma inesperada e genuína conexão começa a se formar entre eles. Mas o ano de 1998, que parecia eterno, não durou para sempre como desejavam. De repente, tudo mudou. A garota cheia de sonhos realizou o mais impossível deles, apenas para se arrepender amargamente do que um dia desejou. Fugindo do sonho que virou pesadelo, Ana Clara está de volta à sua cidade natal depois de anos e é abalada quando sua melhor amiga faz um pedido inusitado e perturbador: que ela durma com seu marido.
Leer más“Tudo que acontece uma vez pode nunca mais acontecer. Mas tudo que acontece duas vezes, acontecerá certamente uma terceira.” Paulo Coelho (O Alquimista)
CAPÍTULO 1. PRÓLOGO
No momento que Ana Clara pisou na cafeteria, onde há mais de vinte anos atrás era uma locadora de CD’S, sentiu as pernas fraquejarem e o coração acelerar. Se fechasse os olhos, ainda lembrava de cada momento que passou naquele lugar e ainda podia ver as prateleiras tomando conta de todas as paredes, coloridas, com as capas de CD’S das melhores bandas nacionais e internacionais.
Olhou para baixo, observando a parede branca, vazia. Sorriu sozinha ao lembrar que ali ficavam os seus favoritos: “Surf Music”. Fez uma careta e chegou a sentir vontade de vomitar.
- Clara?
Ouvir a voz de sua amiga tanto tempo depois foi como se tivesse chegado em casa... Mesmo sabendo que “casa” não existia mais.
Andou vagarosamente até a amiga, observando-a minuciosamente. A mulher não havia mudado nada naqueles anos. A pele continuava bonita e não notou uma ruga sequer. Os cabelos seguiam compridos, no mesmo corte de antigamente. E a desgraçada sequer havia engordado uma grama.
Ficou incerta de como agir. Deveria abraçá-la e perguntar de vez o que ela queria? Ou apertar sua mão, fingindo que mal sabia quem ela era depois de tantos anos?
Houve um dia em que dividiram os sonhos, os planos, a comida, todos os segredos e uma vida. Agora eram meras conhecidas. Cada uma havia seguido seu caminho, embora o daquela mulher tivesse roubado parte de sua estrada.
Antes que pudesse decidir o que fazer, a outra veio na sua direção e deu-lhe um forte abraço.
Ana Clara respirou fundo, sentindo o cheiro de perfume caro emanando do corpo dela. A diferença era que atualmente também podia se dar ao luxo de usar importados e não precisava pegar emprestado. Não deveria haver mágoas... Achou que tudo já tivesse sido superado. Mas pelo visto estava enganada.
- Quanto tempo! – A outra sorriu, de forma sincera.
- Sim... Muito.
Ambas se sentaram e ficaram um tempo em silêncio.
- Você não mudou nada, Clara. Por Deus, dormiu no formol?
As duas riram e Clara não pôde deixar de dizer:
- Pensei o mesmo de você.
- Eu... Não vinha aqui há anos – a outra confessou – E não pensei que entrar neste lugar pudesse me trazer tanta saudade.
Ana Clara suspirou:
- Lembro até onde ficavam meus CD’S preferidos. – Ouviu-se confessando, como se aquela mulher continuasse sendo a pessoa em quem mais confiou durante anos.
- Ali! – Apontou a morena, com os cabelos lisos, sem franja, um pouco acima da cintura.
E claro que não errou. A prateleira de surf music ficava exatamente abaixo da atual janela.
- A vi na internet... E em algumas revistas por aí. – Ouviu-a dizendo – Sabe que dia destes eu estava num consultório e li uma entrevista sua e mostrei para todo mundo que esperava na sala! – sorriu – Senti orgulho de você...
- E o que você tem feito? – Clara quis saber, tentando não ser intrometida ou parecer curiosa.
- Me formei em arquitetura. Mas não trabalho na área.
- E trabalha em que?
- Cuido da empresa do meu pai.
Clara riu, balançando a cabeça. No fundo imaginou que aquilo aconteceria, já que ela era filha única e os negócios da família sempre foram muito promissores.
- Eu vi seu irmão. – Ela comentou, fingindo desinteresse.
- Sim... Eu... Estou com ele.
- Pedi que ele me desse seu número quando soube que você estava de volta. Mas como Renan me explicou que ainda não tinha um número decidi marcar o nosso encontro. Não pude esperar. Fiquei com medo que partisse novamente... Do nada.
