capítulo 04: nova aliança?

Cassian*

Anos atrás:

Eu era muito novo quando recebi a notícia de que meu avô — nosso alfa — havia morrido.

Os gritos dos meus pais ecoaram pela casa, as conversas atravessavam os corredores como facas afiadas.

— Os lobos brancos... — meu pai sussurrava, repetidas vezes, a voz embargada de raiva e dor. — Eles se recusaram a ajudá-lo... se recusaram! Ele podia estar vivo agora... se tivessem ido ao seu encontro.

E mesmo sendo apenas uma criança, eu entendia. Entendia bem o que era deslealdade.

Na noite do velório, sentei-me na janela do quarto e olhei para além das montanhas. Pensei em Elara Castro. A loba branca com quem eu deveria me casar, mas que agora não era mais aliada. Agora, era só uma lembrança.

A quem eu havia dado um colar. A quem eu olhava e via aqueles cabelos loiros tão belos.

— Ainda tenho que me casar com Elara? — perguntei inocente.

Meus pais se entreolharam. Os olhos endurecidos, inflexíveis.

— Não. Ela é uma loba branca. E, de agora em diante, será inimiga. Para sempre.

Foi a resposta mais sincera que recebi em toda a minha infância. E naquele momento, entendi: nada restava além de inimizade. E ódio.

                                   ------

Dias antes*

Os anos passaram. Meu pai morreu pouco depois de meu avô, lutando contra o inimigo. E eu segui seus passos. Tornei-me o novo alfa.

Uma raiva silenciosa se instalou em meu peito, crescendo a cada batalha. Havíamos perdido lobos valiosos, amigos de sangue. E, por mais que eu buscasse, não havia solução à vista.

Naquela noite, deitado, encarei o teto escuro. O peso no peito me impedia de respirar em paz. Eu não sonhava mais, fazia anos. Às vezes vinham pesadelos, mas jamais sonhos. Até então. Até aquela noite, quando fechei os olhos e de repente:

Me vi em um campo aberto, cercado por flores. E diante de mim, surgiu ela: alta, pálida, loira. Os cabelos curtos, o olhar gentil.

Minha garganta secou quando ela estendeu a mão para mim e sussurrou:

— Cassian... venha... buscar.

Acordei num sobressalto. Suado, confuso. Meu quarto estava vazio, silencioso. Mas o fogo no peito ardia. Uma dor que parecia um chamado. Algo que eu nunca havia sentido.

Foi quando a criada entrou apressada.

— Meu senhor, seu irmão... Draco desapareceu nas zonas de combate.

Saltei da cama. O calor no corpo, o coração pesado engoli em seco, mas não perdi tempo. Eu não precisei que ninguém viesse me dar coordenadas, por alguma razão, eu sabia onde meu irmão estava.

                           -----

Elara*

Eu não desviei os olhos. Queria que Cassian me olhasse e entendesse que minhas palavras não eram devaneios.

Devagar, ele se afastou do irmão. Seus passos firmes vinham em minha direção. O peito largo, a postura rígida. Dei alguns passos para trás.

— Você não pode estar falando sério.

— Eu estou. — Sua expressão era dura, sem espaço para ironia.

— Quando éramos crianças, nossos pais propuseram uma aliança. Eu refaço esse pedido. Você sabe tão bem quanto eu o que estamos enfrentando.

Os olhos dele ardiam sobre mim, como se buscassem algo que ele próprio não queria encontrar.

— Você sabe muito bem porque esse casamento não aconteceu.

— Erros aconteceram e...

— Erros?! — a palavra explodiu de sua boca, cortando o ar entre nós. Dei outro passo para trás, impotente diante daquela fúria contida.

— Não venha com histórias para criança, Elara. É mais fácil admitir que vocês não quiseram ajudar meu avô.

Engoli em seco. Ele se voltou novamente para o irmão. Eu entrelacei os dedos, meu coração estava descompassado. As ideias fora de ordem, eu estava desesperada. Foi então, que eu ousei falar. Contar a ele meu segredo, deixar que ele sentisse. Ou pelo menos tentasse.

— Eu tenho sonhado com você... há mais de uma semana. — disse devagar, sentindo o peso de cada sílaba.

Cassian se enrijeceu. O ar parecia sumir ao redor dele.

— Eu não sei o que isso significa. Mas sei que nós dois temos um dever. Eu amo meu povo. Odeio me sentir fraca e impotente. Você e eu temos a chave para derrotar nosso inimigo. Sei que você não confia em mim. Mas eu imploro: não façamos isso por nós. Façamos por aqueles que amamos.

Os ombros dele permaneceram tensos, como pedra. Seus olhos, duros, ainda cravados em mim. Eu me preparava para ouvir as piores palavras de sua boca.

Mas então... o corpo de Draco começou a convulsionar sobre a cama.

Cassian recuou, tomado pelo susto. Eu não hesitei. Arregacei as mangas e corri até ele.

Naquele instante, pouco importava o que Cassian me diria. Eu sabia apenas que, se seu irmão morresse diante de seus olhos, o próximo a perecer seria meu povo.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App