Olhei para meu pai e ele parecia impassível. Senti meu rosto ficar pálido e perdi o apetite, lidar com um casamento de fachada é uma coisa, lidar com um casamento real é outra. Não conseguia me imaginar dormindo com aquele homem.
— Que comentário infeliz Ettore. — a mãe dele o repreendeu. — Amélie, tenho certeza que... — Peço a atenção de todos. — Ettore cortou a fala da mãe e todos olharam para ele em silêncio. — Já que entramos nesse assunto, acredito que seja uma boa hora para pedir a Srta. Pellegrini em casamento. — ele se levantou apoiando-se em uma bengala de madeira, caminhou até onde eu estava e tirou uma caixa de veludo preto do bolso. Dentro dela havia um lindo e imponente anel de diamante branco. Eu encarava os olhos dele sentindo vontade de chorar, mas estava decidida a não derrubar sequer uma lágrima por ele. — Então Srta. Amélie Pellegrini, aceita se casar comigo? Não! O momento era tenso, olhei para meu pai e este fez um aceno positivo e discreto, ele sabia que eu estava descontente, da mesma maneira que sabia que eu não iria desapontá-lo, se entre nós houvesse um jogo de poder, eu nunca venceria. — Sim. — minhas mãos tremiam quando Ettore colocou o anel em meu dedo anelar direito, o mesmo que antes carregava o anel de aniversário dado por meu pai. Serviu perfeitamente. Por um segundo, ao olhar para Ettore, vi em seus olhos uma certa tristeza que desapareceu tão rapido quanto apareceu. Meu pai e Fernando suspiraram aliviados e finalmente a tensão diminuiu. Ettore voltou para seu lugar e os empregados serviram as sobremesas. Eu já estava sem estômago para tudo aquilo e engoli duas colheres de um mousse de maracujá, levantando logo em seguida. O gesto respentino assustou os convidados. — Preciso ir ao toalete. — falei e dei as costas para a mesa, caminhando para fora da sala de jantar. Não fui para o banheiro, ao invés disso sai de casa para respirar um pouco de ar puro. A noite estava fria e a lua crescente iluminava o céu sem estrelas, senti algo dentro de mim se quebrar. Respirei fundo e quando pretendia voltar para a mansão, me deparei com Ettore na varanda. Ele me encarava com os mesmos olhos sérios de antes, mas ao me aproximar dele seu olhar mudou. Ettore era bem mais alto, mesmo eu estando de salto. — Não quero que me odeie Amélie. Não quero passar o resto da vida ao lado de uma mulher que não suporta olhar na minha cara. — Então por que aceitou a proposta do meu pai? — Por você. — a resposta surpreendeu. — Não sei se percebeu, mas você é uma mulher linda, inteligente e influente. Não acredito em amor, então só precisava de alguém boa o suficiente que aceitasse o casamento. Tive sorte por encontrar um Pellegrini querendo casar a filha antes de morrer. Ódio, era tudo que eu sentia. — Então se isso é apenas negócio para você, por que falou de filhos e família?. — perguntei com a voz mais grave devido o ódio entalado na garganta. Ele sorriu com a pergunta. — Porque é óbvio que vou querer desfrutar dos benefícios do casamento. — ele se aproximou mais e dei uma passo para trás. — Seria um desperdício tratar apenas como negócios. Estávamos muito próximos, Ettore colocou a mão no meu rosto num movimento delicado. Senti meu corpo estremecer ao toque dele, por alguma razão, me senti atraída por ele e não me afastei, mas logo reprimi o sentimento e desviei o olhar. Ettore se afastou e nós dois voltamos para o interior da mansão e encontramos nossos pais na sala de estar, conversando amigavelmente. — Ah, Amélie, estava pensando em dar uma festa amanhã a noite, para comemorarmos o noivado de vocês! Apenas um coquetel na pousada em que estamos hospedados. — Claro, será ótimo. — respondi sem pensar muito, só conseguia pensar nas palavras de Ettore, ele está fazendo isso por benefício próprio e talvez eu devesse pensar dessa maneira também.