Patrícia se casou com Augusto Avelar enquanto ele estava em coma, sem imaginar que, ao despertar, ele mudaria sua vida para sempre. Com o tempo, seu coração se rendeu a esse homem poderoso e enigmático, mas o passado não pretende deixá-los em paz. Estela, a ex determinada a tê-lo de volta, fará de tudo para separá-los. Entre desafios, intrigas e um amor que nasceu de maneira inesperada, Patrícia e Augusto precisarão lutar para descobrir se seu casamento tem um futuro ou se está condenado desde o início.
Ler maisCapítulo 1
O silêncio no quarto era quase opressor, quebrado apenas pelo som ritmado dos aparelhos e da respiração profunda do homem deitado na cama. Rafael entrou devagar no aposento, como se temesse perturbar a paz que envolvia o ambiente. A penumbra da manhã filtrava-se pelas cortinas entreabertas, projetando sombras suaves sobre o rosto de seu pai. Com passos lentos, aproximou-se da cama e sentou-se ao lado dele. Seus olhos, sempre firmes diante do mundo, agora brilhavam com a ameaça de lágrimas. Ele estendeu a mão, entrelaçando seus dedos aos do pai, sentindo o calor ainda presente ali, a única prova de que ele estava vivo. — Acorda, pai… — murmurou, a voz embargada. — Você faz tanta falta pra mim... Por um instante, ficou ali, observando cada detalhe do rosto do pai: as olheiras profundas, o cabelo que já passava do comprimento habitual, a barba crescida que não tinha nada haver com a imagem impecável do CEO poderoso que todos conheciam. Rafael fazia questão de chamar um barbeiro a cada quinze dias para manter a aparência do pai, mas nada poderia apagar a ausência que aquele homem deixava ao permanecer inerte. O som da porta se abrindo o fez piscar rapidamente, afastando a emoção que ameaçava dominá-lo. O mordomo entrou com a postura impecável de sempre, mas a voz saiu baixa e respeitosa: — Senhor Rafael, a enfermeira chegou. Está esperando no escritório. Rafael apenas assentiu, sem tirar os olhos do pai. Apertou levemente sua mão uma última vez antes de soltá-la, passando os dedos pela pele áspera do dorso. Suspirou fundo, endireitando os ombros. Agora que a enfermeira estava ali, seu pai teria companhia por mais tempo. Talvez isso ajudasse de alguma forma. Com um último olhar para o homem que tanto admirava, Rafael se levantou e seguiu para o escritório, pronto para conhecer a mulher que, de alguma maneira, poderia mudar o rumo daquela história. Rafael foi até o escritório para entrevistar a enfermeira, tentando manter a postura firme, embora sua mente ainda estivesse presa à imagem do pai deitado na cama. Ele entrou no escritório ajustando o terno com um gesto automático, a expressão séria e controlada. Caminhou até a mesa, contornando-a com firmeza, e estendeu a mão para a mulher à sua frente. — Rafael Avelar. — Sua voz era firme, analisou-a com um olhar atento enquanto aguardava sua resposta. Ela apertou a mão de Rafael com firmeza, mantendo a postura profissional. Seus olhos encontraram os dele com confiança enquanto dizia: — Patrícia Mendes. É um prazer conhecê-lo, senhor Avelar. Rafael indicou a cadeira à sua frente com um gesto discreto. — Por favor, sente-se. Enquanto ela acomodava-se, ele pegou o currículo e começou a folheá-lo, sua expressão séria. Patrícia percebeu quando seu olhar se tornou mais crítico. Ele não disse nada de imediato, mas o leve franzir de cenho revelava sua preocupação. Ela era mais jovem do que imaginava, e agora tinha certeza de que sua experiência era mínima ou inexistente. O silêncio que se instalou a deixou nervosa. Engoliu em seco, apertando as mãos sobre o colo antes de decidir se explicar: — Senhor, eu sei que não tenho experiência… Acabei de me formar, mas… — respirou fundo, tentando manter a calma. — Eu sou dedicada, estudiosa e prometo que darei o meu melhor para cuidar do seu pai. Seus olhos transmitiam sinceridade, mas Rafael não parecia convencido. Ele pousou o currículo sobre a mesa, cruzou os dedos e a encarou, avaliando suas palavras. Rafael apoiou os cotovelos sobre a mesa, entrelaçando os dedos enquanto a observava com atenção. Sua voz saiu firme, cheia de emoção: — O meu pai é tudo para mim. Ele é o meu alicerce. Patrícia sentiu o peso daquelas palavras caírem sobre seus ombros. Não era apenas uma entrevista de emprego, era uma prova de confiança. Ela precisava mostrar que era capaz, que podia cuidar daquele homem que significava tanto para Rafael. Então, respirou fundo e decidiu lutar por aquela oportunidade. Patrícia ergueu o olhar