Heloisa Moura
A estrada à minha frente parece infinita. Cada metro percorrido é uma despedida silenciosa daquilo que nunca deveria ter começado. O carro avança devagar pelo caminho de terra que leva à saída da propriedade, e eu mantenho o olhar fixo na janela, me recusando a olhar para trás.
Minha mente repete a cena de minutos atrás como um disco quebrado. O olhar de Vittorio quando pedi uma resposta que ele não pôde me dar. O silêncio sufocante que se seguiu. O vazio no peito quando percebi que eu estava me segurando a algo que nunca existiu de verdade.
Minha mala está jogada ao meu lado no banco. Poucos pertences, apenas o suficiente para voltar para casa. Para longe dele. Para longe do desejo que me consumia e da culpa que me sufocava.
— Senhorita, tem certeza de que deseja ir direto para o aeroporto? — o motorista perguntou educadamente, seus olhos atentos pelo retrovisor.
Minha voz sai firme, mesmo que minhas mãos estejam trêmulas.
— Sim, direto para o aeroporto.
O homem