Proibido pra mim
Proibido pra mim
Por: Sandra Rummer
Festa de Raquel

— Nunca te vi nas festas de Raquel?

— É que somos amigas há pouco tempo.

— Entendi. —Ele me encarou sério. —Onde você a conheceu?

— Meu pai passou mal, o Senhor Jonas o atendeu. Ela o esperava para irem ao teatro, conversamos e ficamos amigas.

Ele me avaliou.

— Você é diferente das garotas que eu conheço.

Eu ergui minhas sobrancelhas sem entender.

—Como? —Perguntei interessada.

—Não sei explicar. —Ele correu os olhos azuis pelo meu rosto.

—Deve ser porque sou a única aqui que não faz medicina, ou trabalha em um hospital. —Eu disse sorrindo.

—Não, não é isso. Você é mais comedida..., mas ainda não é isso.

Será que eu aflorava minha condição social?

—É natural. Não conheço ninguém aqui. —Insisti, achando que poderia ser isso.

—Pode ser. —Ele disse dando de ombros. —Não vai tomar o refrigerante?

Eu fiquei tão perturbada com a visão daquele homem que tinha me esquecido completamente da lata de refrigerante.

—Vou. Só estou esperando degelar um pouco. —Disse sem graça olhando para a lata.

—Deixe que eu abro para você. — Ele a tomou da minha mão.

Me entregou com o lacre aberto.

—Obrigada.

—Você não é o tipo que bebe álcool para se soltar?

—Eu sou fraca para bebidas, então prefiro não beber. Eu passo mal....

O senhor Jonas Taylor, pai de Raquel se aproximou de nós. Com seus sessenta anos, magro, cabelos grisalhos, olhos castanhos bondosos. Era bonitão.

—Que bom que você veio. —Ele disse com voz sonora e me abraçou.

Quando nos afastamos, eu sorri, demonstrando minha felicidade por estar ali.

—Estou feliz e honrada por ter sido convidada.

—Já vi que conheceu Travis.

— Olá, senhor Taylor. Sim, acabamos de nos conhecer.

Jonas apertou Travis em um abraço forte.

—Está em boa companhia. Esse rapaz é um dos alunos brilhantes da UCAS e também trabalha conosco no hospital. Ele ainda será um grande cirurgião.

Travis ficou vermelho.

—Obrigada Dr. Jonas.

—Puxa! Parabéns. —Eu disse a Travis com verdadeira admiração nos olhos.

—Bem, não vou atrapalhar vocês.

—Imagina, o senhor não atrapalha em nada. —Eu disse sorrindo.

Jonas Taylor sorriu.

—Divirtam-se.

—Obrigada.

Jonas se afastou de nós, e eu aproveitei para passar os olhos pela sala, distraidamente. Tocava uma música lenta agora, era nova, eu nem sabia o nome, uma linda melodia. Pessoas dançavam num canto da sala. Sorri ao vê-las. Uma parte de mim invejava - uma parte que sempre invejou as pessoas que poderiam ditar suas escolhas, serem livres.

Desviei meus olhos delas e minha visão parou naquele homem que eu tinha visto. Ele conversava com uma garota. Por alguma razão, eu não consegui desviar o meu olhar dele.

Por um momento, fiquei apenas observando a maneira como ele conversava com ela. Havia algo nele que me intrigava e me encantava.

—Sacha. —Ouvi a voz de Travis

Eu o encarei.

—Essa é Amanda Francis. Ela faz enfermagem na mesma universidade que eu.

—Prazer em conhece-la. — Eu sorri simpática para ela, mas meu sorriso morreu quando recebi dela um sorriso frio, que não gostei.

Ela estava com ciúmes de Travis? Ah! Não seja por isso.

—Com licença. Vou tomar um ar lá fora. Está muito quente aqui. —Eu disse educadamente e me afastei em direção a porta de vidro aberta e que dava para uma pequena varanda.

Apoiada em um pilar beberiquei o refrigerante olhando para fora. Fechei os olhos e aspirei fundo o perfume das flores trazidas pela brisa que soprava vinda do jardim.

Tocava agora a música de Madona, Material Girl. Eu sorri.

Eu era o oposto da personagem cantada nessa música que falava de uma jovem que queria se ligar a um homem rico, pois ela era uma garota materialista. Pensando nisso, me virei e fitei a sala e meus olhos o procuraram novamente.

Meu Deus! Que músculos eram aqueles? Os braços fortes, ombros largos, quadris estreitos. Tudo no lugar.

Respirei fundo, me sentindo perturbada.

Droga! Senti um frio na boca do estômago, todo meu corpo reagindo violentamente quando ele me flagrou olhando para ele. Imediatamente desviei meus olhos dos dele, me sentindo confusa pela atração que ele exercia sobre mim.

Perturbada dei as costas para aquela visão tentadora e fitei o jardim, mas a imagem dele ficou gravada na minha cabeça. Tentei ignorar meu coração batendo violentamente no peito...

Minutos depois senti um toque no braço. Quase dei um pulo...Vi um rapaz de porte atlético e alto, de mais ou menos minha idade, os cabelos castanhos, olhos verdes. Ele sorria para mim. Fiquei entre aliviada e decepcionada quando vi que não se tratava dele, os sentimentos se misturavam em mim.

— Olá, Henry Frame. Qual é o seu nome, anjo? —Ele estendeu a mão.

Eu levantei as sobrancelhas, surpresa pela maneira como ele me chamou, sorri.

— Prazer, sou Natasha. —Peguei a mão dele e o cumprimentei, soltando em seguida.

—Por que está tão quietinha aqui? É do tipo calada?

Realmente, eu não era do tipo que falava pelos cotovelos. E falar sobre minha vida era algo que não me atraía.

