O último dia de julho amanheceu sob uma chuva mansa, que batia nas janelas com a cadência monótona de um lamento antigo. Emilia despertou muito antes do sol nascer, os olhos vazios fixos no teto envelhecido, de pintura descascada e amarelada. Não sabia ao certo se o som contra o vidro vinha da água ou se ainda era o eco de um pesadelo que a arrancara do sono.
Não lembrava dos detalhes — e talvez nem importasse. Seus sonhos, bons ou ruins, sempre orbitavam ao redor de Ana. O que tornava o pesadelo daquela noite tão perturbador era vê-la se esvanecer dentro da própria memória: não mais a irmãzinha cheia de vida, rindo com as bochechas coradas pelo vinho e pela liberdade recém-descoberta dos seus vinte e um anos, mas sim um espectro acinzentado, frio, que a fitava de algum lugar sombrio. Chamava por seu nome, embora Emilia não conseguisse ouvir-lhe a voz.
Ficou ali, imóvel, encarando o teto. Não acendeu a luz — não havia necessidade. Por mais que estivesse cercada de claridade, por dentr