O apartamento de Emilia, no Rosewood District, estava banhado pela luz tênue dos postes da rua, que se infiltrava pelas frestas das persianas. Era uma noite tranquila e um pouco fria de meados de outubro, mas a tensão no ar tornava cada canto do lugar menor, mais sufocante.
Sentada à mesa, com uma xícara de chá fria entre as mãos e o olhar perdido nas sombras que dançavam na parede, Emilia refletia sobre as palavras que sua terapeuta lhe dissera naquela tarde.
Duas semanas haviam se passado desde a gala desastrosa. Depois de prestar depoimento, confirmar que Dimitri enfrentaria uma longa condenação por múltiplos crimes e renunciar ao emprego, ela se trancou em casa por três noites, ignorando o mundo que continuava girando do outro lado da porta. Foi só na manhã do quarto dia que decidiu sair da cama —mais por exaustão do que por vontade—, quando o som insistente da campainha se tornou uma tortura.
—O que você está fazendo aqui? —perguntou, ao abrir a porta e ver Clara do outro lado, c