para Rafael, deixando de lado qualquer insegurança. — Senhor Avelar, eu sei que sou jovem e não tenho anos de experiência, mas tenho dedicação e vontade de aprender. Seu pai precisa de cuidados constantes, e eu estou disposta a dar o meu melhor para garantir que ele receba toda a atenção e carinho que merece. Sei que pode ser difícil confiar em alguém novo, mas me dê uma chance de provar que sou capaz. Não vou decepcioná-lo. Sua voz carregava firmeza, e Rafael percebeu que, apesar da delicadeza, havia uma força inabalável naquela mulher. Rafael, após se convencer, a conduz com cuidado até o quarto de seu pai no térreo. Ela se aproximou da cama, onde estava o paciente, e parou por um momento, observando com atenção. Seu olhar se alternava entre Rafael e o homem na cama, como se tentasse absorver a semelhança evidente entre ambos. Ela piscou várias vezes, ainda processando a imagem, até finalmente olhar para Rafael. — Somos muito parecidos — disse ele, com um sorriso discreto, ao perceber que ela notara a grande semelhança entre pai e filho. A voz dele tinha um tom suave, carregado de um certo orgulho. Ela assentiu, surpresa. Nunca em sua vida tinha visto tanta semelhança entre pai e filho: a única diferença era a idade. — Sim, é impressionante — ela respondeu, com um pequeno sorriso, mas sua mente ainda estava absorvendo o que estava diante dela. Por mais que tivesse achado Rafael bonito e atraente, não se comparava ao pai dele. O homem deitado na cama parecia emanar uma força silenciosa, uma presença imponente que, mesmo na quietude, dominava o ambiente. Seus traços, mais marcantes com a idade, eram dignos de respeito, e o simples fato de ser o pai de Rafael tornava-o ainda mais impressionante aos olhos dela. Ela afastou esses pensamentos rapidamente, focando no que precisava fazer, mas não pôde evitar uma última olhada contemplativa, admirando a dignidade do homem que agora estava à sua frente. Rafael observou a expressão dela, notando a fascinação que ela parecia ter pelo pai. Mas ele não deu muita importância àquilo naquele momento. Com um olhar sério, ele se aproximou, quebrando o silêncio no quarto. — O emprego é seu — disse ele com firmeza, sua voz calma e autoritária. — Se estiver pronta para começar, pode começar imediatamente. Ela o olhou, surpresa. A proposta de Rafael era direta, sem rodeios. Era uma chance que ela sabia que não podia deixar passar, mas a rapidez com que as coisas estavam acontecendo a fez hesitar por um momento. Rafael percebeu a pausa dela e, com um leve sorriso, continuou. — Sei que pode ser muito para digerir. O que acha? Está pronta para assumir a responsabilidade? Ela engoliu em seco, sentindo a intensidade daquele momento, mas também uma certa excitação diante da oportunidade que se apresentava. Olhou novamente para o homem na cama, agora com uma sensação de dever se instalando dentro dela. — Eu… eu aceito — respondeu ela, finalmente. E, com um olhar decidido, completou: — Vou começar agora mesmo, senhor.Capítulo 99Cinco anos depois...A manhã começava preguiçosa na varanda da casa grande, o cheiro de café fresco se misturando ao perfume suave das flores do jardim. Patrícia cortava fatias de bolo para o lanche das crianças, enquanto sua mãe, sentada na cadeira de balanço ao lado, observava o quintal com um sorriso sereno no rosto.— Te falei da sua irmã? — perguntou a mãe. Patrícia fez que não com a cabeça. — Deixou tudo para trás e foi bater na Itália com aquele ricaço. Nem se despediu direito.Patrícia riu com um pouco de ironia.— Ricaço esse... que por coincidência era o pai da Estela. A vida tem dessas reviravoltas, mãe.— Eu ainda não acredito. Aquela menina viveu dizendo que não queria saber de homem com dinheiro, que queria amor verdadeiro... Bastou um visto e um passaporte europeu que esqueceu tudo.— Ela foi pelo luxo, mamãe. Mas não sei se vai encontrar paz. Esse homem... bom, a Estela foi o que foi. E ele... pelo visto, não aprendeu nada.A mãe suspirou, olhando para o cé
