Evelyn

Eu deixei minhas coisas no quarto de hóspedes que a tia Betty arrumou com um cuidado que quase me desmontou. O cheiro de lençol limpo, a manta dobrada com perfeição no pé da cama e uma pequena luminária acesa no criado-mudo davam uma sensação estranha de acolhimento… e, ao mesmo tempo, de perigo. Porque acolhimento demais, pra quem sempre viveu se equilibrando na ponta dos pés, dá vontade de chorar.

Organizei metade das minhas roupas no armário e parei na janela. A rua era silenciosa, com casas pequenas, todas muito iguais, iluminadas pelos postes amarelados. No fundo do jardim, o vento mexia uma fileira de hortênsias azuladas. Era um cenário pacífico demais pro caos que estava dentro de mim.

A pergunta martelava sem dó: e agora?

O que eu tinha feito era definitivo. Eu tinha fugido. Saído às pressas. Abandonado a mansão com o peito apertado, Dante me ligando sem parar, meu coração numa montanha-russa que eu não queria admitir. Mas no fim das contas, a pergunta que rea