- Estou com um telefone emprestado... De um amigo. – Expliquei, mostrando o celular de última geração, que realmente não era meu e eu sequer sabia o número.
- Renan voltou quando?
- Faz um mês eu acho.
- Combinaram de voltar ao mesmo tempo os dois?
- Não. Foi mesmo uma coincidência. Ele está na casa que era dos nossos pais. E achei melhor ficar lá com ele.
- Renan... Casou?
- Sim.
Ela abaixou a cabeça. Ana Clara teve dúvidas se a antiga amiga poderia ainda nutrir algum tipo de sentimento por Renan. Riu, em seu íntimo, achando muito cinismo se realmente fosse verdade. Poderia dizer que seu irmão casou sim, mas já estava divorciado pela segunda vez e tinha um filho. Mas aquela mulher não merecia ouvir aquilo.
- Não houve um dia em que não pensei em você. – Os olhos azuis dela pareciam sinceros.
E realmente aquilo poderia ser verdadeiro, já que Clara também sentiu falta dela. Porém ao contrário, não teve tempo de pensar na amiga uma só vez, porque sua vida era uma caixa de surpresas, uma bomba atômica prestes a explodir a qualquer hora. Tanto que explodiu e Ana Clara estava ali, naquela cafeteria, onde um dia foi a loja de CD’S mais badalada da cidade de Laranjeiras, interior de Noriah Norte.
- Como ele está? – Clara se ouviu perguntando, com o coração batendo tão forte que o sentia na garganta, na palma da mão e até na circulação do sangue.
Poderia fingir que não sabia de nada, mas achou que era melhor jogar limpo. Não que quisesse saber o que de fato aconteceu naquele tempo em que esteve fora, mas esperava ao menos receber uma explicação... Única que fosse.
- Ele está bem. Você esperava o quê?
- Foi só uma pergunta. Na verdade, eu não esperava nada.
Olhou o dedo anelar da amiga, que ostentava a bela aliança grossa de ouro.
- Você se divorciou? – A morena perguntou, parecendo ter a mesma curiosidade.
Ana Clara olhou para o anel solitário no dedo médio, a marca da aliança há muito já havia desaparecido.
- Estou viúva. – Tentou não transparecer felicidade e alívio ao dizer aquilo, procurando evitar o largo sorriso que tinha vontade de estampar no rosto.
Pedro suspirou:- É pedir demais tomar um banho com a minha esposa?Sorri e peguei o telefone, ligando para minha mãe:- Oi, mãe. Pode pegar os gêmeos para passear aí na sua casa um pouquinho?Sorri e encerrei a ligação, piscando de forma provocante:- Pedido atendido, Cabide! – Retirei a gravata dele com habilidade.- Os gêmeos brigaram muito hoje?- A cadela deu cinco filhotes e eles conseguem brigar por cada um deles. – Ri.- É muito amor envolvido! – Pedro balançou a cabeça, gargalhando.Logo minha mãe levou as crianças, certamente sabendo o motivo pelo qual estava fazendo aquilo. Pouco me importei, porque ela já estava “um pouco” acostumada.Não tenho certeza se mamãe já tinha fechado o portão quando Pedro me pegou no colo, me assustando, fazendo-me segurar em seu pescoço:- O que é isso? – Comecei a rir.- Isso é um marido... – beijou meu pescoço – Levando sua querida e bela esposa para o banho.Deitei a cabeça no ombro dele e alisei sua nuca, sentindo-me acolhida, amada e ampar
Nossos olhos se encontraram e há metros de distância eu consegui sentir tudo que aquilo significava. Era o momento dele, mas também o meu... O nosso. Porque estivemos juntos em todas as horas, boas e ruins.Pedro esteve ao meu lado nas noites em que os gêmeos choravam. E muitas vezes teve que estudar durante a madrugada porque passávamos mais tempo entre mamadeiras e trocas de fraldas do que qualquer outra coisa.E quando pensávamos que melhoraria, aparecia uma doença. E sempre que um deles tinha algo, o outro também pegava, parecendo combinado.Cheguei a cancelar a faculdade no ano de 2003, porque não dava conta da demanda que era estudar e cuidar das crianças. Em 2004 ele me obrigou a voltar, incentivando-me a não desistir, alegando que as crianças cresceriam e logo a tempestade daria lugar ao sol.Ele sempre segurou a minha mão e me ajudou a passar por todos os obstáculos. Então chegou o tempo que a Clara covarde já não era mais tão fraca. E sabia que dava conta de tudo que aparece
