A semana seguinte à festa passou lenta para Luna. Por mais que tentasse focar nas aulas e nos trabalhos da escola, sua mente voltava sempre para Allan e para o que aconteceu naquela noite. Aquela sombra na floresta… a forma como ele reagiu… e aquele brilho estranho nos olhos dele.
Nada daquilo parecia normal. — Você está tão distraída ultimamente — disse Samantha, batendo de leve no ombro de Luna durante o intervalo. — Vai me dizer que não é por causa do Allan? — Não é isso… — Luna suspirou. — Eu só sinto que tem alguma coisa estranha acontecendo. Mario, que estava com elas, ergueu as sobrancelhas. — Estranha como? — Eu não sei explicar — respondeu Luna, mordendo o lábio. — É como se algo estivesse sempre à espreita. Samantha riu, achando graça da preocupação da amiga. — Você anda assistindo filmes de terror demais. Relaxa. Mas Luna sabia que não era imaginação. Desde a festa, aquela sensação de ser observada só aumentava. --- No fim da tarde, Luna decidiu voltar para casa caminhando, como fazia de vez em quando. O sol já estava se pondo, tingindo o céu de laranja e vermelho. A rua que levava até sua casa passava próxima a uma pequena área de floresta, e, mesmo sendo um caminho curto, Luna sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Enquanto caminhava, ouviu o som de galhos quebrando. — Quem está aí? — perguntou, tentando soar corajosa, mas sua voz vacilou. Não houve resposta. Apenas o farfalhar das folhas, mais perto. Luna apressou o passo, o coração acelerado. Foi quando, de repente, um homem estranho saiu de trás das árvores, com um sorriso perturbador. — Boa noite, mocinha… está sozinha? — disse ele, dando um passo em sua direção. Luna recuou instintivamente. — Eu… estou indo para casa. — Por que tanta pressa? — O homem avançou mais, o olhar ameaçador. Antes que Luna pudesse gritar, uma sombra veloz surgiu atrás do homem, e, num movimento rápido demais para ser normal, o jogou contra uma árvore com uma força impressionante. O estranho caiu desacordado no chão. Luna levou alguns segundos para perceber o que tinha acontecido. Quando olhou, Allan estava diante dela, respirando pesado, os olhos dourados brilhando na penumbra. --- — Allan? — disse Luna, sem acreditar no que via. — Seus… seus olhos… Ele piscou algumas vezes e o brilho desapareceu, como se nunca tivesse existido. — Você está bem? — perguntou ele, ignorando a pergunta dela. — Ele te machucou? — Não… mas… como você fez isso? Ele parecia… — Luna estava confusa. — Você é… humano, não é? Allan suspirou, dando um passo para trás. — Não posso explicar agora, Luna. — Você sempre diz isso! — disse ela, irritada e assustada ao mesmo tempo. — Quem é você, afinal? Por um instante, Allan pareceu prestes a responder, mas então ouviu outro barulho vindo da floresta. Seus instintos ficaram alertas, e ele segurou a mão de Luna. — Precisamos sair daqui, agora. --- Allan a puxou, conduzindo-a rapidamente pela rua até chegarem à parte iluminada da cidade. Luna estava com a respiração acelerada, não apenas pelo susto, mas pela forma como a mão dele parecia quente demais, quase como se tivesse uma energia viva correndo por ela. Quando finalmente pararam, Luna se virou para ele. — Você não é normal, Allan. O que está escondendo de mim? Ele olhou para ela, os olhos carregados de algo entre dor e desejo. — Se eu te contar tudo agora… você vai me odiar ou me temer. E eu não quero nenhum dos dois. Luna ficou em silêncio. Havia algo na voz dele que soava verdadeiro, mas também assustador. --- Naquela noite, deitada em sua cama, Luna não conseguia esquecer a cena dos olhos de Allan brilhando. Aquilo não era humano. E, por mais que tivesse medo, também sentia uma ligação inexplicável com ele — como se o destino deles estivesse entrelaçado de alguma forma. Enquanto tentava dormir, uma frase do sonho com a voz masculina voltou à sua mente: “Você é minha, Luna. Sempre foi.”