Aurora Rossi
Nunca achei que voltaria.
Não porque o sentimento tivesse morrido — porque não morreu. Mas porque eu acreditava que algumas cicatrizes não podiam ser tocadas sem reabrir as feridas.
E então, eu vi o sol se pondo atrás da casa dos meus pais. E uma parte de mim, a mais calada e teimosa, sussurrou que talvez… só talvez… ainda houvesse algo a ser vivido.
Quando entrei na adega, não fui recebida com palavras.
Fui recebida com silêncio. E beleza. Com lembrança. Com amor.
As flores. A luz suave. O rótulo com meu nome. Tudo falava mais alto que qualquer promessa poderia dizer. E quando olhei pra ele, ali, sentado com os olhos cheios de espera, entendi o que significava ser verdadeiramente amada: ser lembrada em cada detalhe. Ser sentida mesmo na ausência.
Sentei à mesa.
Brindamos.
E, por um instante, o mundo pareceu calmo.
Mas havia mais. Muito mais.
O vinho encostou nos meus lábios como um segredo antigo reencontrando sua voz. Suave, maduro, intenso.
Como