O que eu poderia dizer? Oi, sou filha de Arnold Bertolini, milionária. Minha vida se resume em desfilar em festas ao lado de minha mãe. Meu pai não gosta que eu me misture com a classe operária, ou com classe diferente da nossa. Embora eu seja rica, meu pai quer que eu me ligue a algum homem rico.

—Oiiiiiiii! E então? —Ele chamou minha atenção.

Pisquei os olhos e o encarei. Sorri sem graça ao perceber que me distraí.

—É que não conheço ninguém.

Ele esticou mais o sorriso.

—É uma boa desculpa. — Seus olhos então se estreitaram. —Parece que eu te conheço de algum lugar?

Era bem provável. Eu vivia saindo em revistas da alta sociedade. Uma coisa que eu não queria era ser reconhecida.

Eu desviei meus olhos dos dele. Limpei a garganta, quando um bolo se formou nela.

—É? Acho difícil. — Disse num tom fraco e me virei para o jardim, fugindo dos olhos dele.

Estava tão bom ser eu mesma. O meu nome sempre era associado ao meu pai e aos cifrões que isso representava e como era horrível isso! Eu acabava perdendo minha identidade, e as pessoas focavam mais na figura de meu pai...

—O que foi?

Eu o olhei de relance.

—Nada.

—Nada mesmo? Ou está pronta para se atirar dessa sacada para se livrar de mim agora mesmo? —Ele disser sarcástico.

Eu ri com a ideia.

— Você não está acostumado com esse tipo de reação? —Eu perguntei. Ele parecia o tipo de pessoa que não estava acostumado a ser ignorado.

Ele riu para mim.

— Normalmente não. As mulheres costumam se atirar aos meus pés, sabe como é.... —Ele disse com ironia.

—Verdade?

A música Billy Idol, Dancing With Myself começou a tocar.

— Ei, vocês não vão dançar? — Raquel disse se aproximando de nós, saltitando.

—Dançar? — Perguntei constrangida.

Eu não sabia dançar naquele ritmo. Eu ia acabar com o pé de quem estivesse ao meu lado.

— Mas que bobagem! Vamos! — Ela insistiu.

—Vem, é só balançar o corpo. —Henry insistiu.

—Tudo bem. —Dei um sorriso.

—É assim que se fala! —Raquel disse dançando em direção a sala.

Senti as mãos de Henry puxando as minhas, me conduzindo para junto de Raquel que estava entre outros jovens que dançavam no meio da sala. Henry se posicionou na minha frente e começou a dançar sorrindo para mim.

Eu fechei os olhos e entrei no ritmo, ergui meus braços e comecei a mexer meu traseiro ao som da música. Quando abri meus olhos, ele sorria para mim. Sorri para ele, de repente me sentindo feliz...

A música acabou e começou outra, Thriller. Todos começaram a fazer a dança dos mortos vivos. Ah! Essa eu sabia dançar! Rindo muito comecei a dançar, e aos poucos fui me lembrando dos passos....

— Onde você aprendeu isso? — Henry perguntou quando me viu fazer os passos certinhos.

— Oras! É Thriller.

—Você dança muito bem.

—Obrigada! —Disse alto, sem parar de dançar.

Raquel se aproximou de mim e me puxou para um canto dizendo:

— Ele é gostoso e é descomprometido. Dá para ter uns beijos roubados.

—Você acha? — Observei Henry melhor. Muito jovem, eu sempre tive queda por homens mais velhos. —Por que você não investe nele? —Eu disse me afastando dela rebolando.

—Por que levei um baita fora...

— Parte para outra... — Respondi suavemente, adotando uma postura indiferente.

Estava suada quando a música acabou. Sorrindo, ergui meus cabelos para o alto tentando aliviar o calor.

—Vamos lá fora, tomar um pouco de ar, aqui está calor. —Henry me pegou pelo braço e me puxou para fora.

Quando alcançamos a varanda, eu respirei o ar puro. O ventinho fresco que vinha do jardim foi muito bem-vindo.

—Para quem não dançava, você dançou muito bem.

—Quando adolescente imitava o Michael Jackson.

—Ah, então está explicado.

Sorrindo para ele procurei aquele homem. Eu avistei conversando com o senhor Jonas.

Quem era ele? Ele parecia muito íntimo de Jonas Taylor.

—Você quer beber algo?

Com dificuldade fitei Henry.

—Não, obrigada. Preciso dar uma palavrinha com Raquel. Não se prenda a mim. Dance, divirta-se.

Sem esperar sua resposta, caminhei até ela. Raquel dançava com ao som The Clash- Rock the Casbah.

—Raquel, preciso falar com você.

Ela encarou sorrindo o rapaz que dançava com ela e disse qualquer coisa no ouvido dele antes de me seguir.

—Que foi? Aconteceu alguma coisa? Está gostando da festa mesmo?

—Raquel, estou adorando, não se preocupe comigo...

Ela suspirou.

— As festas, que você frequenta, devem ser o máximo.

Acho que ela estava louca para ser convidada para elas...que eu retribuísse o favor...seria esse o motivo de me ter convidado?

— Se você acha um bando de gente fútil, onde cada um conta suas últimas aquisições materiais, se achando o máximo. Você iria adorar. Pois é isso que ouço o tempo todo.

Ela quase caiu em mim, quando um rapaz esbarrou nas costas dela. Ela apertou os lábios, contrariada.

— Mas você deveria entender que eles falam o que eles vivem no momento. Afinal, eles têm dinheiro para isso, não é? Para gastar.

Suspirei.

— Eu que sou uma chata então. Tenho asas, mas não gosto de voar.

Ela então me olhou pensativa.

—O que você queria falar comigo?

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