O leilão começou.
Agarrei firme a minha plaqueta de lances, os olhos fixos no palco, esperando pelo lote número 47.
Finalmente, o leiloeiro ergueu o colar de pérolas.
— Lote número 47, um deslumbrante colar de pérolas. Lance inicial: quinhentos mil dólares.
Ergui a plaqueta imediatamente.
— Quinhentos mil.
— Um milhão. — Disse Isabella ao meu lado, com a voz leve como uma melodia.
Virei para encará-la. Isabella sorria, mantendo sua própria plaqueta erguida com confiança.
— Um milhão e quinhentos. — Retruquei, com a voz tensa.
— Dois milhões. — Respondeu ela, sem nem hesitar.
O preço começou a disparar.
Três milhões, cinco milhões, oito milhões...
Minhas palmas estavam suando. Meu advogado havia dito que meus bens valiam quinze milhões, mas os lances já estavam se aproximando de vinte.
— Vinte milhões. — Isabella ergueu a plaqueta com leveza, como se dissesse um número trivial.
O leiloeiro me encarou.
— Senhora, deseja continuar?
Minha mão tremia. Eu não conseguia erguer a plaqueta de novo.
Eu não tinha dinheiro suficiente.
Todos os olhos na sala estavam voltados para mim inclusive os de Vincent.
Engoli o orgulho e me virei para ele.
— Vincent, me empresta o dinheiro. — Minha voz tremia. — Por favor. Era o colar da minha mãe. Foi a única coisa que ela me deixou.
Vincent me olhou, e havia algo em seu olhar que eu não soube decifrar. Um sentimento complexo, inacessível. Quando ele estava prestes a puxar o cartão preto do bolso...
Isabella também se virou para ele, com a voz doce e melosa como mel artificial.
— Vincent, eu nunca tive nada bonito na vida inteira. Essa é a primeira vez que eu me apaixono tanto por uma joia. Será que você pode pedir pra Sophia me deixar ficar com ela?
Ela puxou levemente a manga dele, com os olhos grandes e suplicantes.
O olhar de Vincent alternava entre mim e Isabella.
Aqueles segundos pareceram um século.
— Deixe a Isabella ficar com o colar. — Disse ele, por fim, com uma calma assustadora na voz.
Meu mundo desabou.
— Vinte milhões, dou-lhe uma! — A voz do leiloeiro ecoou.
— Vinte milhões, dou-lhe duas!
Eu queria gritar, implorar mais uma vez para Vincent, mas as palavras ficaram presas na garganta, sufocadas pela traição.
— Vinte milhões, vendido!
No momento em que o martelo bateu, meu coração morreu por completo.
Isabella bateu palmas, radiante, e então se virou para mim.
— Sophia, obrigada!
A vitória estampada em seu rosto não deixava margem para dúvidas.
Após o leilão, Vincent saiu para buscar remédio para Isabella, que de repente dizia estar com dor de cabeça.
Fiquei sozinha, sentada em um sofá macio no lounge, observando os funcionários embalarem os lotes restantes.
Dez minutos depois, Isabella surgiu nos bastidores e veio direto até mim.
Levantei-me para encará-la.
— Isabella, troco o colar com você. Por qualquer coisa.
— Como o quê? — Isabella arqueou uma sobrancelha perfeitamente delineada.
— Tenho uma Ferrari e alguns relógios de grife. O valor total não chega a vinte milhões, mas se você me der um tempo, eu consigo o restante... — Esforcei-me para manter a voz firme. — Só me devolve o colar.
Isabella balançou a cabeça.
— Não preciso de nada disso.
— Então o que você quer?
Isabella fingiu uma expressão pensativa, então um sorriso cruel se espalhou por seu rosto.
— Quero que você se ajoelhe e implore por ele.
— O quê?
— Ajoelhe-se. Peça desculpas por tudo o que me fez. E depois me implore para te dar o colar. — Os olhos de Isabella brilhavam com malícia. — Você foi horrível comigo. Agora é sua vez de implorar.
Fiquei olhando para ela, os punhos cerrados ao lado do corpo.
Mas o pensamento no colar da minha mãe, meu último elo com ela, fez com que eu, lentamente, com dor e humilhação, começasse a dobrar os joelhos.
— Boa menina. Mas antes... deixa eu te mostrar onde o colar está agora. — Isabella riu vitoriosa e puxou o celular.
Ela deu play em um vídeo e o segurou bem na frente do meu rosto.
Na tela, um cachorro de rua imundo abanava o rabo. Em volta do pescoço, pendia uma fileira de pérolas lustrosas.
O colar da minha mãe.
— Viu? É aí que ele pertence agora. — Sorriu Isabella docemente. — Acho que é a combinação perfeita. Uma cadela para outra cadela.
Meu sangue gelou.
— O que você disse?
— Eu disse: uma cadela para outra cadela. — Repetiu Isabella, guardando o celular, sem apagar o sorriso do rosto. — Sua mãe não era uma vadia? Mereceu ser atropelada. Agora o colar dela está num cachorro. Combina, não acha?
— Qual mão você usou pra colocar o colar no cachorro? — Minha voz saiu num sussurro tão baixo que mal consegui me ouvir.
— A direita. Por quê? — Isabella ainda sorria, saboreando cada segundo de sua vitória.
No instante seguinte, agarrei uma faca de carne da mesa de buffet ao lado e a cravei com força no dorso da mão direita dela, fincando-a contra a toalha de linho.
O sangue jorrou.
Isabella soltou um grito estridente e cheio de dor.