Capítulo 98O carro mal parou na frente da maternidade e Augusto já havia descido correndo, chamando por ajuda. Enfermeiros vieram com uma maca, e Patrícia foi conduzida com rapidez para o interior do hospital. Ainda sentia fortes contrações, mas tentava manter a calma, segurando firme na mão de Augusto.— Eu estou aqui, não vou sair do seu lado — ele prometeu, beijando sua testa.Em poucas horas, depois de muito esforço, suor e emoção, os gritos suaves dos recém-nascidos preencheram o centro obstétrico. Um casal. Um menino forte e uma menina serena. Patrícia chorava emocionada, e Augusto mal conseguia conter o sorriso orgulhoso enquanto segurava os dois bebês nos braços, seus filhos, a renovação da esperança.Na manhã seguinte, Patrícia já estava no quarto da maternidade, com os bebês dormindo nos bercinhos ao lado da cama, quando a porta se abriu lentamente. A mãe dela entrou primeiro, com os olhos marejados, e logo atrás veio o avô, empurrado por um cuidador em sua cadeira de rodas
Capítulo 97Mais de dois meses haviam se passado desde a morte trágica de Estela, e o julgamento que havia sido adiado finalmente teria início. A sala do tribunal estava lotada. De um lado, a família Avelar reunida: Augusto de expressão firme, Patrícia sentada ao seu lado, segurando discretamente sua mão, e Rafael com os olhos atentos e tensos. Do outro, o pai de Estela, com o rosto fechado, vestindo um terno escuro, emanando luto e rancor.O juiz entrou, seguido pelo promotor e pelo advogado de defesa. Após os procedimentos iniciais, o primeiro a ser chamado para depor foi o pai de Estela.Ele caminhou até o púlpito com passos lentos e pesados, e quando começou a falar, sua voz estava carregada de emoção e raiva.— Augusto Avelar matou minha filha. Ele a empurrou. Ele tinha motivos, ele sentia ódio. Ela era intensa, sim, mas era minha menina. E esse homem destruiu nossa família!Um murmúrio correu pelo público presente. Patrícia fechou os olhos por um instante, sentindo o peso da dor
Capítulo 96Na manhã seguinte, o prédio da Avelar Corp estava cercado por viaturas e faixas de isolamento. Nenhum funcionário pôde entrar. A movimentação de peritos e policiais no saguão chamava a atenção de quem passava pela rua, e alguns curiosos se aglomeravam do outro lado da calçada, cochichando e tirando fotos com o celular.Pâmela chegou cedo, como de costume, mas foi barrada logo na entrada.— Desculpe, senhorita — disse o segurança com expressão séria. — A polícia interditou o prédio. Ninguém entra até segunda ordem.— Mas eu trabalho aqui. Sou diretora administrativa.— Ordens da delegacia, senhorita. A perícia está recolhendo provas e os andares estão sendo vistoriados.***Enquanto isso, do outro lado da cidade, Rafael e o pai estavam a caminho da empresa quando receberam a ligação de um dos advogados.— A perícia ainda está coletando os registros — informou o advogado, do outro lado da linha. — Os peritos já encontraram a bala alojada na parede da sala e estão analisando
Capítulo 95A cada andar que descia pelo elevador, a imagem de Estela caindo voltava como um pesadelo em sua mente. O som do corpo dela batendo no chão ainda martelava em seus ouvidos.Quando alcançou o saguão, o tempo pareceu desacelerar.Algumas pessoas estavam ali, em choque, paralisadas. A recepcionista do turno da noite segurava o telefone com as mãos trêmulas, a voz embargada ao falar com a emergência:— Sim… ela caiu… acho que está morta. Estamos no edifício Avelar, Centro Empresarial. Por favor, mandem alguém rápido!Augusto atravessou o saguão como um raio. Ao ver o corpo de Estela estirado no chão, com os olhos vazios fixos no nada, sentiu um nó apertar sua garganta.— Estela… — murmurou, ajoelhando-se ao lado dela, sem conseguir tirar os olhos da cena. O vestido vermelho agora estava molhado, não só de sangue, mas de toda a dor que ela carregou e causou.A ambulância chegou em menos de dez minutos, as luzes vermelhas cortando a escuridão da noite. Em seguida, a polícia apar
Capítulo 94Alguns dias depois, o advogado ligou com uma notícia aguardada:— O julgamento será amanhã cedo — informou, com voz firme. — Está tudo pronto.Augusto agradeceu, desligando o telefone com as mãos trêmulas. Encostou-se à cadeira e respirou fundo.— Amanhã... — murmurou para si mesmo.Ao saber da notícia, Patrícia tentou animá-lo, mas percebeu o quanto ele estava tenso.— Por que não tenta trabalhar um pouco? — sugeriu ela. — Às vezes, ocupar a cabeça ajuda a passar o tempo.Augusto concordou com um aceno breve, e logo saiu rumo ao escritório. Patrícia, por sua vez, decidiu aproveitar o dia para comprar o enxoval dos bebês. Ligou para Letícia.— Amiga, topa me acompanhar hoje? Quero ver algumas coisinhas para os bebês. Preciso pensar em algo bom.— Claro que sim! — respondeu Letícia animada. — Hoje é dia de pensar em vida nova!Enquanto as duas passeavam por lojas de artigos infantis, o dia corria tranquilo na empresa. O sol começava a baixar, e os corredores já se esvaziava
Último capítulo