Aurora Rossi
Ainda podia sentir os braços dele ao meu redor.
Depois que voltei para casa, tomei um banho demorado, tentando acalmar o turbilhão dentro de mim. Mas era inútil. Cada gota de água que escorria pelo meu corpo parecia levar com ela um pedaço do que fui antes daquele beijo — daquele momento.
Porque depois dele, eu não era mais a mesma.
Deitada na minha cama, com os cabelos ainda úmidos, fiquei encarando o teto, ouvindo a movimentação dos meus pais pela casa. A risada de papai ecoava vinda da sala, provavelmente vendo algum programa de culinária que adorava criticar, enquanto mamãe falava ao telefone com alguma tia distante — tentando disfarçar a saudade que nunca admitia sentir da família grande e barulhenta que deixou na Sicília.
Por fora, tudo parecia igual. Mas dentro de mim… estava tudo diferente.
Fechei os olhos e deixei que a lembrança dele me invadisse de novo. O toque gentil. O beijo reverente. O modo como ele me olhou, como se eu fosse feita de algo raro e del