- Não acho, tenho certeza. Não estamos perfeitamente bem? Por que não torcer por eles também?- Talvez eu seja um pouco ciumenta com relação a você.- Um pouco?- Vou ser ciumenta com as crianças também. Acho que preciso ler um dos seus livros.- Eu ia mesmo lhe oferecer. – Confessei, rindo.Conforme íamos nos aproximando da recepção, perguntei:- Como daremos a notícia a eles?- Devagar... Para não ficarem em choque.- Ok. – Concordei.Chegamos na recepção e Josephine, Felix e Flora imediatamente levantaram:- E então, tudo certo? – Josephine perguntou.- Já sabem o sexo? – Flora estava ansiosa.- Bem... – Comecei, com tranquilidade, conforme ela havia sugerido.- São dois bebês – Clara disse de forma imediata – Teremos gêmeos.Houve um minuto de silêncio até que todos processassem a informação. Logo começaram a comemorar e nos abraçaram, fazendo mil planos.Observei o semblante de orgulho e felicidade de Clara. Ainda bem que ela sugeriu darmos a notícia devagar. Comecei a rir sozinh
- Uau! – o médico sorriu – Temos aqui dois embriões. Ou seja, uma gravidez de gêmeos bivitelinos.- O quê? – Clara perguntou, apavorada, sem tirar os olhos da tela.- Os gêmeos bivitelinos são formados por dois ou mais óvulos, que fecundados por dois ou mais espermatozoides, formam indivíduos geneticamente distintos. Dessa forma, a aparência dos gêmeos não será idêntica. Neste caso, temos duas placentas e duas bolsas. – Ele explicou, sem desviar os olhos da tela, parecendo animado.Clara me olhou:- Você pôs “dois” espermatozoides dentro de mim?- Isso foi castigo por termos jogado tantos fora. – Tentei me defender.- Porra, Laís e Lucas vem juntos, de uma vez só? Como vou parir duas crianças ao mesmo tempo, doutor?O médico riu e senti Clara apertar minha mão com força.- A probabilidade de terem um casal é bem grande neste caso. E não se preocupe que é possível parir os dois, embora não ao mesmo tempo... Primeiro um e depois o outro. – Explicou o médico.- Pedro... – Ela me olhou, s
- Literalmente pode ser pior, pois a vagina alarga do tamanho da cabeça do bebê.- Raramente alguém morre por este “alargamento”. Fará o pré-natal certinho e dará tudo certo. Não tem a mínima possibilidade de dar algo errado, entendeu? E você está proibida de me deixar nervoso com isto.Suspirei:- É que eu li...Pedro tapou minha boca com a sua mão:- Estará proibida de ler nos próximos sete meses.Fiz sinal negativo com a cabeça e tentei falar, ainda impedida por ele. Enquanto ainda tentava me expressar oralmente, ele ria.Retirei sua mão e estreitei os olhos, furiosa:- Não pode me proibir de falar.- Posso, sim. Só vai falar se forem coisas boas.- Ok... Eu estava tentando dizer que não posso ficar proibida de ler nos próximos meses.- Não vou deixá-la fazer pesquisas sobre parto ou possíveis problemas que podem acontecer neles. Só ouviremos o médico.- Mas eu precisarei ler muito e fazer pesquisas. Mas não sobre o bebê ou a gravidez.- Sobre o que pesquisaria? – Ficou curioso.-
- E como isso foi acontecer? - Ainda queria entender, incrédulo.- Segundo o médico, o excesso de pílulas do dia seguinte causou alterações no ciclo menstrual, comprometendo a sua eficácia, ou seja, quanto mais se usa, maiores as chances de ela não funcionar e a gestação acontecer.- Eu disse a você que o excesso daquelas pílulas poderiam causar vários efeitos colaterais.- O nosso bebê meio que é um dos efeitos colaterais. – Ri.Pedro me pegou no colo:- O melhor efeito colateral que já aconteceu na minha vida.Enquanto ele me conduzia entre as caixas, tentando encontrar espaço para caminhar, ajeitei seus cabelos negros e perguntei:- Está feliz? Meio que... Você tinha medo de ter um filho.- Sim, realmente tinha... Antes de conhecê-la – me pôs sobre o colchão ainda ensacado num canto do quarto – Agora tudo que quero é realizar todos os nossos sonhos, querida. E neles sempre estiveram inclusas duas crianças.- Acha que vem primeiro o Lucas ou a Laís?- Não importa qual dos dois venha
Último capítulo