A noite caiu sobre Cedar Grove, e a lua cheia iluminava a rua silenciosa em frente à casa de Luna. Do quarto, ela olhava pela janela, distraída, lembrando-se dos olhos de Allan e das palavras de Mérida.
“Ele não é como os outros.” Essas palavras ecoavam em sua mente como um enigma. Allan tinha algo que a atraía, mas também a assustava. Ele era intenso demais, misterioso demais. Luna queria acreditar que era apenas um garoto novo e diferente, mas, no fundo, sentia que havia algo além do que os olhos podiam ver. — Preciso parar de pensar nisso — murmurou para si mesma, deitando-se na cama. --- O sono veio rápido, mas com ele vieram sonhos perturbadores. Luna estava em uma floresta escura, cercada por árvores retorcidas. A lua no céu parecia mais brilhante e próxima do que nunca, lançando uma luz prateada que fazia sombras dançarem pelo chão. Ela ouviu um uivo distante — um som grave e poderoso, que fez seu coração disparar. Segundos depois, olhos brilhantes apareceram na escuridão. Não eram olhos humanos. Eram olhos de lobo. Luna tentou correr, mas suas pernas não obedeciam. O uivo ecoou novamente, mais perto desta vez. Então, uma voz masculina, profunda e suave, sussurrou: “Você é minha, Luna. Sempre foi.” Ela acordou sobressaltada, o corpo coberto de suor frio e o coração batendo forte. Olhou ao redor, tentando convencer a si mesma de que era apenas um sonho. Mas, pela janela, jurou ver uma sombra grande se mover entre as árvores da rua. --- No dia seguinte, Luna parecia exausta. Samantha notou na hora. — O que aconteceu? Você está com cara de quem viu um fantasma. — Eu… só tive um pesadelo — disse Luna, tentando minimizar. Mario, que caminhava ao lado delas, lançou um olhar preocupado. — Sonhos de novo? Você já falou com a sua tia sobre isso? — Não, é besteira — respondeu Luna rapidamente, sem querer entrar em detalhes. Mas, ao chegar na escola, algo estranho aconteceu. Assim que entrou no corredor, seus olhos encontraram os de Allan. Ele a observava com aquela mesma intensidade de sempre, como se soubesse o que se passava na mente dela. Por um instante, Luna sentiu como se o sonho da noite anterior tivesse algo a ver com ele. --- Durante o intervalo, Allan se aproximou dela, ignorando completamente os olhares curiosos dos outros alunos. — Você dormiu bem, Luna? — perguntou ele, com uma calma perturbadora. Luna ficou surpresa. — Como você sabe que eu… — Ela parou. — Não, eu não dormi bem. Por quê? Ele apenas sorriu de forma misteriosa. — É só que você parece cansada. Talvez esteja sonhando com algo… incomum? O coração de Luna quase parou. Como ele poderia saber? — Você está me seguindo ou algo assim? — perguntou, meio brincando, meio séria. — Talvez eu apenas saiba mais sobre você do que imagina — disse Allan, dando um passo para trás, como se não quisesse assustá-la. — Mas não precisa ter medo de mim. Antes que ela pudesse responder, Samantha apareceu, interrompendo a conversa. — Luna, vamos! A aula de história já vai começar. Allan apenas a observou, como se houvesse muito mais a dizer, e então se afastou. --- No final das aulas, Mérida se aproximou de Luna com um sorriso amigável. — Você está bem? — perguntou, de forma sincera. — Tive um sonho estranho — confessou Luna, sem entender por que sentia que podia confiar nela. — Era como se alguém estivesse me chamando. Mérida a encarou por alguns segundos, pensativa. — Sonhos às vezes são sinais — disse, em um tom suave. — Talvez você esteja prestes a descobrir algo importante sobre si mesma. — O que você quer dizer com isso? — perguntou Luna, confusa. Mérida apenas sorriu de forma enigmática. — Vai entender com o tempo. --- Naquela noite, Luna não conseguia dormir. Olhou para a rua através da janela e, mais uma vez, teve a impressão de ver algo se movendo nas sombras. Uma figura alta, imóvel, como se a observasse. Seu coração acelerou. — Allan… — sussurrou involuntariamente. Era como se ele estivesse por perto. Como se seu sonho e a realidade estivessem começando a se misturar.